Pedro Pomar e a Guerrilha do Araguaia
O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) iniciou o debate sobre o deslocamento do trabalho para o campo como tática principal para enfrentar a ditadura implantada com o golpe de 1964 em junho daquele mesmo ano. Em agosto, aprovou a resolução divulgada com o título “O golpe de 1964 e seus ensinamentos”, avaliando que o ocorrido era resultado dos avanços de um projeto estratégico dos setores mais reacionários internos a serviço do imperialismo norte-americano. Era hora de procurar novas formas de resistência. Diante desse quadro, Pedro Pomar e os demais dirigentes comunistas mergulharam fundo na clandestinidade para articular o PCdoB. Ele deixou A Classe Operária, da qual era redator-chefe, que passou à responsabilidade de Carlos Danielli — o secretário de Organização —, e começou a percorrer o país. A luta armada era uma possibilidade que despontava no horizonte.
Uma das primeiras medidas adotadas pela ditadura foi a elaboração de uma “doutrina de segurança nacional” baseada em dois conceitos: a divisão do mundo em dois blocos antagônicos e a adesão do Brasil ao “bloco democrático e cristão”, sob a direção dos Estados Unidos — dos quais o Brasil deveria considerar- se um “satélite privilegiado”. A doutrina do programa golpista elaborado na Escola Superior de Guerra dizia que o mundo marchava para a Terceira Guerra Mundial e o Brasil deveria alinhar-se incondicionalmente aos Estados Unidos para combater a União Soviética. O Ato Institucional (AI) passou a ser o instrumento para a ditadura “legalizar” suas ações políticas não previstas na legislação e contrárias à Constituição.
O AI-1, de 9 de abril de 1964, transferiu o poder aos militares golpistas e suspendeu por dez anos os direitos políticos de centenas de pessoas — entre elas Pedro Pomar. Em outubro de 1965, o AI-2 concedeu à Justiça Militar a competência de julgar “crimes contra a segurança nacional” de acordo com a lei nº 1802, de 5 de janeiro de 1953.
A estrutura do poder ditatorial começou a ser montada gradativamente, com o Executivo concentrando funções e sob controle do Estado-Maior das Forças Armadas, do Alto Comando das Forças Armadas e do Departamento de Administração da Polícia Civil (este último um organismo de consulta). Foram também criados mais dois novos órgãos: o Conselho de Segurança Nacional (CSN) e o Serviço Nacional de Informações (SNI). O poder legislativo foi restringido — e posteriormente fechado — e o judiciário limitado à função de supervisionar os atos determinados pelo CSN. Todos os suspeitos de atividades contrárias à “segurança nacional” seriam julgados por tribunais militares.
VI Conferência
A direção do PCdoB chegou à conclusão de que para discutir profundamente a forma de enfrentar a ditadura era necessário convocar uma Conferência — a VI, realizada em julho de 1966 em São Paulo. No encontro foram discutidas a situação política e a atividade partidária, modificações estatutárias e recomposição do Comitê Central. Além das questões organizativas — principalmente no tocante à segurança —, a Conferência debateu e aprovou a linha política, contida no documento União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista. “Perigo sem precedente paira sobre o Brasil, sujeito a viver longo tempo sob o regime ditatorial, a ter seu desenvolvimento interrompido e a perder suas características de nação independente”, diz o documento. “Em tal circunstância, nenhum problema pode sobrepor-se ao objetivo de salvar o país desse perigo.”
A certa altura do texto, o PCdoB apontou a guerrilha como uma das principais formas de luta contra a ditadura. “A ideia de que é indispensável empunhar armas para libertar o país do atraso e da opressão vem ganhando força”, diz o documento. “A luta revolucionária em nosso país assumirá a forma de guerra popular”, definiu a Conferência. “As forças armadas populares, inicialmente débeis, crescem e tornam-se fortes e superiores às do adversário. (…) Sendo parte integrante do povo, têm nele a fonte de sua invencibilidade.”
A ideia contida no documento era a de realizar um intenso trabalho político e de organização popular, criando núcleos de combatentes, “no amplo emprego da tática de guerrilha e na criação de bases de apoio no campo”. “Em toda parte, em especial no campo, é preciso discutir os problemas da luta armada e, guardadas as normas de trabalho conspirativo, tomar medidas visando à sua preparação prática”, diz o texto. Com base nessa resolução da Conferência, o PCdoB saiu a campo à procura dos melhores lugares para instalar a guerrilha. O Partido criou três grupos de trabalho — um dirigido por Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, outro por Maurício Grabois e João Amazonas, e um terceiro por Carlos Danielli.
Pedro Pomar esteve em Goiás — na região onde atualmente é o Estado de Tocantins —, Maranhão e Sul do Estado do Pará. Apresentava-se como vendedor de remédios para pesquisar detalhes dos lugares por onde passava. Mais tarde juntou-se a Arroyo no norte de Goiás, onde tentaram estruturar um trabalho com o deslocamento de militantes nas regiões de Itapaci, Santa Terezinha dos Crixás, Uruaçu e Porangatu. Estivera antes por lá, quando o Partido organizara a resistência dos camponeses que empunharam armas para defender suas terras em Trombas e Formoso.
O plano era criar áreas de implantação de militantes, na mais rigorosa clandestinidade, para iniciar o trabalho com a população. Paulo Marcomini, um desses militantes, conta que, na cidade de São Paulo, no final de 1964, Pedro Pomar passou as orientações para que se estabelecesse na região de Uruaçu. O contato seria com outros militantes que já estavam lá, iniciando a implantação. Lembra o nome de Armando Gimenez e de Jonas Grisoto, mas havia também militantes do local envolvidos com o plano.
Marcomini chegou a Uruaçu no início de 1965. No final de abril, ou começo de maio, ele e Gimenez foram presos. Caíram em uma “operação pente-fino” conjunta do Exército, da Polícia Federal e da polícia local, que fazia uma rigorosa verificação das procedências e das ocupações da população da região. Alguns militantes conseguiram fugir, mas, segundo Marcomini, formou-se fila na rua tal a quantidade dos que seriam interrogados. Ele e Gimenez foram ouvidos, enviados para Brasília e torturados, mas nada revelaram — o que impediu que a repressão descobrisse seus vínculos com o PCdoB. A prisão se estendeu porque estavam ligados a Jonas Grisoto, que trabalhava como rádio-técnico e fora acusado de tentar montar uma rádio clandestina. Mas, por segurança, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo decidiram suspender o trabalho naquela e em outras regiões de Goiás.
Experiências de guerras populares
As experiências de guerras populares no campo, principalmente na China e no Vietnã, amplamente estudadas, recomendavam a procura de lugares com boa densidade populacional. O PCdoB estava enviando delegações para a China com a finalidade de aprofundar esses estudos e aprender na prática como fora percorrido o caminho da guerra popular. Pedro Pomar era um dos dirigentes que se encarregaram dos preparativos para o envio desses militantes. Na volta, todos se reuniam com a direção para relatar o aprendizado e as impressões da viagem.
Houve também tentativas de implantar trabalhos em alguns estados do Nordeste. Pedro Pomar esteve no Ceará e permaneceu algum tempo na Bahia, onde o PCdoB estudava diversas áreas. Com as incursões da repressão, todas as tentativas foram suspensas. Em vários pontos do país, militantes comunistas avaliaram a viabilidade dos diferentes aspectos da preparação da luta armada. Os locais deveriam oferecer condições adequadas à teoria da guerra popular.
Outro ponto que ele começou a pesquisar era o Vale do Ribeira, na região Sul do Estado de São Paulo. Ele e o também comunista Carlos Cordeiro foram para Barra do Turvo, município encostado ao Paraná, um ponto privilegiado pela visão ampla da imensidão verde que cobre a região. Definido pela direção do PCdoB que ali seria um dos pontos para a preparação da luta armada, Pedro Pomar começou o processo de implantação de militantes. Além de Cordeiro, enviou para a região Paulo Marcomini, que participara da experiência de Goiás e fizera o curso de preparação na China.
Fosse para Barra do Turvo como um comerciante que pretendia se estabelecer com um pequeno negócio de variedades. Procurasse o Partido em toda a região, abrangendo a baixada santista — Santos e Registro, as principais cidades locais, contavam com grande número de militantes — e iniciasse o trabalho político, voltado para a ligação com as massas. Em pouco tempo, segundo Cordeiro, mais de vinte pessoas estavam se implantando em diferentes pontos do Vale do Ribeira — um deles na outra margem da fronteira estadual, no município de Adrianópolis, no Paraná —, sem contar os simpatizantes e apoiadores.
Região de posseiros, a orientação de Pedro Pomar era para combinar o trabalho no campo com a adesão de militantes e simpatizantes ao plano do PCdoB nas cidades. Professores, médicos, advogados e outros profissionais com influência deveriam ser mobilizados para a preparação do local como um dos epicentros da luta armada contra o regime golpista. Marcomini foi designado como responsável pelo que chama de “parte orgânica” — preparação de “aparelhos”, deslocamento de militantes e treinamento militar. Recebera armas e munição — rudimentares, segundo ele — em uma estrada da região, com as quais iniciou os preparativos do que poderia ser, no futuro, um ponto da guerra popular.
Cordeiro se encarregou de coordenar o trabalho político. Era uma espécie de coordenador geral. Por orientação de Pedro Pomar, indicou uma propriedade, próxima à sua, de um pouco mais de trinta alqueires, onde a família (a esposa Catharina e os filhos mais novos, Jonas e Carlinhos) passou a morar. Pouco depois de iniciar o trabalho no Vale do Ribeira, Pedro Pomar viajou em missão partidária para a Albânia.
Guerra prolongada
Para o PCdoB, a guerra seria prolongada. Pontos de apoio deveriam ser instalados em diferentes lugares, trabalho iniciado tão logo a VI Conferência concluiu que a luta armada era uma via possível nas circunstâncias criadas pelo regime de 1964. O local que mereceria mais atenção seria o Araguaia, Sul do Pará, divisa com os Estados do Maranhão e de Goiás (onde atualmente é o Estado de Tocantins), um vasto arco de serras verdes e terras férteis. As levas de militantes enviados para o local passavam por avaliações de Pedro Pomar e de outros dirigentes. Muitos estiveram na China, onde receberam instruções político-militares.
Como arma para capturar seus opositores, a ditadura criou uma rede de produção de dossiês, inquéritos e ações judiciais de diversas características. No prontuário de cada um, condenações e ordens de prisão se multiplicavam a uma velocidade espantosa. O de Pedro Pomar era um dos mais taludos. Invariavelmente, as anotações diziam que ele estava foragido, “em lugar incerto e não sabido”. Um desses lugares era o sítio em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira.
O trabalho do PCdoB na região se estendia ao Estado vizinho, Paraná, compreendendo uma grande área cravejada de pequenas cidades. A influência do grupo chegava a Londrina, à época já uma cidade de porte médio e com uma conceituada universidade estadual. Com a ajuda de Pedro Pomar, os militantes Manoel Costa e Marília Andrade chegaram a promover atividades e debates literários para os estudantes universitários. Segundo Cordeiro, a ideia era mapear um corredor no Paraná até a Argentina — onde estivera, em Buenos Aires, para fazer contato com o dirigente do PCdoB, Dynéas Aguiar. Dos demais pontos onde estava sendo preparada a implantação da guerra popular, a região do Araguaia, no Norte do país, era a que apresentava melhores condições.
Estudo da guerra popular
O estudo da guerra popular no campo era uma necessidade que se impunha pelas circunstâncias. Em fevereiro de 1968, o Comitê Central publicou o documento para estudo denominado “Salve a grande vitória da guerra popular”, de autoria de Lin Piao, um dos dirigentes da República Popular da China, com a sistematização das experiências política e militar chinesas dos vinte e dois anos da vitória da revolução naquele país. Em maio, o Comitê Central aprovou dois documentos. O primeiro, denominado “Alguns Problemas Ideológicos da Revolução na América Latina”, posicionava-se a favor da China e da Albânia, e contra os Estados Unidos e a União Soviética. No aspecto ideológico, criticou o “fidelismo” e afirmou que “cada povo fará a sua revolução”.
No segundo documento, intitulado “Preparar o Partido para Grandes Lutas”, o PCdoB, com base nas mobilizações estudantis que tomavam corpo, dizia que “o desprendimento e a energia da mocidade, bem orientada, são fatores de radicalização das lutas”. Mas alertava que “as zonas rurais constituirão as vastas áreas de manobra para os destacamentos armados do povo e nestas zonas encontrava-se o maior potencial revolucionário”. Outro texto, com o título “A política estudantil do PCdoB”, orientou os militantes naquele ano de grandes embates com a ditadura, quando greves e manifestações estudantis desafiaram os golpistas.
Esses movimentos aproximaram o PCdoB de setores de outras organizações que viam naquela tática política o caminho para enfrentar a ditadura. Durante o ano de 1968, quando as divergências se acirraram no novo PCB e em uma de suas dissidências, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), dois grupos egressos dessas organizações se aproximaram do PCdoB. Em junho de 1968, o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil enviara uma carta denominada “Aos Comunistas Divergentes do Partido Comunista Brasileiro no Estado da Guanabara” criticando as posições do PCB e do PCBR. O documento convidava os grupos divergentes a ingressarem no PCdoB, afirmando que seria “um reencontro entre velhos camaradas”.
No final de 1968, Pedro Pomar, como representante da Comissão Executiva do PCdoB, acompanhou a reunião dos divergentes que acertou os últimos detalhes daquela importante adesão. Compareceram perto de vinte pessoas, representando um número estimado de quatrocentos militantes da Guanabara. Foi eleito um Comitê Regional do PCdoB para os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Jover Telles era o líder do grupo que deixara o PCBR e seria designado suplente da Comissão Executiva — integrada por João Amazonas, Pedro Pomar, Maurício Grabois, Lincoln Cordeiro Oest, Carlos Nicolau Danielli e Ângelo Arroyo. Além dele, os suplentes eram Dynéas Fernandes Aguiar e Luiz Guilhardini.
No começo de 1969, o PCdoB realizou uma reunião ampliada do Comitê Central na qual aprovou o documento “Guerra popular — Caminho da Luta Armada no Brasil”, que expôs, “nos aspectos essenciais”, a concepção “da luta armada em que todo o povo brasileiro se empenhará para livrar o país da ditadura e do domínio imperialista norte-americano”, e o “Manifesto ao povo”, denunciando o banditismo da repressão e conclamando a unidade nacional para “derrubar os opressores”. A reunião também definiu que o PCdoB deveria ter “no interior (sic) o centro de gravidade do seu trabalho” e que “as forças armadas populares terão, durante muito tempo, de se orientar pelos princípios da defensiva estratégica e guiar-se por uma política correta”. E isso queria dizer, entre outras coisas, que o centro de atividades do Partido seria a luta armada – a “quinta tarefa”, como ficou conhecida na ordem de atividades definida pela direção do PCdoB. A primeira era a construção partidária.
Terrorismo de Estado
Durante o ano de 1969, o número de militantes encaminhados à Guerrilha aumentaria muito. No dia 13 de dezembro de 1968 a ditadura havia decretado o AI-5, intensificando as medidas repressivas. Na prática, estava decretado o terrorismo oficial de Estado. Para muitos desses militantes, viver nas cidades era caminhar à beira do precipício. O AI-5 aboliu o habeas corpus e quem fosse preso dificilmente escaparia da morte. Os processos e condenações pipocavam em todo o país e os bandos policiais — conhecidos como esquadrões da morte —, autorizados a torturar e a matar, cada vez mais adotavam o banditismo como método de ação.
Em dezembro de 1969, o Comitê Central reuniu-se novamente para aprovar o documento “Responder ao Banditismo da Ditadura com a Intensificação das Lutas do Povo”, que lançou o Movimento de Revolucionarização Ideológica do Partido como ponto de partida da guerra popular. Esse texto orientou os comitês do PCdoB a tomarem medidas que assegurassem “o envio de elementos para o campo” e a “estudar as reivindicações das massas camponesas, organizar o recrutamento de trabalhadores rurais e desenvolver suas lutas”. Comitês militares começaram a ser criados pelo país.
A luta armada começava a sair da pena e a ser preparada efetivamente. Ao longo do ano de 1970, três documentos foram aprovados pelo Comitê Central para marcar a linha política do PCdoB. O primeiro, publicado em abril e escrito por João Amazonas e Maurício Grabois nas selvas do Araguaia, denominado “A atualidade do pensamento de Lênin”, foi a primeira manifestação pública de divergências com o Partido Comunista da China sobre a tese do “Pensamento de Mao Tse-tung” como uma “nova etapa do marxismo”. O segundo, de julho, com o título “Mais audácia na luta contra a ditadura”, aprofundava o movimento de revolucionarização iniciado no ano anterior. E o terceiro, de dezembro, intitulado “Desenvolver ações mais vigorosas”, orientou a militância para o “espírito de oposição das massas” com vistas a “acelerar a preparação da luta armada”.
Na cidade de São Paulo, a ditadura havia montado uma engenhosa máquina de torturas e assassinatos, conhecida como Operação Bandeirantes (Oban) — sustentada financeiramente por alguns empresários —, agrupando os setores que atuavam nos órgãos de repressão. Em uma das ações criminosas de um dos braços desse arranjo repressivo, um antigo companheiro de Pedro Pomar foi brutalmente assassinado.
O crime ocorreu na noite de 4 de novembro de 1969. A direção do PCdoB passara o dia em reunião e à noite todos assistiam ao jogo entre Santos e Corinthians pela televisão quando receberam a notícia do assassinato de Carlos Marighella — então líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) — na Alameda Casa Branca, comandado pelo delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Sérgio Paranhos Fleury, o chefe do esquadrão da morte paulista.
Em setembro de 1970, a Presidência da República expediu a “Diretriz Presidencial de Segurança Interna”, determinando que cada Comando de Exército passasse a ter um Destacamento de Operações de Informações (DOI) e um Centro de Operações de Informações (CODI). Era a extensão da experiência de unificar as ações repressivas da Oban, de São Paulo, para todo o país. A ditadura criava, com essa medida, máquinas poderosas e interligadas de torturas e assassinatos — sob a cobertura “legal” da “Diretriz Presidencial de Segurança Interna”.
Deslocamento para o Araguaia
Nesse clima, permanecer nas cidades era um jogo arriscado. Por isso, o PCdoB apressou o envio de militantes ao Sul do Pará. A organização da Guerrilha começou com a instalação de três destacamentos — o A, na Faveira, abrangendo os municípios de São João do Araguaia e Apinajés; o B, na Gameleira, próximo ao povoado de Santa Isabel, mais ou menos cinquenta quilômetros acima da cidade de São Geraldo do Araguaia, abrangendo uma parte da Serra das Andorinhas; e o C, no Caiano, abaixo de São Geraldo, na direção de do município de Conceição do Araguaia.
Os guerrilheiros começaram a trabalhar e a conviver com os moradores da região em posses previamente adquiridas. Formaram lavouras, exploraram castanhais e montaram pequenos comércios. Ao mesmo tempo, desempenhavam um ativo trabalho social. O birô político da Guerrilha era formado por Maurício Grabois, João Amazonas, Ângelo Arroyo e Elza Monnerat. Havia também a Comissão Militar e um comandante em cada destacamento. Com a evolução dos preparativos, Maurício Grabois foi assumindo o comando militar dos trabalhos. Em São Paulo, sob a liderança de Carlos Danielli, a Comissão de Organização era o elo entre os membros da direção que tinham ficado nas cidades e os dirigentes da Guerrilha.
Como membro da Comissão de Organização, as atenções de Pedro Pomar se voltaram para o Araguaia, mas o trabalho no Vale do Ribeira era a sua prioridade. Para dar conta das intensas atividades do Partido, contudo, ele levou a família de volta para São Paulo. Ao mesmo tempo, se dedicava à produção teórica, fundamental para a missão do PCdoB. Após elogiar a Revolução Cultural Proletária da China, Pedro Pomar se inteirou melhor sobre os rumos do Partido Comunista Chinês e fez duras críticas ao chamado “Pensamento de Mao Tse-Tung” — a mais contundente delas em um artigo no jornal A Classe Operária, intitulado “A proposta da AP”, uma resposta à organização Ação Popular (AP) — que se incorporaria ao PCdoB — que propôs aos “verdadeiramente marxistas-leninistas” a construção de um “partido proletário inteiramente novo”.
Secretário de Organização
Com o assassinato de Carlos Danielli, no final de 1972 (na vidada de 1972 para 1973 a repressão dizimou a Comissão de Organização, assassinando também Luiz Guilhardini e Lincoln Oest, além do jovem membro do Comitê Central Lincoln Bicalho Roque), Pedro Pomar assumiu o posto de secretário de Organização. A nova Comissão passou a ser integrada, além dele, por Haroldo Lima e Sérgio Miranda.
Era um período de rearticulação dos militantes do PCdoB, após as ações da repressão no Araguaia e em outras regiões onde existiam trabalhos com o objetivo de implantar possíveis futuros movimentos de luta armada. Naquela etapa de recomeço, as reuniões mais frequentes eram da Comissão Executiva, a instância máxima de direção, composta por João Amazonas, Pedro Pomar, Jover Telles, Aldo Arantes, Haroldo Lima e Renato Rabelo. Conforme a relevância do assunto debatido, convocava-se o Comitê Central. Tomava-se o cuidado de sempre deixar uma parte da direção fora das reuniões por motivo de segurança — em caso de prisões, o Partido não ficaria acéfalo.
As pautas eram sempre carregadas. Discutia-se a luta armada, o Araguaia, a conjuntura, a linha do Partido, a ditadura e os rumos do socialismo. O PCdoB estava redirecionando sua atuação para o movimento político, o movimento de massas, e tomava posição face às eleições e à estrutura partidária. Deslocamento de pessoas, cursos, cuidado com os quadros, viagens e eventos internacionais também eram assuntos constantes. Com a chegada de Ângelo Arroyo do Araguaia, as reuniões foram mais polarizadas em torno da experiência guerrilheira. Ele fez um relatório minucioso da Guerrilha, que começou a ser debatido. Chegara a hora de se fazer uma avaliação crítica e autocrítica. Era preciso definir o que fazer com o resultado daquela e de outras áreas de preparação da luta armada.
As reuniões do Partido eram feitas em “aparelhos”, nos quais residiam militantes especialmente destinados para as tarefas de infra-estrutura. Após a VI Conferência, Joaquim Celso de Lima, Elza Monnerat, Maria Trindade e João Amazonas se instalaram em uma casa no bairro da Previdência, nas proximidades do Butantã, Zona Oeste de São Paulo. Por questão de segurança, o “aparelho” foi deslocado para a Granja Julieta. Em meados de 1972, nova mudança, no mesmo bairro. Mais adiante, o “aparelho” seria instalado na Rua Pio XI, número 767, no bairro da Lapa.
Avaliação do Argauaia
Quando o início dos combates no Araguaia completou três anos, Ângelo Arroyo escreveu um extenso artigo sobre aquela experiência guerrilheira, que circulou entre a militância. O PCdoB intensificava o debate sobre os acertos, os erros e as perspectivas da luta armada. Qualquer que fosse o julgamento, o Araguaia precisava ser defendido de eventuais conclusões apontando uma derrota em todas as linhas e que o PCdoB caíra em uma arapuca armada pela ditadura — hipótese possível diante das primeiras manifestações dos golpistas. No começo de 1975, o ditador Ernesto Geisel havia se pronunciado sobre o tema, desqualificando o movimento armado no Araguaia. A crítica e a autocrítica deveriam ocorrer com base nos princípios, sem açoites e exacerbações. Mas havia uma encruzilhada. E ela precisava ser resolvida.
Todos os membros do Comitê Central deveriam apresentar suas opiniões por escrito sobre o Araguaia. O passo inicial do debate foi dado na primeira parte da reunião do Comitê Central, em 7 de abril de 1976. Por segurança, a direção reunia-se em duas etapas, variando as composições, repetindo os participantes conforme o caso. Pedro Pomar aprofundou sua opinião sobre o Araguaia em um extenso documento. Escrito com fleuma e contundência, ele começou registrando as condições políticas de desenfreada perseguição aos patriotas, que estavam dificultando e retardando o esforço para o PCdoB tirar as lições fundamentais que dimanavam da Guerrilha do Araguaia, mas manifestou a esperança de que o debate daria os resultados que todos almejavam. Era uma tarefa imposta pela necessidade de empreender, sem maiores dilações, a avaliação crítica e autocrítica daquela luta.
Ele apoiou-se no documento de Ângelo Arroyo para iniciar sua exposição, segundo disse a base para a discussão. Competia a cada um, conforme sua capacidade, apreciar a verdadeira significação, para o movimento popular e para o Partido, dos resultados daquela façanha, do imenso sacrifício de um pugilo de companheiros. No Brasil, afirmou, o problema do caminho revolucionário para livrar o povo da exploração e da opressão era dificílimo. E a determinação de palmilhá-lo se tornara a pedra de toque das diferentes forças revolucionárias, em especial dos marxistas-leninistas.
Segundo Pedro Pomar, em torno do caminho, da concepção e do método da luta armada sempre surgiram grandes divergências. O caráter revolucionário do Partido Comunista do Brasil, sua linha política, seu comportamento sempre foram aferidos pela posição assumida em face da luta armada e pela maneira de procurar concretizá-la. A fidelidade dos marxistas-leninistas a essa ideia e o esforço para fazê-la triunfante — escreveu — os distinguiam de todos os demais agrupamentos populares. Isso determinara a ruptura com os revisionistas contemporâneos, disse ele.
Não por acaso, de acordo com Pedro Pomar, a bandeira da insurreição popular de novembro de 1935 servia, naquele momento, de parâmetro para a atividade dos comunistas. Era aquela bandeira que deveria ser erguida com maior força e audácia se os comunistas quisessem libertar definitivamente o povo brasileiro e se tornarem os verdadeiros dirigentes da revolução no país.
Feito o preâmbulo, Pedro Pomar disse que a experiência do Araguaia, pelo que entendera, apresentava aspectos bastante positivos. Ressaltou a firme decisão do Comitê Central em realizar a tarefa que aprovara, de implantar em algumas áreas do mais remoto “interior” brasileiro dezenas de camaradas que demonstraram disposição de suportar todos os sacrifícios a fim de preparar e desencadear a luta armada. O devotamento daquelas pessoas e o heroísmo de que efetivamente deram provas eram motivos de legítimo orgulho para o PCdoB. Merecia a justa e devida valorização.
Pedro Pomar destacou também a escolha da área, que naquelas condições do país se revelara própria à estratégia do Partido. Apesar da baixíssima densidade demográfica e de não possuir nenhuma tradição política nem organizativa de massas, oferecia excelente posição para a defesa. Considerou igualmente importante que, após o surgimento da luta armada, os guerrilheiros se empenhassem na conquista das massas, tendo conseguido sensibilizá-las em um grau elevado, ganhando sua simpatia e até apoio ativo de alguns camponeses pobres.
Mais significativo ainda, segundo ele, foi o fato de terem organizado alguns núcleos da União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo (ULDP) na base de um Programa que continha as reivindicações mais sentidas dos moradores da região. Tanto aquele Programa como a organização dos referidos núcleos refletiam o esforço para se vincularem às massas e fazê-las jogar papel político, para mobilizá-la no sentido de sua emancipação. Além disso, os guerrilheiros preocuparam-se em fazer propaganda das ideias da luta pela liberdade, pela independência nacional, propondo a união do povo brasileiro para a derrubada da ditadura militar-fascista.
Essas iniciativas, na avaliação de Pedro Pomar, procurando interpretar os anseios de amplas forças sociais e políticas no plano nacional, foram importantes para que a Guerrilha não se constituísse um grupo sectário, isolado, ou regionalista. E ao se sustentarem em armas por um período tão longo, apesar da superioridade e da ferocidade do inimigo, provaram que sua capacidade combativa, seu nível de consciência e de organização e sua determinação estavam elevados. Deram a medida do que seria possível realizar a fim de ampliar e levar adiante a resistência armada popular, de acordo com a orientação do PCdoB.
Tudo isso feito com armas precárias, com recursos pequeníssimos, lembrou. A experiência do Araguaia representara, inegavelmente, segundo Pedro Pomar, uma tentativa heroica para criar uma base política e dar continuidade ao processo revolucionário, sob a direção do Partido. Tinha em vista formar uma sólida base de apoio no campo e desenvolver o núcleo de um futuro exército popular, poderoso, capaz de vencer as Forças Armadas a serviço das classes dominantes e do imperialismo ianque.
Nesse ponto, Pedro Pomar deixou os elogios e entrou nos questionamentos. Segundo ele, continuava sendo difícil avaliar todo o significado da luta armada no Araguaia. Qual, de fato, era o seu alcance histórico? Dera os resultados que dela se esperava? Compensara o sacrifício dos combatentes que lá tinham sido mortos, dos melhores com que o PCdoB contava? Onde a notícia daquele notável feito chegava, suscitava admiração, simpatias, apoio. Nas fileiras comunistas, acendera entusiasmos, esperanças. Os resultados da luta armada do Araguaia testemunhavam de modo eloquente que o PCdoB estava abandeirado da liberdade e da independência nacional. Era o inimigo ferrenho da ditadura militar-fascista, consequente defensor da democracia para as massas populares.
De acordo com ele, entre as correntes patrióticas do país e os amigos do Partido no estrangeiro o acontecimento foi saudado com júbilo, com manifestações de expectativa favorável. Quanto às repercussões entre os inimigos dos comunistas, bastava ver como se mobilizaram para liquidar no nascedouro a luta armada, impedir qualquer divulgação sobre a Guerrilha e perseguir sem piedade os que a auxiliaram. Aquele era o sentido mais geral, político, do significado do Araguaia, escreveu. Não havia dúvida, tivera o valor de uma iniciativa histórica. Representava um esforço abnegado, de sangue, para abrir caminho ao impasse em que vivia o país, indicando ao povo os rumos da sua luta.
Dura realidade
Vencidas essas duas etapas da avaliação, entretanto, seria preciso enfrentar a dura realidade, disse Pedro Pomar. Passou rapidamente pelas etapas dos combates e se deteve no relatório de Ângelo Arroyo. A primeira contestação foi sobre a possibilidade de retomada da luta iniciada em abril de 1972. O documento não esclarecia se ela seria com os mesmos elementos e fatores, ou se com outros novos. Julgava que Arroyo não tinha razão. Ao examinar a derrota, do ponto de vista dos objetivos estratégicos e táticos traçados pelo PCdoB, e justificados no relatório, a derrota no Araguaia não poderia ser considerada temporária.
Segundo Pedro Pomar, esses objetivos consistiam em conflagrar a área, libertá-la e convertê-la, com o tempo, em uma sólida base de apoio. Não havia como fugir da amarga constatação de que ao cessar a resistência organizada, ao não ter alcançado nenhum dos objetivos a que tinha se proposto, a Guerrilha, apesar dos resultados positivos apresentados, sofrera uma derrota completa, e não temporária.
Infelizmente, escreveu, o Comitê Central teria de aceitar a dura verdade de que o resultado fundamental e mais geral da batalha heroica travada fora o revés. Mesmo que o processo armado fosse retomado, o lapso de tempo se tornara grande e as condições se apresentavam de modo distinto. Não seria uma retomada no mesmo nível, se intensificaria o processo anterior, embora os personagens pudessem ser os mesmos: mata, massas, Partido e tropas inimigas. Era preciso, pois, admitir praticamente o início de outro processo, conquanto beneficiado pela dolorosa experiência anterior.
Pedro Pomar seguiu analisando o relatório de Ângelo Arroyo, segundo ele contraditório em certos pontos. Um deles era o erro de não dispersar as forças guerrilheiras, não mudar de tática à medida que a repressão modificava seus métodos. Outro foi a subestimação do inimigo. Outro, ainda, que as demais áreas não corresponderam ou não foram levadas em conta. Eram erros que poderiam ser creditados, segundo Arroyo, a faltas da Comissão Militar.
Pedro Pomar disse que o relatório não formulara as críticas necessárias e ao abordar o aspecto político assegurava apenas que o desencadeamento da luta armada se deu em condições favoráveis porque os guerrilheiros apareceram como vítimas. Ficou nisso. Não analisou, sequer sumariamente, a conjuntura nacional dos princípios de 1972, que não era nada favorável, nem examinou a situação do Partido, tanto naquela fase como posteriormente.
Segundo ele, o papel da militância do PCdoB no apoio à preparação e à luta no Araguaia precisava ser analisado. Os golpes desferidos pela repressão nas organizações partidárias das cidades, que isolaram a Guerrilha, não foram respondidos à altura. Esse era um fator que o relatório de Arroyo deveria ter contemplado. A situação do campo também não comparecia, nem mesmo a do Sul do Pará. Arroyo enumerara outras debilidades, como o não aproveitamento de pessoas das massas na Guerrilha, a falta de uma rede de comunicação e a ausência do Partido na periferia. Mas não se aprofundou nelas, criticou Pedro Pomar.
Os detalhes da preparação da Guerrilha e as formas que a luta armada tomou, minuciosamente analisadas por Pedro Pomar, contrariavam, segundo ele, frontalmente a orientação sobre a guerra popular. As causas apresentadas, disse, eram que naquelas condições brasileiras seria impossível criar a base política antes de se forjar e acionar o dispositivo militar, o braço armado do povo. Sob a alegação da impossibilidade de ganhar gente de massa para a Guerrilha antes de deflagrar a luta armada e que, portanto, o núcleo guerrilheiro deveria ser organizado de início só com comunistas, enveredou-se pelo caminho que levou aos resultados que estavam sendo discutidos.
A vida encarregou-se de mostrar, na avaliação de Pedro Pomar, que aquele tipo de preparação e a organização de guerrilheiros, só de comunistas, não permitiriam sua sobrevivência nem o seu desenvolvimento. Por mais conspirativa que fosse a preparação, o inimigo poderia descobri-la “antes da criança nascer”. Por mais heroicamente que se comportassem os combatentes comunistas, isolados das massas, sem seu apoio ativo, seriam batidos. Por mais eficiente que fosse a direção militar, com tal concepção seria derrotada. Por tudo que dissera, a orientação seguida no Araguaia teria de ser modificada em suas linhas essenciais.
Pedro Pomar disse que insistia na opinião sobre a preparação da luta armada como tarefa de todo o Partido e não apenas de alguns especialistas. A ausência de organização dos comunistas, tanto dentro da área como em sua periferia, no Sul do Pará, fora mais que uma deficiência — constituiu-se em um grave erro de princípio. Não deveria ser repetido. O Partido não atrapalhava, antes facilitava, promovia, impulsionava, organizava, sustentava e dirigia todo o processo. A importância da guerra popular naquela circunstância exigia que o assunto fosse exaustivamente debatido.
A correlação entre os fatores favoráveis e os desfavoráveis continuava a ser o fundamental no exame da preparação para o desencadeamento da luta armada. O inimigo ainda estava forte (relativamente), adquirira experiência, encontrava-se sobressaltado, temeroso de que surgissem novos desafios à sua prepotência, de que os conflitos no campo se alastrassem, de que nas cidades ocorressem explosões. Por outro lado, o povo brasileiro estava mais disposto do que nunca a livrar-se da ditadura militar-fascista, buscava meios e formas de sacudir o jugo de seus exploradores e opressores.
Segundo Pedro Pomar, o PCdoB também estava melhor preparado. Apesar dos duros golpes e das sérias perdas que sofrera, já não era o mesmo de 1972. Ganhara experiência. Para transformar as condições desfavoráveis, contudo, cumpria aos comunistas persistirem na política de frente única, centrando mais esforços para ganhar as grandes massas operárias e camponesas.
O Partido deveria revolucionarizar mais suas fileiras, defender com firmeza sua organização e acelerar a preparação militar. Tudo indicava que os horizontes estavam se clareando para o povo brasileiro. A bandeira da luta armada que empunharam tão heroicamente e pela qual se sacrificaram os combatentes do Araguaia deveria ser erguida ainda mais alto. Se os comunistas conseguissem de fato se ligar às grandes massas do campo e das cidades, e ganhá-las para a orientação do PCdoB, não importava qual fosse a ferocidade do inimigo, com toda certeza a vitória seria dos revolucionários, concluiu.]
Violência revolucionária
Com o debate em desenvolvimento, a reunião da Comissão Executiva realizada em agosto de 1976 aprovou o documento Gloriosa jornada de lutas como primeira opinião pública do PCdoB sobre a Guerrilha do Araguaia. Os ajustes promovidos pelo debate permitiram que ele fosse publicado na edição de 5 de setembro de 1976 do jornal A Classe Operária. Era uma forma de divulgar aquele evento, pouco conhecido em boa parte por conta da férrea censura que tudo fazia para ocultá-lo. Seu significado político e os ensinamentos que encerrava precisavam ser salientados e difundidos, segundo o PCdoB.
A última participação de Pedro Pomar no debate ocorreu na reunião do Comitê Central de 14 e 15 de dezembro de 1976 — no dia 16 de manhã ocorreu a “Chacina da Lapa”, quando ele foi brutalmente assassinado pela ditadura. A VII Conferência do PCdoB, de junho de 1979, aprovou a versão de agosto de 1976 do documento Gloriosa jornada de lutas como ponto de partida para a sistematização daquela experiência de luta armada. Era um avanço do debate, naquele momento, com incorporações de opiniões de Pedro Pomar, como demonstram os documentos existentes que registram o debate que se travou nas reuniões de 1976. O VI Congresso do PCdoB, realizado em 1983, completou o longo e intenso debate sobre a “violência revolucionária”, aprovando um extenso documento que sistematizou a opinião dos comunistas sobre o assunto.