João Amazonas na Unicamp (1999)
Em abril de 1999, o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Prof. Hermano Medeiros Ferreira de Tavares, convidou João Amazonas para uma visita.
O presidente do PCdoB era, naquele momento, um dos principais expoentes do movimento Terra, Trabalho e Cidadania que reunia os partidos de esquerda e os movimentos sociais críticos ao neoliberalismo. Sua longa trajetória rendeu uma entrevista histórica em que Amazonas opina sobre momentos altos da vida partidária.
A visita à Unicamp iniciou com um café da manhã com o reitor. Presentes também o então deputado estadual do PCdoB Jamil Murad, o presidente estadual do PCdoB em São Paulo, Walter Sorrentino, além de outros dirigentes partidários, professores e funcionários da universidade.
Seguiu-se a visita com a presença de Amazonas no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), onde concentra importante acervo da história da esquerda brasileira. Um dos itens que é mostrado a Amazonas é o jogo de xadrez que Pedro Pomar construiu na prisão. No AEL também estavam o então doutorando, Diorge Konrad; Eduardo Debrassi, Carlinhos Artioli, Sérgio Benassi e João Raimundo Souza Mendonça (Kiko).
Na entrevista à comunicação da universidade, João responde sobre o início da sua militância partidária e o que significava aderir ao Partido Comunista nos anos 1930. Trata da dinâmica interna de organizações como no partido comunista e disserta sobre a cisão que ocorreu no início da década de 1960. E fala sobre a Conferência Extraordinária de 1962, quando se reorganizou o Partido Comunista do Brasil, fundado em março de 1922.
Aborda, ainda, a recém eleição presidencial que reelegeu Fernando Henrique Cardoso, o primeiro a ser reeleito — a partir de uma emenda que teve compra de votos. Apontado como um processo eleitoral viciado. Critica o ataque da OTAN que destruiu as bases política, econômica e estrutural da então Iugoslávia. É a ação violenta do imperialismo em tempos de paz.
Ao falar sobre o socialismo, João afirma que “é o produto de um exame aprofundado das contradições que existem na sociedade”. O capitalismo não é uma forma de dinâmica da sociedade que não tem fim. É um modo de vida, que um dia foi revolucionário, mas que hoje está em agonia, levando a humanidade para a barbárie.
Para ele “o socialismo passa por grandes dificuldades. Esse problema da derrota da URSS e leste europeu causou grandes danos à luta dos povos por sua libertação”. O fracasso e suas motivações não são inerentes ao sistema socialista. Foram erros da construção desta primeira tentativa de edificação do socialismo. João traz a tona, e em poucas palavras, toda discussão do 8º Congresso do PCdoB (1992) que fez um minucioso balanço da experiência soviética. “Não tenho a menor dúvida. O socialismo será vencedor no mundo inteiro. Quando não se pode dizer, pois é um processo de luta demorado e difícil. E para vencer é necessário que a gente aprenda também pelos erros cometidos.”
Sobre outra elaboração cara aos comunistas, João Afirma: “Não existe modelo único de socialismo. Isso é anticientífico. E a gente copiou isso na época da URSS. Era como se o modelo soviético pudesse se copiar em qualquer lugar do mundo.” A revolução e o socialismo são produtos da dinâmica interna dos países. Ligados à sua história, sua sociedade e suas características.
A entrevistadora pergunta a Amazonas sobre a visita à universidade: “É com grande alegria que recebi o convite do reitor para visitar a Unicamp. A Unicamp é uma das mais prestigiosas universidades do Brasil.”
Ao final, João conversou com professores, estudantes e funcionários da Unicamp. Entre eles Armando Boito Jr., Diorge Konrad, Márcio Pochmann, Paulo Miceli, Wilson Cano, Walter Sorrentino, Jamil Murad e outros dirigentes.