Dias atrás, Sebastião Nery resenhou o livro A Mentirosa Urna (Editora Martins Fontes, 2004), do professor de Direito Constitucional da Universidade de Brasília, Walter Costa Porto, pernambucano e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. “Em duas obras magistrais anteriores, O Voto no Brasil e Dicionário do Voto (Editora UnB), ele já havia mostrado porque é a maior autoridade brasileira em eleição e voto. Agora, mais esta. Brilhantemente escrito e fartamente documentado, é impossível sintetizá-lo em uma crônica de jornal”, rende-se o jornalista. Nery relata dois episódios narrados no livro que creio serem interessantes para os que buscam conhecer a história das lutas que a direita promove contra a esquerda no Brasil. Reproduzo:

“Em Pernambuco, em 1954, uma edição do jornal comunista Folha do Povo foi falsificada. Para o governo do Estado, o chefe do Executivo, Etelvino Lins, lançara a candidatura do general gaúcho Cordeiro de Farias. Velho pessedista, Etelvino havia conseguido o apoio a Cordeiro do udenista João Cleofas, senador e ministro da Agricultura do governo Vargas. Cleofas rompeu o acordo e lançou-se também candidato, reeditando, mais uma vez, o choque entre pessedistas e udenistas.

Como conta Luiz do Nascimento, no primeiro trimestre de 1954 a Folha começara a combater o esquema Etelvino Lins e a candidatura Cordeiro de Farias. Nos meses seguintes, deu ênfase à campanha em favor dos candidatos de Prestes a deputados. Na edição de 18 de setembro vinha, em letras garrafais, o título: ― Aliança patriótica para eleger João Cleofas. E, em outras edições, páginas inteiras de propaganda dos candidatos comunistas inscritos em diversos partidos.

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PRESTES

Mas, no dia da eleição, circulou uma Folha do Povo falsificada, em formato menor que o habitual, com um desenho na primeira página, repetido na terceira, de Prestes em corpo inteiro e com uma manchete recomendando: ― Prestes dirige-se aos trabalhadores: para Governador de Pernambuco vote em branco. Para deputados, escolham nossos candidatos.

Cinquenta mil exemplares haviam sido distribuídos gratuitamente na capital e no interior do Estado, logo ao nascer do dia, para dar a entender aos eleitores comunistas e simpatizantes que Prestes retirara o apoio a Cleofas, seu candidato até a véspera do pleito. Como se processara a falsificação? O fornecimento de energia fora cortado na área da oficina gráfica do jornal, das 19 horas do dia 2 às 7 horas da manhã seguinte, e das oficinas da empresa J. Néri da Fonseca saíra a falsa edição.”

Outra passagem da resenha de Nery, citando o livro:

“Em 7 de janeiro de 1949, o projeto (de cassação dos mandatos de Prestes e dos deputados comunistas) era aprovado pela Câmara. Do clima de histeria em que se desenvolveu a votação o relato de Afonso Arinos dá a mostra, ao lembrar um dos parlamentares que apoiaram o projeto de cassação, Juracy Magalhães. Então senador (sic) pela Bahia, sentado no meio do recinto, entre um grupo decidido de correligionários, levantou-se e gritou para a bancada comunista, do outro lado:

―Hoje não vim trocar votos, vim trocar balas”.

O “sic” na crônica é explicado adiante pelo jornalista: Juracy Magalhães era, na época, deputado federal, e não senador como erroneamente registra o livro.

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Fonte: Portal Vermelho