D. Paulo é motivo de orgulho para todos os brasileiros, por sua dedicação integral ao próximo, ao menos favorecido. A atuação pastoral de Dom Paulo foi, desde sempre, voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros, principalmente os mais pobres, e à defesa e promoção dos direitos humanos. Teve uma forte atuação durante o período de ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, lutando contra a tortura e maus-tratos de presos políticos.

Desde o golpe militar, em 1964, corriam boatos de tortura em prisões e aparelhos paramilitares. Só que ninguém conseguia provar nada. Quando tornou-se bispo de São Paulo, Paulo Evaristo passou a ser o porta-voz, o defensor dos torturados. Não tinha medo: ia aos porões onde homens e mulheres, grande parte deles jovens, eram perseguidos porque queriam um país mais justo. Peitudo como ele só, botava o dedo no nariz de delegados, generais e ministros. Fazia até o impossível para libertar presos políticos.

O cardeal Arns conta que, pelo menos durante sete anos, não passou uma noite sequer sem que alguém o procurasse. Era uma mãe querendo notícias de seu filho, um pai que tinha procurado em todas as prisões e só ouvia não como resposta, jornalistas, advogados, operários, estudantes perseguidos. Era tanta violência que ele assumiu, no final da década de 70, o audacioso projeto “Tortura Nunca Mais”, uma investigação minuciosa nos arquivos militares que comprovaram a tortura entre 1964 e 1978. O livro, com o mesmo nome, foi um sucesso de vendas.

Por causa de sua coragem em denunciar, Paulo Evaristo foi muito perseguido. Pelas costas era chamado de “bispo vermelho”, de “subversivo”. Em 1973, por apoiar as mulheres que reclamavam da carestia, recebeu um “castigo” duro: os militares cassaram a rádio 9 de Julho, da Arquidiocese (que foi devolvida, neste ano, no meio de muita festa). Foi ele quem criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, que por muito tempo teve os telefones grampeados. Até mesmo do Vaticano veio um puxão de orelhas.

Em 1975, o corajoso ato de Dom Paulo Evaristo Arns, de celebrar uma missa de sétimo dia ecumênica – junto a um rabino e um pastor protestante – na Catedral da Sé, em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado por seus torturadores, tornou-se um marco na luta  pela democracia no país.

O cardeal intercedeu no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976, quando parte da direção central do PCdoB foi atingida pela repressão matando três integrantes: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond.

O objetivo da ditadura era dar fim ao núcleo dirigente do partido, que conseguia sobreviver minimamente e comandou a maior resistência armada ao regime: a Guerrilha do Araguaia. Por conta de um delator, Jover Telles,  localizaram o grupo que se reunia na Rua Pio XI, na Lapa. A atuação de Dom Paulo pela defesa dos direitos dos presos políticos e a pressão que exercia no regime militar evitou que outros militantes fossem mortos.
 

Para quem não o conhece, vai aí um “retrato falado” do cardeal Arns: ele é baixo, rosto redondo, olhos castanhos. Está sempre rindo. Tem a voz mansa, mansa, que de uma hora pra outra fica tão potente, grossa, que até assusta quem desrespeita os direitos humanos. Vive apressado, mas sempre arruma um jeitinho de dar um beijo em uma criança, uma bênção, uma palavra amiga para quem está do lado. Quando fala, o que mais se ouve são as palavras paz, justiça e amor

Dom Paulo Evaristo Arns recebeu mais de 60 títulos, prêmios e diplomas de doutor honoris causa em vários lugares do mundo. Em 1982, foi o único religioso em todo o planeta eleito para a Comissão Internacional Independente para Questões Humanitárias, da ONU. E o primeiro brasileiro indicado para ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 1989. Perdeu para o Dalai Lama. Está ‘aposentado’ da arquidiocese de São Paulo desde 1996, mas continua atendendo a todos que o procuram.