Dentro das comemorações dos 140 anos da Comuna de Paris, ocorridos no ano passado, a editora Anita Garibaldi e a Fundação Maurício Grabois, em parceria com a Editora da PUC-Goiás, lançaram uma segunda edição do livro “Comuna de Paris: o proletariado toma o céu de assalto”, escrito pelo professor Silvio Costa.

Segundo o autor, o livro tem como objetivo contextualizar a primeira tentativa proletária de organização de um novo tipo de poder político.

Por isso, ele foi dividido em duas grandes partes. Na primeira, procura caracterizar, em linhas gerais, o II Império Napoleônico forma assumida pela contrarrevolução aristocrático- burguesa frente ao surgimento do proletariado como força política independente . Na segunda, aborda o surgimento das condições mais imediatas que levaram à instauração do poder proletário em Paris.

Para Silvio Costa, “estudar e conhecer com maior profundidade as experiências revolucionárias que marcam o processo de emancipação do proletariado e dos povos explorados e oprimidos assume grande atualidade e urgência e, afinal de contas, a Comuna foi a primeira experiência de governo proletário da história da humanidade.

As virtudes e vicissitudes daquela rica experiência só podem ser plenamente entendidas a partir das modificações econômicas, sociais, políticas, culturais, que contribuíram para o aprofundamento das contradições inerentes ao próprio desenvolvimento das sociedades capitalista. Quando parcela significativa da população entende que não é mais possível continuar vivendo sob a égide de uma ordem fundamentada na exploração e opressão”.

E conclui: “Nesse sentido, apesar das vicissitudes e dificuldades existentes, podemos afirmar que, a cada dia, apresenta-se no horizonte da humanidade, as possibilidades de conquista de um futuro socialista. O estudo da comuna e de outras experiências de poder popular podem no ajudar a trilhar este caminho com menos percalços”.

Vejam abaixo a apresentação feita pela professora da PUC-SP e coordenadora da Contee, Madalena Guasco Peixoto.

IMPORTANTE REFLEXÃO HISTÓRICA

Por Madalena Guasco Peixoto (*)

Na história da humanidade os acontecimentos se acumulam aos trilhões. Alguns se destacam, outros desaparecem em meio às inúmeras casualidades, próprias da maneira pela qual a história humana é tecida.

Compreender a importância de determinados fatos em relação aos demais — guardadas as necessárias correlações, quais sejam: retirar do particular o específico, buscando ultrapassar os limites estreitos do pontual, do cotidiano desprovido de lógica —, é tarefa científica, porque demanda o entendimento da história enquanto processo, conectada, não como uma sucessão de flashes, isolados; exige um mergulho no passado — por intermédio de uma análise —, de maneira a permitir que sejam destacados — entre tantos —, os fatos mais relevantes, os quais representam marcos que suscitam reflexões passíveis de atualização, todas as oportunidades que nos debruçamos sobre eles para estudo.

O interesse que move esse mergulho não é apenas teórico-abstrato mas é, sobretudo, ideológico, político e prático. Se o estudo histórico já tivesse sido entendido dessa maneira, a modernidade teria deixado um grande legado, não fossem tantos outros, os quais em nome do fim dessa modernidade e início de uma nova era — pós-moderna —, se reduzem metafisicamente aos dois extremos opostos, ou seja, simplificam o que é processo vulgarizando o estudo da história; pela negação da possibilidade do entendimento das relações e conecções de sua emaranhada teia.

Essa, portanto, tem sido a faceta mais sofisticada e sutil da proclamação do “fim da história”. Optar pelo estudo da história como ciência traduz-se numa escolha teórico- prática dentro da intrincada luta de ideias que ocorrida desde o final do século 20.

A Comuna de Paris é um estrondoso fato histórico, um enorme iceberg impresso na história da humanidade de forma definitiva, porque suscitou todos os tipos de registro e, desde aquela época, vem sendo estudado.

O próprio Karl Marx destacou a sua importância, retirando do que chamou “assalto aos céus” conclusões fundamentais, as quais vieram a compor-se como núcleo principal de sua teoria. No ano em que comemoramos 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, a Comuna de Paris completa 127. E, a obra de Sílvio Costa nos ajuda a entender melhor a correlação entre estes dois relevantes acontecimentos.

Do Manifesto do Partido Comunista — programa maior, de luta pelo socialismo —, a construção em processo da teoria do proletariado decorre da análise das experiências históricas da tomada do poder pela classe operária.

O estudo da primeira revolução operária internacional, a Comuna de Paris, tem sempre relevância teórica. As reflexões que nascem desse estudo vão surgindo por meio da fácil leitura desta obra, Comuna de Paris: o proletariado toma o céu de assalto, dada a maneira didática como está construído o texto.

O trabalho de Sílvio Costa situa o leitor levando-o a entender o panorama histórico e os importantes fatos nele contidos e a correlação existente entre os acontecimentos, possibilitando ao leitor tirar as conclusões de tais ocorrências. Essa é uma preocupação que esta contida no corpo desta obra. Contudo, ela se expressa mais fortemente nos Anexos, apresentados em destaque ao final de sua edição.

A presente obra está marcada pelo empenho simultâneo de formar, informar e refletir. Trata-se de um cuidadoso projeto, o qual, ao ser publicado, traz em si a marca de um formador de opiniões, cujo estudo possui um objetivo prático: reflexão conjunta e crescimento mútuo.

(*) Madalena Guasco Peixoto é professora na PUC-SP e Coordenadora da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE).