Uma homenagem aos 91 anos de Dom Paulo Evaristo Arns
Chego na redação com a matéria fechada, redonda. Entrego a fita para o editor do jornal e antes de sair da TV o Laerte, chefe de reportagem, me chama. Deu aquele frio na barriga, era véspera de feriado e minha namorada e um casal de amigos me esperavam para zarparmos para o litoral norte.
Sabendo da sacanagem que seria feita, o Laerte tenta me persuadir: “Florestan, eu sei que seu horário já terminou, mas não daria pra você fazer uma sonora rapidinha com Dom Paulo sobre a Semana Santa? É rapidinho?
O fato de ser uma entrevista com Dom Paulo mudava tudo, não poderia me negar a entrevistar uma figura que apreendi a respeitar e pela qual tenho uma enorme gratidão. E lá fui eu para a Catedral.
Dom Paulo no altar estava celebrando uma missa. Fiquei ali esperando sem nenhuma motivação para relaxar e rezar. Depois de quase duas horas, finalmente o assessor da Cúria Metropolitana chama a equipe para a entrevista.
Dom Paulo chega com aquele sorriso amigável e faz uma reflexão sobre a Paixão, a Morte e a ressurreição de Jesus Cristo. De volta ao carro da TV, mais problemas, o transito! Tudo parado.
Os motoristas apressados querendo voltar pra casa para curtir o feriadão. Quando finalmente chego na redação já era noite. Ligo para os amigos que me esperavam e não me dou por vencido: vamos sair de madrugada. E lá fomos nós rumo a praia.
No caminho todos adormecem. Menos o motorista, aos poucos meus olhos começam a dar sinais de cansaço. Abro o vidro e recebo o vento no rosto. Mas nada.
A cabeça bamboleia. Na estrada todos os postos de gasolina estão fechados, e eu sonhando com um café bem forte. Numa curva antes de chegar na serra, meus olhos finalmente se entregam ao sono.
Numa fração de segundos o carro sai da pista e aos pulos vai parar no meio do mato. Todos acordam sem entender o que tinha acontecido. Apesar do susto ainda consigo manter o humor e respondo: dormi e por sorte o São Arns estava acordado e nos salvou. Mais uns poucos metros cairíamos num precipício.
Lembro desta historia para homenagear um grande brasileiro que sempre defendeu seu povo, inclusive salvando vidas de presos políticos nos porões da ditadura. Amanhã, o único “Santo” vivo que eu conheço completa 91 anos, parabéns Dom Paulo defensor incansável dos pobres e dos oprimidos.
Fonte: Blog do Nassif