Lá pelas tantas, ele indaga, sobre a presidente Dilma Rousseff:

“Ela era da VAR-Palmares. E a VAR-Palmares foi a que lançou o carro-bomba que matou o soldado Mario Kozel Filho. Ela era da parte de apoio. Será que ela participou do apoio a essa operação? A comissão da Verdade não vai chamá-la, por quê?”

Respondo eu: porque a VAR-Palmares nada teve a ver com tal ação, uma vez que… nem sequer existia em julho de 1968.

Quem soltou um carro-bomba ladeira abaixo na direção do QG do Exército, sem nem de longe imaginar que um sentinela pudesse abandonar o posto e aproximar-se do suspeitíssimo veículo sem motorista, foi a VPR — a qual considerou depois um grave erro ter respondido desta forma à bazófia do comandante do II Exército que, pela imprensa, desafiou os “terroristas” a virem enfrentá-lo “como homens” no seu quartel.

Naquele ano Dilma militava no Colina, que não atuava em São Paulo nem mantinha qualquer esquema de cooperação com a VPR.

Foi só no Congresso de Mongaguá, em abril de 1969, que a VPR decidiu manter entendimentos com o Colina e com a ALN, visando a uma possível somatória de forças.

Como sei? Simples: estava lá. Participei como convidado, representando meu grupo de secundaristas que, no final do congresso, foi oficialmente admitido na VPR.

As negociações com a ALN não frutificaram, mas a fusão com o Colina acabou acontecendo, em junho de 1969. Foi quando nasceu a VAR-Palmares.

Ou seja, o generalão insubordinado pretende que uma presidente da República seja convocada para depor sobre algo do qual só tomou conhecimento por ter lido e ouvido falar. Brilhante!

De quebra, o general perguntou à entrevistadora se ela estava certa de que Dilma havia sido torturada:

“Ela diz que foi submetida a torturas. A senhora tem certeza?”

Respondo eu, de novo: como a tortura era generalizada, atingindo dirigentes, militantes, aliados e até simpatizantes (o número de torturados ultrapassou 20 mil), a única hipótese de uma comandante deixar de sofrer os piores suplícios seria ela ter colaborado com o inimigo.

Mas, disto os verdugos jamais ousaram acusar Dilma. Até a ignomínia tem limite. Então, não faz sentido nenhum Rocha Paiva colocar em dúvida suas afirmações.

Os mentirosos são os de sempre, aqueles que esperneiam contra a Comissão da Verdade por saberem que sairão muito mal na foto.

Quem disse que Herzog foi morto pelos agentes do estado? Todos, inclusive a Justiça…

Rocha Paiva questionou também a convicção nacional de que o jornalista Vladimir Herzog morreu sob torturas (“E quem disse que ele foi morto pelos agentes do Estado? Nisso há controvérsias. Ninguém pode afirmar”).

A esta infâmia quem responde é o Instituto Vladimir Herzog:

“Como se alguém que se apresentara para depor não estivesse sob a guarda e a responsabilidade do Estado e de seus agentes. Como se assegurar a integridade física e a própria vida de um depoente, qualquer depoente, não fosse obrigação oficial fundamental do Estado e de seus agentes, a quem ele se apresentara. Como se a Justiça do Brasil já não houvesse reconhecido oficialmente, há 33 anos, em decorrência de processo movido pela viúva Clarice Herzog e seus filhos, que Vladimir Herzog foi preso, torturado e assassinado nos porões da ditadura, por agentes do Estado.

Além de tudo isso, posteriormente, em julgamento proferido no âmbito da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140/96, o próprio Estado brasileiro ratificou o reconhecimento dessa prisão ilegal, tortura e morte”.

* Celso Lungaretti é jornalista e escritor, no blogue Náufrago da Utopia

Fonte: Portal Vermelho