Há uma generalizada expectativa no país – na sociedade, entre as organizações de defesa dos direitos humanos e na cidadania, enfim – quanto a instalação da nossa Comissão da Verdade, aprovada pelo Congresso Nacional no final do ano passado.

Neste momento em que o governo na certa já se debruça sobre a escolha dos nomes dos sete membros que constituirão a comissão, é importante e necessário tomar muito cuidado para não perder o foco e decidir, também, sobre os primeiros casos de tortura, assassinatos e desaparecimentos políticos que iniciarão os trabalhos.

A morte dos ex-presidentes João Goulart, o Jango – objeto já de investigações em instâncias judiciais, conforme reportagem de O Globo no fim de semana (ontem) – e Juscelino Kubitschek, ambos falecidos no 2º semestre de 1976, o episódio do Riocentro (uma bomba que matou um sargento e dilacerou um oficial do Exército, num show do 1º de maio) e muitos casos de desaparecidos podem se constituir num roteiro inicial para as apurações.

Um ou mais destes casos é importante para iniciar os trabalhos. Fundamental, insisto, é que a comissão não perca o foco para o qual foi criada – a investigação que aponte os responsáveis pelas violações de direitos humanos de 1946 a 1988.

Ela estará cumprindo o seu papel, desde que o episódio ou episódios escolhidos joguem uma luz sobre o aparelho de repressão e inteligência, sobre a Operação Condor, a parceria entre ditaduras do Cone Sul, que assassinou, dentre outros, o ex-presidente da Bolívia, Juan José Torres  e o ex-chefe do Exército chileno, general Carlos Pratts.

Fonte: Correio do Brasil