Em qualquer ação política, se não avaliamos corretamente a correlação de forças estabelecida em torno do assunto alvo dessa ação, fracassamos. Exceto se não temos qualquer objetivo além de marcar posição – o que é sempre legítimo, ainda que não necessariamente adequado. Sobretudo, devemos levar em conta que, desde o final do século 14, sabemos que se navegamos em linha reta para a esquerda, acabamos sempre atracando a nossa nau na direita.

Não podemos esquecer também, a máxima do início do século 20, segundo a qual, o imediatismo – ou seja, obter pequenas vitórias imediatas sacrificando os nossos objetivos maiores no médio e longo prazos – sempre foi, é e será oportunismo.

É no processo de avaliação que identificamos o nosso inimigo principal, adversários e nossos amigos/aliados.

Estamos convencidos de que a presidenta Dilma Rousseff e sua ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário – como o foi e continua a ser o ex-ministro Paulo Vannuchi, não são apenas nossos aliados, mas os mais fortes aliados de que dispomos para este assunto.

Se esses dirigentes do Governo, que lá estão pela força e representatividade de que desfrutam, não conseguiram avançar uma Comissão da Verdade que inclua também, as questões da Reparação e da Justiça (esta última particularmente cara a todos que lutamos pela consolidação e aprofundamento da democracia em nosso país), que estratégia devemos estabelecer, no sentido de conquistar o que a Comissão, já aprovada pela Câmara e à espera de sua votação no Senado, ainda não incorpora?

Nosso primeiro passo deve ser o de não nos isolarmos dos nossos amigos e aliados, seja com declarações regadas a bílis, ou gestos e iniciativas de antemão fadadas ao insucesso, como projetos de lei sem qualquer chance de aprovação, ou manifestações de umas poucas dezenas de militantes.

Essas iniciativas, que sempre respeitamos, são em geral objeto de escárnio por parte dos nossos inimigos e seus porta-vozes – a grande mídia comercial. E se não o fazem neste momento, é sinal de que há algum interesse por parte dos nossos algozes de sempre, de que alguns dos nossos companheiros prossigam nesse caminho.

Por fim, e antes de tudo, não devemos esquecer que, ainda que limitada, essa Comissão da Verdade é uma vitória de todos nós.

(*) Alipio Freire, jornalista e escritor, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato e da Editora Expressão Popular.