Preservar a memória da juventude: Um desafio militante
A juventude brasileira é um agente de grande força, atuante em nossa história dentro de diversos ramos da sociedade, tendo acumulado ao longo do tempo uma importante e valiosa carga de memória. A juventude mostrou-se capaz de ter cara própria nas suas ações, conquistando um crescente espaço na vida política, pautando e formulando ideias e opiniões que são debatidas em vários âmbitos da sociedade.
A busca por uma identidade é uma das atividades mais importantes da sociedade atual, e a memória, individual ou coletiva, é parte dessa procura. Por isso, o resgate da história juvenil deve ser um debate constante não somente entre a juventude, mas também ser presente nos estudos acadêmicos.
Sobre esse último elemento, aconteceram nas últimas décadas grandes avanços, o estudo sobre a juventude deixou de ter um recorte somente etário surgindo várias abordagens da inserção política e cultural dos jovens, em um recorte objetivo onde o papel social do indivíduo ou do grupo tem maior valor de análise, criando as oportunidades necessárias para se conhecer e reconhecer a trajetória da luta dos jovens.
Mas ainda temos muitos desafios pela frente, em especial, a urgência em multiplicar os “militantes da memória”. Pessoas que se interessam pelo tema e que consideram a juventude como fonte histórica e como fenômeno histórico. Mas, militar pelo resgate e preservação da história da juventude é tarefa não só dos pesquisadores. Sem a colaboração direta dos ativistas de ontem e de hoje essa missão não será cumprida a contento.
Na verdade, essa tarefa começa a ser realizada em parte quando os militantes das diversas organizações juvenis percebem os acontecimentos e atividades atuais, como relevantes para o seu grupo e/ou organização, fazendo todo o possível para resgatar e preservar a memória dessas atividades.
Com base neste entendimento, acreditamos que é de extrema importância uma entidade como o Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ), que tem como uma das suas principais funções o desafio exposto acima. No CEMJ integramos pesquisadores dispostos a trabalhar o tema da juventude de forma abrangente, dedicando a importância que lhe cabe, atuando principalmente no registro da participação da juventude brasileira e na produção de estudos e pesquisas, buscando subsidiar tanto os movimentos juvenis quanto os gestores públicos.
O CEMJ é uma organização que se preocupa com a escassez de registros e informações sobre a memória da participação social, política e cultural da juventude brasileira. É para ajudar a suprir essa lacuna que mantemos há anos em nossa sede o Centro da Documentação da Juventude (CEDOJ), que contém documentos como jornais, fotografias, vídeos, panfletos, relatórios, cartazes, revistas e demais materiais de eventos, congressos e encontros que aglutinaram a juventude brasileira. Este espaço está aberto ao público em geral para realização de pesquisas. Temos a consciência de que não há no Brasil instituição que reúna toda essa variedade de documentação sobre essa temática, pois mesmo os Arquivos Públicos não fazem essa classificação em seus acervos.
De acordo com suas finalidades, o CEMJ quer incentivar a militância na área de memória dando destaque para duas iniciativas. A primeira diz respeito à documentação, e é por isso que estamos recolhendo por todo o Brasil materiais relativos à participação social, cultural e política dos jovens. O CEMJ possui, para isso, o portal Juventude + Brasil, uma plataforma on-line e colaborativa, constituída do acervo documental do CEDOJ, mas que principalmente conta com todos que queiram participar, publicando suas memórias e as da entidade a que pertence, não deixando esse material ficar disperso ou se perder com a ação do tempo. O militante da memória pode, portanto, doar os originais para o CEDOJ ou simplesmente disponibiliza-los no site. O arquivamento e catalogação são essenciais como matéria prima da construção da memória, e certamente essas publicações, documentos e arquivos audiovisuais de temática juvenil, serão relevantes para a história do país e servirão de fonte para desenvolver pesquisas, pois todo o conteúdo fica ao acesso de todos.
A segunda iniciativa é um Grupo de Estudo da Memória Juvenil, concebido para ser um espaço de encontro e intercâmbio entre pesquisadores, militantes de organizações juvenis e instituições que promovam a pesquisa e estudo o dessa temática. O trabalho de sistematização do assunto é imprescindível para gerar informações desse segmento da sociedade, de forma que possamos melhor conhecer seu perfil, suas opiniões, seus anseios e perspectivas. Esse esforço dá suporte ao objetivo de aumentar a quantidade e o alcance dos estudos realizados até o momento, fornecendo bases para a formulação de mais e melhores políticas para a juventude.
A construção do CEMJ merece atenção e carinho por parte daqueles que enxergam a importância do tema. O convite está aberto a todos que queiram contribuir para o resgate e a preservação da história da juventude.
CEMJ – Centro de Estudos e Memória da Juventude
Telefone: (11) 3171-1422 e-mail: memó[email protected]
Rua Treze de Maio, nº 1016. Cj.02. Bela Vista, São Paulo, SP.
Raisa Marques foi militante do movimento estudantil secundarista, presidente da UMES de Campo Mourão/PR e diretora executiva da UBES por duas gestões. É autora do livro UMES 35 anos (2004) e UBES Uma Rebeldia Conseqüente – A História do movimento estudantil secundarista do Brasil (2009). Atualmente, é graduanda em História e atua em pesquisas sobre movimento estudantil secundarista através do Programa Institucional de Pesquisa da Uninove e Diretora de Memória do CEMJ.