Sendo materialistas devemos dizer que somos aquilo que representamos social e politicamente. Assim sendo, nunca somos ou seremos algo puro, em estado natural, dissociado da sociedade e do mundo material. Nesse sentido, diante do aniversário 90 do nascimento de Fidel, muitos tem destacado o grande líder, guerrilheiro, internacionalista, solidário, lutador, guia, e outros tantos adjetivos que servem para denominar essa figura extraordinária que é nosso comandante. Fidel é tudo isso. Mas além disso, sintetiza um largo processo de construção e fortalecimento da consciência e identidade nacional cubana. Entretanto, não qualquer identidade nacional, mas aquilo que Fernando Martinez Heredia chama de patriotismo popular de justiça social (http://www.cubadebate.cu/opinion/2016/08/04/los-mas-humildes-tambien-crearon-la-nacion/#.V7MjL6ITyec).

A revolução, que triunfou em 59, construiu uma nova universalidade em torno da questão nacional em Cuba. Essa, por sua vez, ganhou caráter popular, antimperialista, socialista e revolucionária. Quando nos referimos a Cuba a associamos automaticamente ao socialismo, a revolução ou ao antimperialismo. Contudo, essa universalidade sobre o que significa ser cubano hoje é produto de um longo processo de lutas travadas por este povo pela sua libertação nacional. Mais que isso, é parte dela. Por isso, Fidel afirmara que “Nuestra Revolución, con su estilo, con sus características esenciales, tiene raíces muy profundas en la historia de nuestra patria. Por eso decíamos, y por eso es necesario que lo comprendamos con claridad todos los revolucionarios, que nuestra Revolución es una Revolución, y que esa Revolución comenzó el 10 de Octubre de 1868” (http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1968/esp/f101068e.html). Assim, ao celebrar a data que marca o levantamento liderado por Carlos Manuel de Cespedes, o comandante traça um caminho próprio do povo cubano rumo a sua identidade nacional e a sua própria libertação.

Esse caminho, assim como o de inúmeras nações, foi tortuoso, cheio de espinhos, acidentes, encontros e desencontros. Mais uma vez Fidel se refere a essa jornada: “Quizás para muchos la nación o la patria ha sido algo así como un fenómeno natural, quizás para muchos la nación cubana y la conciencia de nacionalidad existieron siempre, quizás muchos pocas veces se han detenido a pensar cómo fue precisamente que se gestó la nación cubana y cómo se gestó nuestra conciencia de pueblo y cómo se gestó nuestra conciencia revolucionaria”. Afirmar que o caminho trilhado pelo povo cubano até a sua libertação não quer dizer que este tenha sido harmonioso ou homogêneo. Foram muitas as batalhas até identificar a independência nacional com a emancipação social e superar visões anexionistas ou mesmo subalternas de vários setores.

É nesse contexto que possuem destaque Martí e Maceo como símbolo da unidade entre o nacional e o popular que aqui aparecem de maneira separada unicamente para fins didáticos, uma vez que, a grande obra desse período reside na unificação destes dois conceitos como diz novamente Heredia: “La insurrección solo podría iniciarse y ganar vigor y solidez si se unían los veteranos que seguían deseosos de volver a pelear y los jóvenes decididos a pelear. La labor magnífica de Martí creó las condiciones y el ámbito para ese inicio exitoso. Hay que insistir en que –a diferencia de 1868– la conspiración antes de la guerra fue plurirracial: activistas, contactos y jefes eran de todos los colores. Y en que al ser Oriente el teatro factible del inicio, el inmenso prestigio de Guillermo Moncada fue símbolo y llamado a luchar mientras se esperaba a Martí y Maceo. El protagonista de Baraguá (Maceo) era el héroe más admirado y famoso por su valentía, rectitud revolucionaria e inteligencia, y el pueblo de Oriente salió a la guerra cuando supo que había llegado a Cuba. La nueva política revolucionaria veía en Martí al apóstol y al presidente de la futura república.” Assim, Maceo era o símbolo do povo em luta pela sua emancipação que só seria exitosa com a completa independência nacional expressada na liderança de José Martí. Esse elemento influiu significamente sobre a identidade nacional cubana onde o intelectual cubano nos ajuda novamente quando afirma que “La Revolución del 95 transformó al negro de Cuba en el cubano negro, y hasta hoy ese orden identitario nunca ha cambiado. La especificidad y el orgullo de raza se expresaron a través del patriotismo. (…) Los negros y mulatos entraron a la Revolución como negros cubanos y en ella conquistaron con sus méritos una identidad nacional que nadie les donó, y de la que fueron tan creadores como el que más.” Nesse contexto, a liderança de Martí se transormara nesse elemento de coesão nacional em torno da emancipação social do povo cubano.

A sagacidade de Fidel está em perceber que esse era, e é, o caminho cubano para sua emancipação e a sua soberania para decidir seu próprio futuro. Ao desenvolver o projeto martiano, Fidel introduziu o elemento que complementaria esse caminho compreendendo que “la Revolución es el resultado de cien años de lucha, es el resultado del desarrollo del movimiento político, de la conciencia revolucionaria, armada del más moderno pensamiento político, armada de la más moderna y científica concepción de la sociedad, de la historia y de la economía, que es el marxismo-leninismo; arma que vino a completar el acervo, el arsenal de la experiencia revolucionaria y de la historia de nuestro país. Y no solo armado de esa experiencia y de esa conciencia, sino pueblo que ha podido vencer los factores que lo dividían, las divisiones de grupo, los caudillismos, los regionalismos, para ser una sola fuerza, para ser un solo pueblo revolucionario.” Por isso Fidel deve ser entendido como um continuador, e um materializador da obra de Martí que é, por sua vez, a obra de todo o povo cubano.

Sem isso não será possível compreender o que Fidel representa para Cuba e para o povo cubano. Sua liderança é a materialização da unidade nacional do povo pela sua independência nacional e por justiça social. Para Fidel, o triunfo da revolução depende da unidade de todos os cubanos. Raul já afirmou que as tarefas atuais da Revolução Cubana são mais difíceis do que aquelas apresentadas em 59. Hoje, se trata de atualizar seu modelo econômico, construído ao longo de quase 60 anos pela revolução e o povo cubano, reforçando os princípios que a nortearam, tendo que enfrentar um Imperialismo que busca atualizar suas formas de dominação e sua política com relação à ilha. A atualidade do pensamento “fidelista” reside exatamente na visão de que; assim como em 1868, 95 ou em 1959; mais uma vez o povo cubano é chamado a unir-se para fazer triunfar sua obra. Obra esta de todo um povo que quando vê Fidel, enxerga a si próprio como um espelho, bem sintetizado por Fernando Martinez Heredia quando diz que “Cuba fue colonia o neocolonia durante cuatrocientos cincuenta años de su historia, desde que llegaron los colonizadores europeos hasta el triunfo de la Revolución en 1959. Durante poco menos de sesenta años ha estado liberada, y el pueblo cubano es el dueño de ella y de sí mismo. Cuba solo pudo lograr cambios colosales a favor de las personas, la sociedad y la nación mediante su sistema de socialismo de liberación nacional.” e por Ricardo Alarcón, ex presidente da Assembleia do Poder Popular: “Cumple ahora noventa años el hombre que debió enfrentar más de seiscientos planes de atentados contra su vida y cuya muerte ha sido anunciada en incontables ocasiones por la propaganda imperialista. Quizá algún día sus enemigos deberán admitir que nunca lo podrán matar. Porque Fidel y su pueblo son uno y lo mismo. Y ese pueblo, en gran medida gracias a él, es invencible (http://www.cubadebate.cu/opinion/2016/08/04/apuntes-de-un-veterano-fidelista/#.V7Mjd6ITyec).”

Mateus Fiorentini é estudante do Curso de História da PUC-SP, Assessor da Vice Presidência Nacional do PCdoB e membro da seção paulista da Fundação Maurício Grabois.