Adolf Hitler e a liderança nazista subestimavam os russos; que considerava como “sub-humanos”, bárbaros, inferiores e indignos de continuar vivendo. Via os territórios do leste da Europa, sobretudo as estepes férteis da Ucrânia, como “um lebensraum (espaço vital), à prova de bloqueio” cuja conquista levaria, depois da vitória, ingleses e norte-americanos a negociar os termos da paz. Era ali que Hitler pretendia lançar as bases do “Reich de mil anos”, depois de abrir um vazio populacional com o assassinato de ao menos 30 milhões de eslavos, cujo território seria ocupado pela colonização étnica alemã.

Destruir a União Soviética e comunismo

Numa das reuniões de planejamento da Operação Barbarossa (o código nazista para a invasão da União Soviética, que ocorreria em junho daquele ano), em 30 de março de 1941, Hitler deixou claro o objetivo da guerra: destruir a União Soviética e o comunismo.

O general Franz Haider, que foi chefe do estado maior do exército nazista, anotou em seu diário a declaração do dirigente nazista. Será a “luta de duas visões de mundo”, disse Hitler numa “sentença aniquilatória contra o bolchevismo”, que é a “mesma coisa que criminalidade antissocial”, anotou Haider. “Comunismo, tremendo perigo para o futuro”, disse Hitler. E ordenou o assassinato puro e simples dos comissários políticos do Exército Vermelho e da intelectualidade comunista.

Hitler acreditava que a invasão seria mais uma blitzkrieg – uma guerra relâmpago a ser resolvida rapidamente. Em seus planos, tudo estaria terminado antes do Natal de 1941, e do temível inverno russo. “Nós só temos que chutar a porta da frente e todo o edifício ruirá”, disse em outra ocasião, registrou o historiador Rupert Matthews. Hitler estava convicto de que suas tropas seriam recebidas na URSS como “libertadoras” contra o comunismo.

Era uma crença generalizada também entre governos aliados, como o norte-americano ou o inglês, de que os russos se levantariam contra o comunismo. Na véspera da invasão, o serviço secreto britânico calculou que a União Soviética estaria liquidada em oito ou dez semanas. Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA foi mais “pessimista” e previu na mesma ocasião que a derrota soviética ocorreria entre um a três meses. (citados por Domenico Losurdo).

Mesmo quando os nazistas foram derrotados em Moscou, em janeiro de 1942, essa crença não perdeu a força, como mostra a reação do governo inglês diante de um telegrama enviado por um diplomata de Moscou para Londres. “Essa ofensiva forçará os nazistas a um longo recuo”, dizia. “Uma nova ofensiva alemã está prevista para a primavera, podendo fazer alguns progressos limitados na Rússia, mas não logrará muito. Em seguida, os russos pretendem dar o golpe de misericórdia no outono ou no inverno. Não acredito que os russos parem nas fronteiras alemãs, mas que partam para uma derrota da Alemanha de forma conclusiva e definitiva”. (citado por Rupert Matthews). Seus chefes em Londres fizeram piada dessa previsão que o tempo revelaria correta.

Invasão e assassinato em massa

A invasão da União Soviética, que começou na madrugada de 22 de junho de 1941, foi a maior e mais feroz ação bélica da história. A artilharia alemã abriu fogo numa extensa frente de mais de 1.600 quilômetros, indo do Báltico ao mar Negro. Foram mobilizados cerca de 4,5 milhões de soldados da Wehrmacht com o apoio de 600.000 veículos e 750.000 cavalos, e cerca de 2.700 aeronaves (mais da metade do efetivo da força aérea alemã).

A passagem das tropas era seguida pelos efetivos da SS, da Gestapo e dos “esquadrões especiais” (na verdade esquadrões da morte) com ordens explícitas de Hitler para agir de maneira brutal contra a população civil e executar todos os funcionários comunistas, comissários do povo, “judeus em cargos partidários ou estatais” e “outros elementos radicais (sabotadores, propagandistas, atiradores de tocaias, assassinos, agitadores etc.)”, anotou o historiador britânico Richard J. Evans em sua monumental história do Terceiro Reich, recentemente publicada. Outro historiador britânico, Rupert Matthews registrou a barbárie que ocorreu no rastro das tropas invasoras. Cumprindo as ordens assassinas de Hitler, as bestas humanas com uniforme nazista exterminaram, só em 1941, entre 300 mil e 500 mil pessoas nos territórios soviéticos ocupados.

Era demais até mesmo para chefes militares da tradição prussiana, como o comandante alemão Fedor von Bock. No inverno de 1941 ele reclamou a Hitler, por escrito, sobre as ações bárbaras da SS, da Gestapo e de outras unidades paramilitares contra a população civil em áreas conquistadas, com execução em massa de judeus, estupros e assassinatos generalizados, sendo lugar comum o uso de trabalho escravo em condições terríveis. Ele reclamava, diz o historiador Rupert Matthews, sobretudo porque esta bestialidade fortalecia a disposição dos russos para resistir, fortalecendo os grupos guerrilheiros que logo se juntaram à ação do Exército Vermelho.

Esse comportamento bestial logo indispôs as tropas invasoras até mesmo com as pessoas que se opunham ao comunismo, levando outro general alemão, Hans Meier-Welcker, a registrar: “Se nossa gente fosse apenas um pouquinho mais decente e cordata!”.

Os horrores cometidos pelos alemães fortaleceram, de fato, entre soldados e cidadãos soviéticos a disposição para acatar a mensagem patriótica difundida através do rádio por Stálin convocando o povo para unir-se à guerrilha para sabotar e combater, de todas as formas, o ocupante nazista naquela que, com razão, é chamada pelos russos de Grande Guerra Pátria.

O ataque contra Stalingrado

A invasão da União Soviética fora planejada para desdobrar-se em três frente: ao norte, com o foco em Leningrado; no centro, com Moscou no alvo; e no sul, onde o objetivo era Kiev. Mas a resistência soviética mostrou a inviabilidade dessa invasão em três frentes, coisa que os generais alemães perceberam já em agosto, menos de dois meses depois do início da agressão. Eles propuseram a Hitler a escolha de um ponto onde colocar o peso principal que, preferiam, seria Moscou. Mais uma vez o desprezo de Hitler pelas tropas russas levou-o a subestimar seu poderio. Hitler preferiu concentrar o ataque ao sul, contra Kiev, em busca dos recursos econômicos das porções ocidentais da URSS, do Cáucaso e suas reservas de petróleo.

Em seguida, decidiu atacar Stalingrado, pelo valor simbólico e propagandístico (era a cidade de Stalin) e estratégico (o domínio do Volga poderia abrir um caminho por onde os invasores pretendiam chegar a Moscou).

Foi a origem da maior e mais sangrenta das batalhas da 2ª Guerra Mundial, que começou em 17 de julho de 1942. Os 250 mil soldados do 6º Exército (um das joias da coroa nazista), sob o comando do então general Friedrich von Paulus, alcançaram o Volga, ao norte de Stalingrado, em 23 de agosto de 1942. Antes de sua chegada, a cidade foi arrasada pelos bombardeios da Luftwaffe. A luta prosseguiu nos escombros da cidade, entre setembro de 1942 a janeiro de 1943. A batalha foi dura, e os soldados alemães – treinados para a blitzkrieg com apoio de tanques – não estavam preparados para a luta urbana, com os obstáculos representados pelos escombros. Em Stalingrado cada pedaço de terreno foi disputado literalmente palmo a palmo, casa a casa, numa batalha corpo a corpo.

A defesa soviética foi intensa, e o grande contra-ataque para libertar Stalingrado teve início em 19 de novembro de 1942, reunindo mais de um milhão de soldados.

As tropas soviéticas romperam as linhas inimigas a quase 160 km ao oeste da cidade; a reação alemã inicial foi lenta, demorando a perceber que estava em andamento uma manobra tradicional de envolvimento, que se completou no dia 23. Os alemães ainda fizeram uma tentativa de ataque pelo sul, em 12 de dezembro, repelida pelos soviéticos.

Sem combustível, comida e munição, no Natal de 1942 o exército de Paulus estava efetivamente condenado. Menos de um mês depois, em 22 de janeiro de 1943, ele sugeriu a Hitler (que rejeitou) a rendição como única maneira de salvar o que restava das tropas. Em 24 de janeiro de 1943 estava cercado nas ruinas de Stalingrado, sendo continuamente atacado pela artilharia soviética.

Hitler ainda tentou manter as aparências e, em 30 de janeiro de 1943 (no décimo aniversário de sua escolha como Chanceler), fez uma solene proclamação pelo rádio: “Daqui a mil anos, os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida”. Nesse dia, ele promoveu Friedrich Von Paulus para o mais alto posto da hierarquia militar alemã: marechal de campo, em uma evidente tentativa de induzi-lo a preferir um suicídio “honroso” a cair prisioneiro dos soviéticos.

Em vão. No dia seguinte, 31 de janeiro de 1943, o agora marechal de campo Friedrich von Paulus comunicou aos soviéticos sua capitulação, que efetivou em 2 de fevereiro de 1943.

No total, cerca de 235 mil soldados alemães e aliados foram capturados; mais de 200 mil foram mortos, diz Richard Evans. Entre os capturados estavam, além do marechal Paulus, 24 generais e outros 2.500. Foram mortos cerca de 140 mil soldados da Wehrmacht e 200 mil do Exército Vermelho. Os soviéticos tomaram do exército inimigo 60 mil veículos, 1,5 mil blindados, seis mil canhões e dois mil aviões. Os próprios alemães reconheceram que, em Stalingrado, perderam o correspondente a seis meses da produção de sua indústria bélica.

Foi a primeira vez na história que um marechal alemão era feito prisioneiro em combate, e que dois exércitos alemães foram capturados (o 6º Exército de Paulus e parte do 4º Exército Panzer, de tanques de guerra). Foram neutralizadas mais de 20 divisões alemãs; em seis meses de combate, foram mortos mais de 1,5 milhão de soldados invasores. Entre os russos, o número de mortos foi semelhante.

Moscou, Leningrado, Stalingrado

O fracasso em Stalingrado foi a confirmação de uma derrota alemã anunciada antes em Moscou e no cerco a Leningrado. A primeira etapa da derrota alemã ocorreu em Moscou onde, em 5 de dezembro de 1941. Era o início do inverno e as tropas soviéticas e moradores expulsaram os invasores nazistas que haviam chegado a 80 quilômetros da cidade. Naquele dia começou a ruir o mito da invencibilidade nazista. Sob o comando do então general Georgy Zhukov começou o contra-ataque que barrou a tentativa de blitzkrieg e empurrou os alemães (congelados, famintos e exaustos) de volta para o ponto de partida de seu ataque, a uns 250 quilômetros. A consolidação da posição soviética em abril de 1942 afastou a ameaça alemã contra a capital, reforçando a autoconfiança soviética em seus soldados, nos equipamentos que produziam (entre eles os tanques T-34 e os lança foguetes Katyusha), e na capacidade tática e vencer os invasores nazistas. O dia 5 de dezembro é justamente comemorado na Rússia como Dia da Glória Militar.

O outro passo importante foi dado em Leningrado (cidade que Hitler havia prometido varrer do mapa). O cerco alemão durou mais de dois anos, de 8 de Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944, submetendo os moradores a intensos bombardeios aéreos, à fome, a epidemias e males semelhantes. Os moradores e os defensores não esmoreceram; em 18 de janeiro de 1943 conseguiram, pela primeira vez, romper o cerco, mas a luta ainda demoraria cerca de um ano até a derrota completa do inimigo nazista, em janeiro de 1944.

O desastre diante de Moscou foi particularmente catastrófico, classificado pelo general Franz Haider como “a maior crise em duas guerras mundiais”. Fritz Told, ministro de Armamentos, concluiu por sua vez que a guerra não podia ser vencida pois os recursos industriais britânicos, americanos e soviéticos eram mais poderosos que os da Alemanha, e a indústria soviética estava produzindo equipamento melhor em escala maior, mais adaptado para o combate no rigor do inverno, registrou Richard Evans.

Hitler subestimou a capacidade soviética

As perdas das Forças Armadas alemãs após a invasão da União Soviética estiveram acima de todos os cálculos nazistas. Nas ações anteriores, suas perdas foram assimiláveis: em 1939 chegaram a 19 mil mortos; nas campanhas de 1940, foram 83 mil – bastante sérias mas não insubstituíveis, comentou o historiador Richard Evans. Com a invasão da União Soviética esse número multiplicou-se. Somente em 1941 houve 357 mil soldados alemães dados como mortos ou desaparecidos, mais de 300 mil deles na frente oriental onde, a partir de 22 de junho de 1941 estavam engajadas pelo menos 2/3 das forças alemãs.

As grandes perdas alemãs começaram já no início da invasão. Um mês depois de atravessarem as fronteiras, o número de mortos, feridos e desaparecidos alemães já passava de 213 mil e a desordem causada entre as fileiras levou o Comando Supremo do Exército a ordenar, em 31 de julho, uma parada no avanço, para reagrupamento. Isto é, cerca de 40 dias depois de seu início, a invasão começava a perder ímpeto.

Isto é, logo no início a liderança nazista teve que defrontar-se com as dificuldades não previstas. Em 2 de julho de 1941, depois de dez dias do início da invasão, Goebbels escreveu em seu diário: o combate é duro e obstinado, e “não se pode, de modo algum, falar em passeata. O regime russo mobilizou o povo”. Avaliação mantida em 24 de julho: “Não podemos nutrir nenhuma dúvida sobre o fato de que o regime bolchevique, que existe há quase um quarto de século, lançou marcas profundas no povo da União Soviética”. E avançou: é preciso dizer ao povo alemão “que esta operação é muito difícil, mas que podemos superá-la, e a superaremos”. Em 16 de setembro, seu registro da situação reconhecia que “calculamos o potencial dos bolcheviques de maneira completamente errada” (citado por Domenico Losurdo).

Era uma situação que os generais estavam vivendo na prática. Em 20 de julho de 1941 o general alemão Gotthard Heinrici, escreveu à esposa que “os russos são muito fortes e lutam com desespero”. “Eles aparecem de súbito por toda parte, atirando, caem sobre as colunas, carros individuais, mensageiros, etc.” “Nossas perdas são consideráveis”.

Eram perdas com as quais os “invencíveis” alemães não estavam acostumados; elas chegaram a mais de 63 mil homens até o fim de julho; no dia 22 desse mês, Heinrici reconhecia, em outra carta à esposa, que a disposição russa para resistir não fora destruída e que o povo não queria depor os líderes bolcheviques.

Haider, em 2 de agosto, reconheceu os erros de avaliação: “está ficando cada vez mais claro que subestimamos o colosso russo, que se preparou de modo consciente para a guerra”. Em agosto ele avaliou que os alemães já tinham perdido 10% de seus soldados, que foram mortos ou feridos pela resistência até o final de julho. Em 15 de agosto ele anotou em seu diário: “Em vista da fraqueza de nossas forças e dos espaços infindáveis, podemos jamais alcançar o sucesso”.

Quando a notícia da derrota em Stalingrado foi transmitida por rádio, em Berlim, em 4 de fevereiro de 1943, Goebbels, registrou em seu diário: “As notícias de Stalingrado tiveram um efeito de choque no povo alemão” (Der Spiegel). Aparentemente era um sentimento geral. Um relatório do Serviço de Segurança da SS registrou que algumas pessoas de fato viram em Stalingrado “o começo do fim”, e dizia-se que nos gabinetes de governo de Berlim havia “em certa medida uma nítida atmosfera de desespero iminente” (citado por Richard Evans).

O mito do absolutismo soviético

A historiografia ocidental alimenta um persistente mito sobre Stalingrado. O Exército Vermelho e a polícia política soviética teriam imposto o terror sobre seus próprios cidadãos e combatentes para obrigá-los a combater os invasores. Em 1998, o historiador britânico Anthony Beevor concluiu que o Exército Vermelho executou mais de 13 mil soldados durante a batalha, acusados de covardia ou deserção; além disso, 50 mil soviéticos teriam passado para o lado dos alemães.

Não é verdade. Esse mito foi demolido por documentos agora revelados no livro The Stalingrad Protocols, publicado em novembro de 2012, na Alemanha e na Rússia, escrito pelo historiador alemão Jochen Hellbeck. Segundo os documentos houve menos de 300 execuções, por covardia, entre os soviéticos até outubro de 1942, três meses antes da derrota alemã. E, naqueles meses cruciais, o número de filiados ao Partido Comunista na cidade conflagrada aumentou, passando de 28.500 para 53.500 entre agosto e outubro de 1942.

The Stalingrad Protocols foi escrito com base em cartas e memórias de soldados soviéticos. Hellbeck consultou mais de 10 mil documentos sobre o Exército Vermelho existentes na Academia Soviética de Ciências, em Moscou e sua conclusão é de que a luta contra as tropas hitleristas era encarada pelos cidadãos soviéticos como uma causa libertadora. “Os comissários soviéticos souberam captar o sentimento patriótico das pessoas e mobilizar a população contra a agressão nazista”, diz ele, derrubando mitos consolidados sobre os soviéticos. Desmente, por exemplo, a alegação comum na historiografia liberal, de que civis participaram daquela batalha devido ao medo do terror do regime soviético. E retrata a história de pessoas que se envolveram de forma voluntária na defesa de sua cidade e sua pátria.

O esforço do governo para mobilizar o povo e defender as conquistas do regime surtiu efeito. O objetivo da luta era claro para a população e para os soldados. Ele fora apontado inúmeras vezes em transmissões de rádio onde Stalin falava ao povo desde o início da invasão nazista. Em 23 de fevereiro de 1942, por exemplo – data do 24º aniversário da entrada do Exército Vermelho na Primeira Guerra Mundial – ele defendeu o direito de autodefesa dos soviéticos. “A força do Exército Vermelho”, disse, “reside sobretudo no fato de não travar uma guerra predatória imperialista, mas uma guerra patriótica, uma guerra de libertação, uma guerra justa.” “O Exército Vermelho, como qualquer exército de quaisquer outros povos, tem o direito e a obrigação de aniquilar os escravizadores de nossa Pátria”.

Nas comemorações dos 70 anos da vitória em Stalingrado, a rádio Voz da Rússia ouviu alguns sobreviventes daquela batalha cujo depoimento confirma as conclusões do autor de The Stalingrad Protocols. Um exemplo é o da veterana Taïssia Postnova que, hoje, tem 93 anos de idade; na ocasião, era estudante de medicina e foi enviada para Stalingrado em setembro de 1942 para trabalhar como enfermeira. Ela lembrou que os nazistas “bombardearam continuamente de nove da manhã até às quatro horas da tarde. Duas vezes nosso bunker foi completamente soterrado após as explosões”. Viveu os horrores da guerra mas, disse, “não tínhamos medo. Tínhamos apenas uma ideia em mente: vencer”, em defesa da Pátria e do regime. “Muitas vezes aqueles que estavam à beira da morte diziam: ‘eu morro pela Pátria, por Stalin’. Se não tivesse havido Stalin, teríamos perdido a guerra”, afirmou.

Isso confirma a opinião de Jochen Hellbeck em entrevista à revista alemã Der Spiegel; segundo ele, o Exército Vermelho era política e moralmente superior a seu oponente nazista. “O Exército Vermelho era um exército político”, disse.

Rendição incondicional

O impulso soviético iniciado em Moscou e reforçado com a vitória em Stalingrado cumpriu a previsão do diplomata inglês em Moscou, em 1942: o rolo compressor do Exército Vermelho não se deteve nas fronteiras russas mas só parou quando um soldado soviético do destacamento avançado do general Ivan Koniev, em 2 de maio de 1945, hasteou a bandeira da foice e do martelo no mastro principal do Reichstag, em Berlim, e a Alemanha foi completamente derrotada na guerra. Cinco dias depois, em 8 de maio, Hitler havia cometido suicídio e seus substitutos à frente da Alemanha nazista, rendição incondicional, diante dos generais Ivan Susloparov, soviético, Walter Bedell Smith, americano, e François Sevez, francês.

Muito antes disso, ainda em 1943, a notícia da derrota em Stalingrado foi noticiada através do rádio, em Berlim, no dia 3 de fevereiro, pelo general Zeitzler, chefe do Alto Comando das Forças Armadas alemãs, ao som de tambores abafados e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven. Esta foi mais uma vilania dos nazistas: Beethoven foi um democrata que jamais teria concordado com a barbárie dirigida por Hitler e seus asseclas. Basta lembrar que, em 1802 (cerca de 140 anos antes dos eventos trágicos transmitidos pelo general Zeitzler) ele havia dedicado a Terceira Sinfonia (Eroica) ao Napoleão, dirigente da revolução francesa. Mas riscou a dedicatória dois anos depois, em 1804, quando Napoleão se coroou imperador.

A poesia, agora, está nos jornais

A batalha de Stalingrado ficou na história como um símbolo intenso da resistência contra a opressão, o imperialismo e a ocupação estrangeira. Um poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, registrou sua dimensão histórica imorredoura. Hoje, “a poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”, escreveu. “Os telegramas de Moscou repetem Homero. / Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo”.

Mundo novo defendido com muita coragem, sangue, sacrifício para enfrentar aqueles que, há mais de 70 anos, armaram o até então maior exército jamais visto para destruir a União Soviética e o comunismo.

Referências

Evans, Richard J. O Terceiro Reich em Guerra. São Paulo, Planeta, 2012

Losurdo, Domenico. Stalin – storia e critica di uma legenda nera. Roma, Carocci editore, 2008

Matthews, Rupert. Segunda Guerra Mundial: Stalingrado. A resistência heroica que destruiu o sonho de Hitler de dominar o mundo. São Paulo, M. Books do Brasil, 2013

Internet:

http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/frank-interviews-with-red-army-soldiers-shed-new-light-on-stalingard-a-863229.html, consultado em 03/02/2013.

http://newsbom.com/world/118575.html, consultado em 03/02/2013.
http://www.independent.ie/world-news/revealed-the-horrific-forgotten-secrets-of-stalingrad-3285052.html, consultado em 03/02/2013.

http://m.g1.globo.com/mundo/noticia/2013/01/russia-de-putin-celebra-os-70-anos-da-vitoria-de-stalingrado.html, consultado em 03/02/2013.