Haroldo Lima: “A mesma cara, a mesma história, o mesmo partido”
Os impropérios são abundantes, raivosos, e se inserem no quadro das dissenções ideológicas frontais que sobrevivem com esse agrupamento em nosso país, embora com ele o PC do Brasil já tenha demarcado campo, há tempo.
Pelo caráter repetitivo e rancoroso das afrontas alinhavadas e pela ausência de expressividade do setor ou de quem as formulou, o PC do Brasil não tem razões para respondê-las. Entretanto, julgo oportuno alertar pessoas de boa fé que porventura venham a ler a citada aleivosia, sobre algumas graves distorções existentes no texto.
O escrito e o destempero verbal se voltam contra o que chamam de “política de apropriação da história do PCB”. E a suposta demonstração dessa apropriação está no fato do PCdoB, em suas inserções, citar como camaradas do Partido Luís Carlos Prestes, Olga Benário, Jorge Amado e Oscar Niemeyer.
Comecemos por esclarecer que os nomes desses quatro comunistas estão sozinhos por ser diminuto o tempo das inserções, poucos segundos.
Houvesse tempo, teríamos colocado muitos outros, como Astrogildo Pereira e os que fundaram o Partido em 1922; o vereador carioca Minervino de Oliveira, primeiro operário, negro, a se candidatar a presidente do Brasil, em 1930, pela legenda do Partido Comunista do Brasil; os quinze membros da bancada do PC do Brasil na Constituinte de 1946, a começar pelo líder Maurício Grabois e pelo constituinte mais votado no Rio, João Amazonas; os comunistas ou pessoas muito próximas ao Partido que deram grande contribuição na formação cultural brasileira como, entre os escritores, além de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Oswald de Andrade, Patrícia Galvão (a Pagu), Dalcídio Jurandir e Lila Ripoll; no meio dos arquitetos e das artes plásticas, além de Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Carlos Scliar; entre dramaturgos e atores Gianfrancesco Guarnieri, Francisco Milani, Oduvaldo Vianna Filho (o Vianinha) e Dias Gomes; entre músicos Cláudio Santoro e Guerra Peixe; no meio dos cineastas Ruy Santos, Alex Viany e Nelson Pereira dos Santos; entre os cientistas Mário Schenberg; entre os esportistas João Saldanha; entre as mulheres Ana Montenegro, Elisa Branco, Elza Monerat; entre os heróis da resistência Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, comandante da guerrilha do Araguaia.
Ressaltaríamos comunistas legendários como Diógenes Arruda Câmara, Mário Alves, Amarílio Vasconcelos e finalmente os três que lideraram a reorganização de 1962, João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar.
Muitos desses participaram e engrandeceram nosso Partido na primeira quadra de sua existência, da fundação, em 1922, até 11 de agosto de 1961, quando o jornal Novos Rumos publicou os Estatutos e um Programa de um partido a que chamava de Partido Comunista Brasileiro.
Outros vieram dessa primeira fase e construíram o Partido após a reorganização, e há os que já entraram nessa segunda etapa. Sabe-se que a maior parte do pessoal que formou o PCB veio do PC do Brasil e sabe-se também que foi aí que João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar encabeçaram o processo de reorganização do Partido, em 1962.
Portanto, quando contamos nossa história, não podemos esquecer dos vultos que estiveram presentes na grande fase que o Partido percorreu de sua fundação, em 1922, até sua reorganização, em 1962, mesmo que não tenham participado do partido reorganizado. Já os feitos eventualmente desenvolvidos pelo chamado Partido Comunista Brasileiro, pós 1961, aí sim, não só o PC do Brasil nunca os reivindicou, como não tem nada com isso, como quase sempre os critica.
Isto não quer dizer que os problemas ocorridos no período da reorganização de 1962 sejam diminuídos ou obscurecidos. Como diz Marx no Manifesto, “os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e fins”. Quando o assunto comporta, isto é feito com clareza, como na Resolução do Comitê Central saudando os 90 anos do Partido, e no Manifesto da Comissão Política Nacional sobre o mesmo aniversário.
Na Resolução dizemos que, depois do 20º Congresso do Partido da URSS, “iniciou-se uma luta acirrada entre duas concepções no interior do movimento comunista internacional e no Partido Comunista do Brasil… duas tendências opostas, uma reformista e outra revolucionária.”
No Manifesto dizemos que “diretrizes oportunistas disseminadas pelo 20º Congresso do Partido Comunista da URSS…foram respaldadas pela maioria da direção brasileira”.
Contudo, tais posições estando nítidas no posicionamento oficial do Partido, não quer dizer que a todo instante têm que ser colocadas obrigatoriamente. No caso concreto, tivemos poucos segundos em rede nacional de comunicação para as inserções.
Não havia tempo para apresentar aspectos variados da vida do Partido, e resolvemos acentuar precisamente a continuidade do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922: “A mesma cara, a mesma história, o mesmo partido”.
*Haroldo Lima é membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil e da sua Comissão Política.