Depois do episódio dos Doze da rua Velha, a três meses das prisões, as reuniões são retomadas numa casa no bairro de Dois Irmãos. Armas e munições são estocadas. A desistência se dá por conta da prisão de um dos conspiradores. Cleto Campelo, servindo no 21º Batalhão de Caçadores, em vez de combater os tenentes na conjura contra o governo de Artur Bernardes, a eles adere. Viera de São Paulo, e em Recife entra na clandestinidade. A rebelião está agendada para 9 de fevereiro de 1926. O comando da 7ª Região Militar, legalista, é alertado. Militares e civis são presos; inclusive Cristiano Cordeiro e Sílvio Cravo. Cravo fora um dos chefes dos Doze.

Cleto Campelo não é achado pela polícia. Na chefia de treze camaradas, incluindo membros do Partido Comunista, segue para Jaboatão. Assume o controle da estação ferroviária da Great Western e da cadeia pública. Beneficia-se com a adesão de mais 100 homens, e reforça o poder de fogo com as armas tomadas da cadeia. De trem, vão para Triunfo com o propósito de se juntar à Coluna Prestes. Param em Moreno, Tapera, Vitória de Santo Antão, Francisco Glicério e Russinha. Em Gravatá, no confronto com militares da Força Pública, na cadeia local, Cleto é morto por uma bala de fuzil; a bala transpassara o coração e o pulmão.

A maioria deserta. Dos efetivos, trinta permanecem sob o comando do sargento Waldemar de Paula Lima. Têm em mira a Coluna, mas num povoado de nome Topadas, cercanias de Limoeiro, são atacados por capangas do coronel Limoeiro. O sargento agoniza com vinte e cinco facadas, e a cabeça é decepada. A Coluna, fustigada pela jagunçada de coronéis, retira-se para a Bahia.

Em que pese a aproximação com tenentistas, os comunistas não tinham a unanimidade da direção nacional do Partido. Rodolfo Coutinho, então estudante de direito com invejável currículo, importa da França e da Alemanha livros de Marx, de Engels. Em 1919 funda o Centro de Estudos Marxistas. A ele se junta José Cordeiro, irmão de Cristiano Cordeiro. Clóvis Melo, historiador, dá conta do tom acadêmico das discussões sobre economia política, literatura, arte e religião. Cristiano defende a criação de um organismo político, de cunho proletário. A exemplo da União Maximalista, fundada no mesmo ano em Porto Alegre, em Recife é criada sua congênere. Os gaúchos, dois anos depois, transformam-na em Grupo Comunista de Porto Alegre.

O Centro Comunista funciona no número 914 da rua da Concórdia, centro. Integram-no o padeiro José Caetano Machado, o carvoeiro José Francisco de Oliveira, o pedreiro José Amaro, o estivador Pedro Lira, alcunhado Dinamiteiro, e o farmacêutico Pedro Coutinho. Em seguida, o comerciário José Bezerra, o tipógrafo Medeiros e Manoel Vitorino de Barros, de profissão desconhecida. A ata é assinada por 35 comunistas.

Cristiano Cordeiro é enviado delegado ao congresso de fundação do Partido Comunista do Brasil. A reunião é convocada pelo jornalista Astrogildo Pereira, editor do jornal Spartacus, no Rio de Janeiro. Entre os nove fundadores do Partido, há outro pernambucano que se radicara no sul, o marítimo José Elias. Em Recife, Cordeiro cria o primeiro Comitê Estadual. No fim de 1922, os comunistas têm 100 militantes no estado, organizados em seis células.

No governo de Sérgio Loreto, os sindicatos são fechados, as greves são proibidas e líderes são deportados para Fernando de Noronha. As mortes ocorrem sob o comando do major João Nunes. O Partido torna-se clandestino. O que não impede de Cristiano Cordeiro ser eleito delegado ao II Congresso do Partido. Cordeiro não viaja; em seu lugar vai o escritor Souza Barros, editor da revista Maracajá.

Em 1925 o estudante de medicina, Leôncio Basbaum, funda a Juventude Comunista. Os comunistas atuam na União Geral dos Trabalhadores de Pernambuco. A polícia não conseguira pôr fim à União. Souza Barros é preso porque escrevera artigo no jornal A Classe Operária – Situação da Classe Trabalhadora em Pernambuco – expondo a miséria e exploração impostas pelos patrões. No campo, a jornada de trabalho é de 12 a 14 horas diárias. Barros amarga 44 dias na Casa de Detenção.

Os operários do Moinho Recife entram em greve em 1928. Camponeses de Serra Talhada se rebelam. No ano seguinte, há o I Congresso Regional Operário. A República Velha agoniza. Em greve, surgem batalhões operários; é a Linha Azul, composta por transviários da Companhia Pernambuco Tramways. Pedreiros, padeiros e trabalhadores da limpeza pública concorrem para afundar a carcomida República. O que é reconhecido pelo major João Nunes.

Fonte: Portal Vermelho