A efeméride dos 80 anos, assim, nada tinha de um marco democrático na luta contra uma “ditadura”. Foi sim um artificialismo político das classes dominantes paulistas e sua essência foi a tentativa de volta ao poder, perdido em 1930.

As greves citadas acima tinham liderança política de uma oposição de esquerda ao governo de Vargas, especialmente no caso do PCB, que na época se orientava pela tática de “classe contra classe”, oriunda das teses “obreiristas” da III Internacional Comunista e de VI Congresso.

As classes dominantes de São Paulo, que não estavam nem de bobeira e nem de brincadeira em sua luta, aprofundavam sua tática para derrubar Getúlio, não deixando de dar evidência aos movimentos paredistas em seus órgãos de imprensa, especialmente O Estado de São Paulo.

Assim, aprofundava suas manifestações públicas contra Vargas, centrando seu ataque, no primeiro semestre de 1932, a interventoria estadual de João Alberto, pois desde outubro de 1930, também não admitia que o governo estadual não estivesse em suas mãos.

Na capital paulista, em 22 de maio, após um comício pró-constituinte, na Praça do Patriarca, no centro da cidade, os integrantes dirigiram-se para a Praça Tiradentes, em frente ao quartel do 1° Batalhão de Polícia e, depois, para o Quartel General da Força Pública do estado, fazendo pequenas manifestações.

Na frente do Quartel General, os manifestantes organizaram uma comissão para negociar com a oficialidade. No momento em que um orador, da rua, expunha as aspirações gerais do movimento, iniciou-se um tiroteio violento, com a chegada da cavalaria da polícia, que dispersou a multidão a golpes de espada e a tiros. No salão em que era recebida, a comissão protestou contra a violência e a forma traiçoeira com que a manifestação pacífica foi tratada.

No dia seguinte, aconteceu o simbólico conflito na Praça da República, resultando em vários mortos, entre eles os estudantes: Martins, Miraguaia, Dráusio e Camargo.[1]

No dia 24, durante a visita de Osvaldo Aranha, que fora tentar mediar os conflitos decorrentes da violência na capital paulista e do empastelamento dos jornais Correio da Tarde e A Razão, a polícia de João Alberto lançou nota pública, reconhecendo o caráter político das manifestações paulistas e afirmando que a polícia civil de São Paulo sentiu-se impossibilitada de conter as manifestações na cidade, devido às sérias proporções que o movimento havia tomado.

Diante disso, a vigilância e o policiamento de São Paulo passaram a ser dirigidos pelas tropas federais. Ao mesmo tempo, justificava que as tropas da polícia e do Exército só começaram a agir, depois que a polícia civil declarou-se impotente para conter as manifestações em frente ao Clube 3 de Outubro, na capital paulista, e em outros lugares da cidade.

Nos dias anteriores, no Rio de Janeiro, já havia sido proibido qualquer manifestação da imprensa sobre o que vinha ocorrendo em São Paulo.[2]

No mesmo dia 24, o coronel Juvenal Santos, interino da Força Pública do estado, justificou a violência de sua cavalaria. Segundo ele, o ataque cavalariano à população ocorrera só depois que ela foi agredida, pois perrepistas teriam atirado de revólver contra os soldados.

No entanto, no mesmo dia, parte da imprensa paulista negava a nota da Força Pública, acusando-a de ter espaldeirado várias pessoas e ter feitos várias descargas contra a população. No dia anterior, em Porto Alegre, Baptista Luzardo recebera um telegrama de Júlio Mesquita Filho, sobre os acontecimentos de São Paulo, afirmando que na capital aconteciam tiroteios por todos os lados.[3]

Como tentativa de desestimular a defesa da Constituinte e a ampliação das greves, o governo federal mandou preparar os processos da Comissão de Correição (o antigo Tribunal Especial criado em 1930), naquele momento esquecido por quase todos.[4]

Ao mesmo tempo, a censura, ao menos na capital federal, voltou a ser feita diretamente pela polícia, que proibia notícias sobre os acontecimentos de São Paulo, principalmente em torno de secretariado do governo estadual.[5] Outras medidas do governo acompanhavam aquelas como a continuação da deportação de estrangeiros.

Enquanto agravava-se a situação entre São Paulo e o governo federal, o interventor do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, após várias reuniões com os líderes de Partido Libertador (PL) e do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), disse em discurso no Palácio do Governo que era pela ordem e pela paz, prometendo que “se o Rio Grande erradamente se encaminhar para o despenhadeiro”, iria “para o despenhadeiro com o Rio Grande”.[6] Sem dizer claramente a Flores da Cunha, os líderes conservadores gaúchos se inclinavam a apoiar os paulistas e tentavam levá-lo para esta posição.

No Rio de Janeiro, a polícia aumentava a vigilância e a repressão. Em 27 de maio, sob o comando de Dulcídio Espírito Santo Cardoso, vários líderes do governo Washington Luiz voltaram a ser presos, A acusação da polícia era de que os presos considerados políticos, vinham trabalhando na articulação de conjura, aproveitando-se o momento propício de São Paulo, espalhando “boatos e descrédito à ordem pública”.

Em 31 de maio, o Centro dos Operários da Light, enviou um telegrama para Getúlio Vargas, assinado pelo seu presidente Edison G. Dias, o qual dizia representar oito mil e quinhentos associados, afirmando que: (…)

A atitude enérgica e patriótica do governo, certamente receberá pleno apoio de todo o proletariado brasileiro, ansioso de ver consolidada a obra revolucionária, com o afastamento de nosso convívio desses elementos de desordem, que, aliado ao imperialismo, é o obstáculo máximo a solução da magna questão social brasileira. (…).[7]

Em São Paulo, no início de junho, assumiu a Chefia de Polícia Tyrso Martins[8], que desenvolveu uma política enérgica de vigilância para reprimir atividades suspeitas de certos políticos, os quais reuniam-se secretamente.

Com o caso dos políticos presos no “Pedro I” e as críticas recebidas, João Alberto começou a perder força política para manter-se no cargo de chefe de polícia do Distrito Federal. Tanto que, em 22 de junho, já se falava abertamente em sua substituição pelos desembargadores Cezar Pereira e Armando Alencar.[9]

Com o início do Movimento de São Paulo, entretanto, houve um novo fortalecimento das posições de João Alberto. Assim, mesmo tendo ido lutar no front, organizando as frentes de Cunha e Parati, enquanto passou o cargo interinamente para o capitão Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, logo após o fim dos combates voltou ao cargo.[10]

Antes ainda da saída de João Alberto, a repressão continuou. Em 25 de junho, depois de denúncias de apedrejamento das embaixadas da França, da Inglaterra e do Japão por um “grupo de exaltados”, que teriam espalhado bandeiras do Partido Comunista do Brasil pela cidade do Rio de Janeiro, solicitando que os operários cerrassem fileiras em torno do Partido, a polícia agiu rapidamente.

As bandeiras vermelhas espalhadas pela capital foram recolhidas, abrindo-se inquérito com providências imediatas para que não se repetissem as manifestações contra qualquer embaixada estrangeira.[11]

No Rio Grande do Sul, mesmo com o rompimento do PRR e do PL[12] com a “ditadura”, no início de julho, Flores da Cunha permaneceu em posição dúbia. Defendendia a reconstitucionalização do País e prometia manter a ordem pública no estado.

Mas a defesa do retorno ao regime constitucional duraria poucos dias, enquanto que a defesa da ordem estava apenas começando.[13]

Em 9 de julho iniciou o Movimento de São Paulo.[14] Como explica Manoel Correia de Andrade, com “o evoluir da crise econômica (…) a repercussão dos movimentos de reivindicações operárias e a agressividade dos tenentes reunidos no Clube 3 de Outubro”, criou-se uma condição que amedrontou “a burguesia rural dos estados mais ricos: São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul”, criando as condições políticas para a conspiração.[15]

Flores da Cunha tomou a posição de ficar ao lado de Vargas.[16] Ele que chegara a preparar o movimento conjuntamente com a Frente Única, inclusive distribuindo armas.

Porém, teve acesso a um radiograma, proveniente de São Paulo, onde Júlio de Mesquita Filho sugeriu que Borges de Medeiros assumisse o governo no Rio Grande do Sul.[17]

Outro motivo que fez com que Flores da Cunha tomasse a decisão de optar por um rumo diferente daquele combinado com os líderes da Frente Única Gaúcha (FUG), foi a vinda ao Rio Grande do Sul do paulista Paulo Nogueira Filho, representando o Partido Democrático (PD), neste momento já na oposição a Getúlio Vargas.

Ele foi a Cachoeira do Sul, como emissário de Francisco Morato, trazendo uma carta para Borges e Pilla, onde lhes comunicava “a respeito do andamento da conspiração paulista para derrubar Vargas do poder”.[18] Trocou idéias com Borges de Medeiros e Raul Pilla, mas só depois Flores da Cunha ficou sabendo das negociações diretas entre a FUG e a Frente Única Paulista.

Antes disso, Borges de Medeiros havia enviado para São Paulo, o advogado Glicério Alves, a fim de realizar tratativas diretas com o PD.

Essas negociações, por decisão de Borges de Medeiros, Raul Pilla e João Neves da Fontoura, já rompidos com Vargas, que desconfiavam das atitudes do interventor, também foram ocultadas de Flores da Cunha.[19]

Com o manifesto “Ao Rio Grande do Sul e ao Brasil”, pronunciado dois dias depois do início da rebelião paulista, Flores da Cunha justificava o apoio a Vargas: “Colhido de surpresa, apesar da minha lealdade com todas as correntes de opinião do país, pelo movimento sedicioso que estalou em São Paulo, cumpre-me declarar ao Rio Grande e à Nação que me conservarei fiel aos deveres de delegado do Governo Provisório (…)

Ninguém me fará a injúria de supor que eu poderia usar da minha autoridade para atraiçoar a quem me a conferiu fiado na integridade do meu caráter e na capacidade da minha ação patriótica (…)”.[20]

Em 13 de julho, Borges e Pilla lançaram um manifesto, afirmando que a FUG tinha compromissos com a FUP. Por isso desejavam, tanto quanto Flores da Cunha, que ele preservasse “da anarquia e da desordem o Rio Grande do Sul” e que “sua excelência procurasse contribuir com a sua autoridade moral para encontrar uma solução digna e patriótica” que pusesse termo “à luta fratricida”.[21]

Diante do apoio de Flores a Vargas, João Neves, um dos principais líderes da Aliança Liberal de 1930, afirmou que não poderia mais falar em nome da honra, dos brios e da dignidade do Rio Grande, pois fora desonrado e desbriado e lhe haviam feito indigno.

Não poderia mais falar em nome dos heróis rio-grandenses, pois o Rio Grande não tinha mais heróis. Levava, assim, “o último fio de vida” que lhe restava, o “último vestígio de honra” da sua gente.

Em bravata, afirmava que iria naquele mesmo dia para o Itararé. Depois, sua alma voltaria “aos pagos, para nada mais encontrar, senão a superfície estagnada de um mar de lama”.[22]

Como se vê, estava formada a aliança da burguesia liberal-conservadora que lideraria o Movimento Paulista contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas em 1932, a qual não admitia mudanças para além do que já haviam feito na Primeira República.

Esta é a senha para entender a concepção que estava por trás do genérico conceito “Revolução Constitucionalista”, a chave para entender o discurso atual das classes dominantes brasileiras que têm em São Paulo de 1932 o seu velho modelo conservador do que deva ser “democracia”.

(Este artigo terá continuidade)


* Professor Adjunto do Departamento de História da UFSM, Doutor em História Social do Trabalho pela UNICAMP.

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Notas

[1] Em homenagem aos jovens mortos (Martins, Miraguaia, Dráusio e Camargo), foi criada uma Guarda Paulista, com o nome de MMDC, marca do Movimento Paulista de 1932, cuja sede de recrutamento foi a Faculdade de Direito. Cf. SANTOS, Viviane Teresinha dos, CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (orgs.).Inventário DEOPS: Módulo II – Estudantes. Os subversivos das arcadas. São Paulo: Arquivo do Estado/Imprensa Oficial, 1999., p. 21. Ver tb. São Paulo viveu domingo horas de intensa agitação. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 24/05/1932, p. 1, Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa (MCSHJC/RS).

[2] O Clube 3 de Outubro de São Paulo, tinha a sua sede no edifício Martinelli, onde também morava Isidoro Dias Lopes, antiga liderança da Revolta de 1924. O jornal A Razão era de propriedade de Alfredo Egídio de Souza Aranha, primo de Osvaldo Aranha e politicamente identificado com Miguel Costa. Cf. Uma nota da chefatura de polícia e A imprensa carioca fora obrigada a silenciar sobre os graves acontecimentos de 2ª Feira. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 25/05/1932, p. 1, MCSHJC/RS.

[3] Ver: Procurando explicar a violência da Força Pública. In. Diário de Notícias. 25/05/1932. Porto Alegre, p. 1, MCSHJC/RS.

[4] Cf. Comissão de Correição – Mandado preparar os processos para julgamento. In. Diário de Notícias. Porto Alegre,18/05/1932, p. 1, MSCHJC/RS. Mesmo que essa Comissão tivesse pouca atuação e que muitos (inclusive do governo Vargas) defendessem o seu fim ou que ao menos não julgasse mais os crimes considerados políticos, ela continuaria a existir por um longo tempo, tanto que em 10/07/1933, Júlio Prestes teve seus direitos políticos cassados por dez anos, pela acusação de ter desviado dinheiro do Instituto do Café.

[5] Ver: A imprensa carioca foi obrigada a silenciar sobre os graves acontecimentos de segunda feira. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 25/0/1932, p. 1, MSCHJC/RS.

[6] Cf. Sou pela ordem e pela paz. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 26/05/1932, p. 4, MCSHJC/RS. Em 30 de junho, às vésperas do início do Movimento de São Paulo, Flores da Cunha assegurou mais uma vez que manteria a ordem no estado. Ver: Política e políticos. O general Flores da Cunha hipotecou solidariedade ao Governo Provisório. In. Correio do Povo. Porto Alegre, 1° de julho, p. 7, MCSHJC/RS. Luiz Vergara conta que Flores da Cunha foi convencido por Vargas, através da intermediação de João Carlos Machado, que se encontrava no Rio de Janeiro e instalou-se na estação telegráfica do Catete, após uma sucessiva troca de telegramas, até que Vargas ameaçou Flores, caso tomasse o lado dos paulistas, de responsabilizá-lo pela perturbação da ordem no Rio Grande. Cf. VERGARA. Getúlio Vargas passo a passo: 1928 a 1945. 2 ed. Porto Alegre: AGE, 2000, p. 121-2.

[7] Cf. Continua a prisão de políticos decaídos. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 1°/06/1932, p. 10, MCSHJC/RS.

[8] Tyrso Martins já fora chefe de Polícia de São Paulo, durante a presidência do estado de Altino Arantes. Tyrso seria depois preso e deportado para a Europa como dirigente do Movimento de São Paulo. Durante a campanha contra os paulistas, o boletim n° 1 da S. R. S. acusou Tyrso de pertencer aos “bucheiros”, sociedade secreta de São Paulo organizada a partir da Faculdade de Direito. O boletim ainda incluía o interventor Pedro de Toledo, além de outros integrantes do PD e o “mesquitismo”, uma referência aos diretores de O Estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul, o aliado e principal “bucheiro” seria Raul Pilla, o qual tinha como principal papel abafar todo o “sentimento revolucionário do heróico PL”. Góis Monteiro, depois de ter chamado a “bucha” de “polvo terrível que sufocava o Brasil”, era então o “general da bucha”. Para o boletim, a estratégia da bucha era fazer com que as oposições fossem chefiadas pelos “bucheiros”, pois assim, o povo, na sua ignorância, julgava “ter chefes” quando não tinha mais que “traidores”. O termo “bucheiro” era oriunda da Burschenschaft, associação fundada na Alemanha em 1815, pelo exilado político Julius Frank, foragido do país por seus ideais “marxistas”. Teria sido amigo de Karl Marx. Cf. São Paulo, 1932. Introdução de Ana Maria de Almeida Camargo. São Paulo: IMESP/DAESP/Governo do Estado, 1982, doc. n° 75. In. Portfólios, Revolução de São Paulo, 1932, P-009-A, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS).

[9] Ver: A chefia da polícia do Distrito Federal. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 14/06/1932, p. 1, MCSHJC/RS. Com o início do Movimento de São Paulo, entretanto, houve um novo fortalecimento das posições de João Alberto. Mas, com o argumento de que ele precisava “participar das operações contra os rebeldes”, logo se cogitou da sua substituição. O primeiro convidado foi Luiz Aranha, integrante do Ministério da Justiça, que não aceitou o cargo. Cf. A Chefia de Polícia do Distrito Federal. In. Correio do Povo. Porto Alegre, 12/07/1932, p. 1, MCSHJC/RS. Em 12 de julho, João Alberto baixou decreto nomeando Dulcídio Cardoso para responder pela Chefatura de Polícia do Distrito Federal, indo para o front paulista. Em setembro reassumiu o cargo, prestigiado diante de Vargas.

[10] Em outubro de 1932, Dulcídio Cardoso deixou a 4ª Delegacia Auxiliar para ser Inspetor do Ensino Técnico no Rio de Janeiro. A educação carioca passava a ser policiada.

[11] Ver: Distúrbios provocados por elementos comunistas no Rio. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 26/06/1932, p. 12, MCSHJC/RS.

[12] O rompimento do PL e do PRR com Vargas, assim como do PD paulista meses antes, tinha entre outras razões, a maior aproximação do presidente com os “tenentes” do Clube 3 de Outubro, considerados por eles como de esquerda, por serem contrários à reconstitucionalização do País. João Neves da Fontoura chamava-os de “juventude militar extremista”, quando não de serem comunistas. Ver carta de João Neves para Borges, Pilla e Sinval Saldanha, de 21/06/1932, Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha/Borges de Medeiros, Série Secretaria do Interior e Exterior, Caixa 04, AHRS.

[13] Parte da documentação sobre a divisão da classe dominante rio-grandenses, em 1932, sobretudo a correspondência trocada entre Flores e Vargas, Borges e Raul Pilla com João Neves e outros, pode ser encontrada na laudatória obra sobre Flores da Cunha, em SCHNEIDER, Regina Portella. Flores da Cunha: o último gaúcho lendário. Porto Alegre: EST/Martins Livreiro, 1981, p.p. 157-241. Uma leitura crítica sobre a atuação de Flores da Cunha e o seu esperado apoio aos paulistas aconteceu no encontro sobre os cinqüenta anos do movimento, principalmente na oração do desembargador Odilon da Costa Manso. Ver os pronunciamentos publicados em Cinqüentenário da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Secretaria da Educação, 1982, especialmente p. 39-40.

[14] O Movimento de São Paulo, chamado desde o início pelos paulistas de Constitucionalista, passou a adotar a sigla MMDC, em homenagem a Martins, Miraguaia, Dráusio e Camargo, estudantes mortos pela repressão no estado.

[15] Cf. ANDRADE, Manoel Correia de. A Revolução de 30: da República Velha ao Estado Novo. Série Revisão, n. 34. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988, p. 65-6.

[16] Em 10 de julho, Flores da Cunha trocou vários telegramas com Vargas. Em um deles afirmou: “Dr. Getúlio Vargas. Manterei a ordem ou morrerei. Abraços. Flores da Cunha”. Ver. Arquivo Flores da Cunha, FC 32.01.10, doc. III-42, CPDOC/FGV.

[17] CARONE, Edgard, Revoluções do Brasil contemporâneo. Apud FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio no Rio Grande do Sul (anos 20, 30 e 40): dos pioneiros às emissoras comerciais. Canoas: Ed. da ULBRA, 2002, p. 85.

[18] Esse episódio é relatado por João Neves da Fontoura em “Acuso!”. Apud SCHNEIDER, Regina Portella, op. cit., p. 1981. Paulo Nogueira Filho, escrevendo sobre os episódios de 1932, disse que todos os chefes da Frente Única estavam convictos que tinham o Rio Grande do Sul em suas mãos e que suas decisões finais não seriam contrariadas, tanto que acreditavam que Flores da Cunha tivesse em suas mãos o destino do movimento. Ver NOGUEIRA FILHO, Paulo. A guerra cívica de 1932. Apud CARAVANTES, Rejane Marli Born. A crise política de 1932 no Rio Grande do Sul: o papel de Flores da Cunha. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUC-RS, 1988p. 108-9.

[19] Sobre essa negociação com o PD, sem o conhecimento de Flores da Cunha, ver a carta de Glicério Alves, enviada de Porto Alegre, para João Neves da Fontoura, em 15/06/1932. A prova da ocultação de todas a negociação diante de Flores da Cunha está na seguinte passagem: “ (…) Antes de entrar em matéria mais importante, devo lembrar-te que o pacto com os paulistas era um dos objetos da carta estritamente confidencial que enviastes aos drs. Borges de Medeiros e Pilla (…) Como poderia eu mostrá-lo a quem quer que fosse, mesmo ao interventor, se dizias sublinhadamente que se tratava de matéria absolutamente reservada e que a carta em questão só deveria ser lida, aqui, pelo Pilla? Avivo-te a memória para que vejas que eu não tive, nem ninguém aqui, a intenção de ocultar ao general os termos do pacto. Se ele não teve conhecimento do assunto por nós, foi porque cumprimos estritamente as recomendações da tua carta (…)”. Cf. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 06, AHRS.

[20] Ver: Ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 12/07/1932, p. 1, MCSHJC/RS. No mesmo dia do manifesto de Flores da Cunha, alegando “saúde abalada”, o comandante geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Claudino Nunes Pereira, que vinha no comando geral da Brigada Militar desde antes do Movimento de Outubro, pediu exoneração. Na verdade, o coronel estava “desconforme com a solidariedade do então governante gaúcho ao governo central”. Cf. MARIANTE, Hélio Moro. Crônica da Brigada Militar. Porto Alegre: Imprensa Oficina Editora, 1972, p. 164. Claudino foi substituído por João de Deus Canabarro. Com a ida das tropas policiais e da Brigada Militar para São Paulo, o movimento iniciado em 9 de julho passou a ter as primeiras derrotas, justamente em Itararé, pois, com a certeza do apoio armado do Rio Grande do Sul, não deixaram essa frente suficientemente guarnecida.

[21] Cf. Ao Rio Grande e à Nação. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 14/07/1932, p. 1, MCSHJC/RS. O manifesto foi publicado em A Federação, no dia 13, e n’O Nacional, de Passo Fundo, no dia 15/07/1932. Cf. tb. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Recortes de Jornal, Sub-Série Junho a Outubro de 1932, Caixa 28, AHRS. O manifesto encontra-se também em Cf. Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha/Borges de Medeiros, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 09, AHRS.

[22] Ver: Despedida ao Rio Grande. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Documentação Complementar, Caixa 06, AHRS. João Neves não morreu nos campos paulistas do Itararé, onde pouco entrou em combate. Aliás, antes de seguir para São Paulo, dirigiu-se ao Rio de Janeiro. De lá, depois de um tempo no Hotel Glória, escreveu para Borges de Medeiros, em 20/07/1932, afirmando: “(…) Não pude sair do Rio. (…) A viagem de automóvel era perigosa (…) a ditadura vigiava as estradas. Temi o ridículo de uma prisão. (…) Preferi ficar e aceitar o oferecimento de um amigo (..) lugar relativamente seguro. Daqui tenho assistido contristado à marcha dos sucessos e sobretudo a atitude do interventor do Rio Grande do Sul (…) Prefiro morrer com elas [hostes bandeirantes] a viver, se o Rio Grande sair degradado (…) Ficamos mal com o Rei e incompatibilizados com a Nação. (…) Fui o último que entrou no movimento. Espero ser dos 

Fonte: Portal Vermelho