65 livros para adquirir no 3º salão do livro político.
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O centenário da Revolução Russa é uma efeméride que vai muito além do fato propriamente dito. Nela está contido um processo histórico de conquistas civilizatórias, como o acelerado progresso social, as transformações políticas revolucionárias e a evolução científica – aspectos essenciais do ideal socialista ressaltados neste livro. Com ele, a Fundação Maurício Grabois apresenta um conjunto de textos de pesquisadores e estudiosos, abrangendo um amplo leque de temas que compõem o legado e as lições da experiência socialista inaugurada com a Revolução de 1917.
2. Aracy de Almeida – não tem tradução, de Eduardo Logullo (Editora Veneta) 216 p.
Jurada de programa de calouros, cantora de prestígio, principal intérprete de Noel Rosa, frequentadora das altas rodas da malandragem e do high society carioca. Em “Aracy de Almeida – não tem tradução”, o jornalista Eduardo Logullo apresenta as diversas facetas de uma das maiores artistas brasileiras. São trechos de entrevistas e programas de TV, frases de efeito, além de depoimentos de alguns dos principais nomes da cultura nacional, como Caetano Veloso, Jorge Mautner, Elza Soares, Ary Barroso, Carmen Miranda, Mario de Andrade, entre tantos outros.
Nascida em 1914, no Encantado, subúrbio do Rio, Aracy de Almeida estreou no rádio na década de 1930, pelas mãos de Noel Rosa, e logo tornou-se uma das principais vozes do samba carioca. Foi a responsável pelo diálogo inovador entre as ruas do Rio de Janeiro, os botecos da Lapa, e a música que chegaria às gravadoras e rádios. Nos anos 1970, Aracy migrou para a TV e ficou nacionalmente famosa como jurada dos programas Cassino do Chacrinha e Show de Calouros, do Silvio Santos. Com seu jeitão rabugento, desbocado e frases de efeito, tornou-se um ícone da cultura popular brasileira.
O livro não pretende fazer um retrato biográfico e cronológico da trajetória de Aracy. Pelo contrário, a proposta é justamente mostrar diferentes olhares, versões e visões da artista e de seus admiradores e parceiros. E registrar a rica verborragia da cantora, cujo repertório incluía citações da Bíblia, filósofos alemães, poetas simbolistas, palavrões e gírias tão diversas que constituíam praticamente um dialeto próprio. Fotos raras das diversas fases da carreira da artistas e ilustrações de artistas como Patrício Bisso completam a edição.
3. Armamento das massas revolucionárias, Vo Nguyen Giap (Edições Nova Cultura) 206 p.
Obra importante do revolucionário vietnamita Vo Nguyen Giap, que transpassa a tradição de luta do heroico povo do Vietnã contra o agressor estrangeiro durante séculos. O autor, considerado por muitos o maior general que já existiu, demonstra, passando pelas teses marxista-leninistas de organização militar das massas desenvolvidas por Marx, Engels e Lenin, até a tradição vietnamita de guerra de todo o povo contra os invasores travadas ao longo das centenas de anos de sua heroica história, os fundamentos que devem guiar o armamento das massas revolucionárias e a edificação do exército do povo, na luta pela construção da nova sociedade socialista.
4. Bloco de esquerda e Podemos, de Reginaldo Moraes (Fundação Perseu Abramo) 138 p.
Este livrinho procura descrever a evolução desses dois partidos-movimentos: sua origem, suas práticas, suas formas de organização e legitimação, seus projetos e programas, sua composição (militantes, dirigentes, simpatizantes, filiados, votantes).
A narrativa utiliza materiais já produzidos sobre o tema. Há já alguns livros e artigos sobre o fenômeno Podemos. Sobre o Bloco de Esquerda, embora mais antigo, há menos material escrito, mas muita imprensa, porque o BE, mesmo quando era pequeno, fazia barulho e encarava a direita como gente grande.
A estrutura do livro é simples: uma seção introdutória, sobre o contexto de surgimento dos novos partidos-movimento, depois a descrição dos dois casos, com algumas ilações (a nota final) sobre o que significa esse novo fenômeno e o que ele pode sugerir para nós. A seguir, um anexo com entrevistas e depoimentos dos personagens, isto é, de lideranças dos dois grupos.
Um aspecto curioso dessa história é que mais de uma vez Iglesias e seus companheiros de Podemos mencionaram a emergência de governos progressistas na América Latina como inspiração para os espanhóis. Talvez seja o caso de inverter o olhar, agora. Pelo menos parcialmente. Talvez eles inspirem alguma criatividade na esquerda brasileira, em um momento em que, seguramente, precisa reinventar a si própria. No prefácio do Capital, Marx alertava os alemães para o fato de que, falando do avanço do capitalismo na Inglaterra, isso não queria dizer que a Alemanha estava fora da foto. E repetia uma frase latina: é tua a estória que contamos. Talvez pudéssemos dizer o mesmo aos brasileiros, nesta estória sobre portugueses e espanhóis. Mas há uma frase chilena que também nos avisa a identificar as semelhanças sem confundi-las: no es lo mismo pero es igual.
A história da condição da mulher brasileira não foge à regra universal da opressão do feminismo ao longo dos tempos. Reunindo algumas ações individuais e coletivas de mulheres brasileiras – incluindo a repressão específica às mulheres durante a ditadura – com uma vivência no movimento feminista de São Paulo, a autora incita a pensar na possibilidade de criar um novo pensamento, prática e ação, diferente do poder patriarcal.
6. Caio Prado Júnior – uma biografia política, Luiz Bernardo Pericás (Boitempo Editorial) 504 p.
O livro de Luiz Bernardo Pericás sobre a trajetória do Caio Prado Júnior traz novas e surpreendentes perspectivas para a compreensão da vida e do papel desse grande intelectual, o mais importante historiador brasileiro do século XX. Marxista, filho de família oligárquica paulista (com a qual rompeu), tornou-se conhecido pelas obras-chave que escreveu para o deciframento de nossa sociedade. Nesta densa biografia, baseada em documentos (em sua maioria inéditos), entrevistas e vasta bibliografia, surge um outro Caio Prado, em suas relações com o PCB e com outros intelectuais marxistas (ou não). Suas leituras, viagens (para União Soviética, China e Cuba, por exemplo), prisões e sua visão sobre temas como reforma, revolução, socialismo, questão agrária e o Brasil em perspectiva histórica constituem referência decisiva para a esquerda neste país tão desencontrado. “Muito atrasado…”, segundo Caio. Carlos Guilherme Mota
7. O Capital – Livro 3, de Karl Marx (Boitempo Editorial) 984 p.
Certamente um dos livros mais aguardados do ano é o Livro III da obra-prima de crítica da economia política de Marx, O capital. Intitulado “O processo global da produção capitalista”, o texto procura conjugar as análises do Livro I (dedicado ao processo de produção do capital) e do Livro II o (dedicado ao processo de circulação do capital).
Embora possa ser considerado em muitos sentidos o ápice da obra de Marx – é nele que está contida, por exemplo, a famosa apresentação do problema da queda tendencial da taxa de lucro, bem como toda a discussão sobre capital de comércio financeiro –, o Livro III de O capital é também um texto muito delicado, porque não chegou a ser finalizado em vida pelo autor, sendo editado posteriormente por Friedrich Engels. Por isso é tão importante o fato de a edição da Boitempo ser a primeira realizada a partir dos documentos da MEGA-2 (Marx-Engels-Gesamtausgabe), que traz a mais completa e minuciosa apuração dos manuscritos, notas e apontamentos de Marx e das opções de Friedrich Engels para a publicação. (Sara Graneman)
8. Castro Alves – imagens fragmentadas de um mito, de Edilene Matos (EDUC) 219 p.
Releitura de Castro Alves na contramão do Romantismo, demonstrando que o poeta, em sua luta contra a escravidão e contra a mordaça imposta pelo poder no Brasil, encarnou a voz do povo de seu tempo. A sonoridade de sua poesia, de fácil memorização, a oratória inflamada e os versos declamados em público como manifestos contribuíram para formar o imaginário popular a partir do que a autora chama de uma “estética da performance”.
Desde a proclamação da República já existiam no Brasil partidos políticos que se diziam operários. Mais recentemente, pudemos presenciar a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Marco histórico na vida da República brasileira, pois assinalou, pela primeira vez, a chegada ao Poder Executivo de um representante da classe trabalhadora, onde até então só haviam ocupado o cargo membros ou representantes da elite político-econômica brasileira. Esse fato foi resultado de uma longa trajetória, que se iniciou, efetivamente, nos anos de 1920.
A Classe Operária vai ao parlamento traz o exame dessa trajetória, de quase um século, do Bloco Operário. Devido à grande abrangência do tema, a obra se foca nos acontecimentos da cidade do Rio de Janeiro, onde se constituiu a experiência de maior visibilidade. Excetuando-se apenas um episódio referente ao município de Santos, onde pela primeira vez, em 1925, os comunistas tiveram sua disputa eleitoral.
O assunto do Bloco Operário é ainda um tema atual em nossa história política, propiciando elementos de reflexão ainda hoje válidos: seja pelas reivindicações dos trabalhadores que continuam sem atendimento, seja pelas práticas políticas da elite brasileira, seja pela apropriação privada dos mandatos políticos praticada por essa mesma elite ou ainda por uma série de outros temas com os quais iremos nos defrontar nas páginas do livro.
Uma epopeia democrática. Ao tomar posse na Assembleia Nacional Constituinte, em 1º de fevereiro de 1946, a bancada do Partido Comunista do Brasil, então com a sigla PCB, começou a escrever uma das mais importantes passagens da história democrática brasileira. Daquela data até o mês de setembro, quando a Constituição foi promulgada, o Palácio Tiradentes – na cidade do Rio de Janeiro, a então capital da República – foi palco de intensos debates nos quais a bancada comunista demonstrou a fibra de um Partido que contava com 24 anos de existência e que chegaria aos 95 anos, nos dias atuais. Este livro Os comunistas e a Constituinte de 1946, do conceituado jornalista e pesquisador José Carlos Ruy, apresenta um painel detalhado daquela epopeia. Ele percorre os meandros da disputa política que representava os cenários da época e mostra a relevância que os comunistas adquiriram no processo de redemocratização do país com os enfrentamentos ao nazi-fascismo desde o Levante de 1935. Renato Rabelo
11. A condição política na pós modernidade, de Madalena Guasco Peixoto (EDUC) 307 p.
As pretensões do neoliberalismo que varre o mundo contemporâneo evitam o enfrentamento do desafio básico de nosso existir histórico, o da necessária construção da democracia e da cidadania. Ao mesmo tempo que vai impondo, sob o pretexto da inevitável globalização, padrões supostamente universais nas esferas da vida econômica, política e cultural, o neoliberalismo estimula propostas teóricas que funcionam como suas bases de legitimação de cunho ideológico. A explicar os fundamentos da pós modernidade, a autora questiona sua efetiva participação na construção da democracia pela via da educação, analisando criticamente as relações entre a educação e a democracia e denunciando contrassenso da proposta pós moderna de querer relacionar a educação com o fim da democracia. Antônio Joaquim Severino
As grandes interpretações do Brasil, de Gilberto Freyre a Celso Furtado, não alcançaram os períodos mais recentes de nossa história. Em A construção política do Brasil, Luiz Carlos Bresser-Pereira elaborou uma análise ampla e coerente do desenvolvimento brasileiro desde a Independência até os governos de FHC, Lula e Dilma. Baseado em dois temas fundamentais – a estruturação das coalizões de classe que se sucederam no poder e a disputa entre o liberalismo econômico e o desenvolvimentismo -, este ensaio constitui ao mesmo tempo uma síntese da produção intelectual do autor e uma verdadeira aula sobre a história do país. Nova edição, revista e atualizada pelo autor, incluindo o final do governo Dilma Rousseff.
13. Crime e castigo, de Fiodor Dostoievski (Editora 34) 592 p.
Publicado em 1866, Crime e castigo é a obra mais célebre de Fiódor Dostoiévski. Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria: grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História. Este ato desencadeia uma narrativa labiríntica que arrasta o leitor por becos, tabernas e pequenos cômodos, povoados de personagens que lutam para preservar sua dignidade contra as várias formas da tirania.
Esta é a primeira tradução direta da obra lançada no Brasil, e recebeu em 2002 o Prêmio Paulo Rónai de Tradução da Fundação Biblioteca Nacional.
14. As curvas do tempo, Oscar Niemeyer (Editora Revan) 320 p.
As curvas do tempo, é o livro de memórias de Oscar Niemeyer, uma das maiores personalidades deste século. A Editora Revan apresenta uma bela edição ilustrada com um caderno de fotos e com desenhos do autor feitos especialmente para o livro. Ferreira Gullar assina o texto de apresentação.
Niemeyer faz uma seleta de textos de caráter afetivo, quando um dos temas é a família, ou a arquitetura e as artes que a integram. Fala de livros e sobre os autores que sentia prazer em ler. O Brasil e o Rio de Janeiro (em especial a vista para o mar das janelas de seu escritório) que ele sempre sentia saudades quando passa muito tempo fora. É um diário pouco datado que oferece para o leitor uma visão de Niemeyer enquanto arquiteto, artista, escritor, criador, cidadão e amigo. Uma síntese autobiográfica.
Sensibilidade e nostalgia são os ingredientes desta obra literária na qual Oscar Niemeyer se revela um versátil contador de histórias. Ele escreve como desenha, tudo flui. Narra com afeto a infância vivida na casa dos avós em Laranjeiras, as divertidas aventuras da juventude, além da sua dedicação ao Partido Comunista, que o transformou num militante ativo. Ao longo de seus 91 anos sua biografia se confunde com a história social e política do Brasil.
Este livro foi editado em 1994, num momento em que o Brasil estava intensificando a adesão ao neoliberalismo. Então, ele foi muito importante para compreender como as dinâmicas raciais no Brasil estão articuladas com o modelo capitalista e a luta de classes. É importante retomar essa discussão, e esse livro tem um papel fundamental, porque a luta contra o racismo, hoje, entra num novo patamar. Como superar o racismo num projeto político que tenta superar o neoliberalismo, entretanto, existem forças conservadoras que ainda atuam no sentido de impedir esse avanço. Então, nós atualizamos o prefácio, recontextualizando a obra no momento que nós vivemos hoje, mostrando que as interpretações do Clovis Moura sobre a questão racial que têm uma visão marxista são muito importantes para o movimento negro contemporâneo.
Essa obra permite a compreensão da constituição e do desenvolvimento do modo de produção capitalista, bem como das principais categorias de análise a partir das quais Marx elaborou sua genial crítica. Mantendo-se fiéis à impostação teórico-metodológica do filósofo alemão bem como incorporando às suas lições o que mais fecundo produziu a chamada tradição marxista, os autores fornecem os elementos principais para o debate sobre as condições de existência do capitalismo e, o que é mais importante de sua superação rumo a uma organização societária onde o ser social possa realmente ver-se emancipado dos processos alienantes e potencialmente barbarizantes impostos pelo capital. Elisabete Borgianni
17. O enigma chinês, de Wladimir Pomar (Fundação Perseu Abramo) 446 p.
Em ‘O enigma chinês’, Wladimir Pomar estuda a história chinesa e seus acontecimentos pelo ângulo materialista. Procura nas condições econômicas e sociais as explicações para as decisões e ações políticas que transformaram o antigo ‘país do meio’. A herança de atraso e miséria legada pela velha geração feudal, capitalista burocrática e imperialista é repassada para mostrar os condicionamentos a que foi submetida a geração que fez a revolução e passou a construir a nova sociedade. O livro traça os contornos do socialismo à chinesa, com seus componentes principais e seis contrastes.
18. Escritos (2v.) – Ho Chi Minh (Edições Nova Cultura) 430 p.
Primeiro dos dois volumes da seleção de textos do comunista vietnamita Ho Chi Minh, este abrange uma parte considerável da trajetória revolucionária do homem que dirigiu o povo do Vietnã na luta contra o imperialismo e pela libertação nacional da Indochina. Os textos recolhidos aqui vão de 1919 a 1954, perpassando várias etapas da vida de Tio Ho, como ficou conhecido entre seu povo, desde sua formação a partir de Lenin, seu testemunho da violência contra os povos coloniais, sua atuação na Internacional Comunista, formação do Partido Comunista do Vietnã, a heroica batalha liderada por ele contra a colonização francesa, contra a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial e a intervenção do imperialismo norte-americano, além do seu papel à frente da luta pela libertação nacional e pela revolução de Nova Democracia no Vietnã.
Segundo volume da seleção de textos do comunista vietnamita Ho Chi Minh, que abrange a etapa final de sua vida revolucionária, na luta pela vitória final contra o imperialismo estadunidense e pela total libertação do seu povo. Os textos recolhidos vão do início da Guerra do Vietnã, quando da agressão da coalização dirigida pelo governo norte-americano até a morte do Tio Ho. Compõe o volume importantes documentos sobre a construção socialista no Norte do Vietnã e a luta contra a agressão imperialista, além de trabalhos sobre moralidade revolucionária, o papel de Lenin e a Revolução de Outubro na luta dos povos asiáticos, além de balanços sobre a trajetória de luta do Partido Comunista do Vietnã. Por fim, como apêndice publicamos também uma seleção de poemas de Ho Chi Minh, escritos durante o tempo em que ficou preso na China.
A obra A escuta singular de Pixinguinha, de Virgínia Bessa, procura desvendar alguns intricados aspectos da trajetória de Pixinguinha. Reconstruindo o painel cultural e musical da capital republicana nas primeiras décadas do século XX, a historiadora procura compreender a multiplicidade de caminhos que se apresentam ao músico e explicita as escolhas feitas por ele nesse rico e aberto painel de tempos e possibilidades históricas.
20. Esquerda Militar no Brasil, de João Quartim de Moraes (Expressão Popular) 238 p.
É comum identificarmos os militares com a repressão aos movimentos sociais e o exercício ditatorial do poder político. Alguns importantes fatos historicamente mais recentes – como o golpe militar de 1964, a tragédia de Volta Redonda, a repressão à greve dos petroleiros e a recente ‘qualificação’ do batalhão de Campinas para reprimir os movimentos populares e sociais – são provas da presença ativa, política e repressora, das Forças Armadas nos rumos da política brasileira.
Historiadores liberais situam na proclamação da República o início de um longo ciclo de intervenções militares na política. Preferem, claro, militares à moda inglesa ou estadunidense, massacrando povos e pilhando o planeta em nome da liberdade de comércio, mas sempre obedientes ao ‘poder civil’. Sem dúvida, a república nasceu, entre nós, de um golpe militar, o que vai se repetir em 1964, em contraposição à política reformista do então presidente João Goulart.
Como falar, então, de esquerda militar? Como explicar a inspiração moral e política dos jovens oficiais abolicionistas e republicanos que derrubaram o Império em 1889, dos ‘tenentes’ da década de 1920 e dos militares antiimperialistas da década de 1950? Como explicar a posição, ao longo dos anos de 1990, relativa à defesa da soberania nacional contra o rolo compressor do imperialismo estadunidense e de seus sócios, quando militares, embora longe de serem de esquerda, situam-se à esquerda dos governantes neoliberais?
Em busca da resposta a essas questões, o autor encontra indícios da origem de um pensamento progressista entre os militares em vetores morais e políticos ainda no Império. A partir de então, registra as diversas e importantes participações progressistas militares em capítulos importantes da história do país no século 20, recuperando para a nossa memória histórica a existência de setores progressistas – e mesmo do que ele denomina esquerda militar – nas Forças Armadas.
Esta obra é uma crítica contundente à subordinação de certa esquerda ocidental à ideologia liberal-burguesa. Um processo que a faz ausentar-se do combate à atual tendência de neocolonização do mundo e a torna refém do “terrorismo de indignação”, produzido pelo monumental aparelho midiático a serviço da hegemonia do imperialismo estadunidense. Mais do que garantir o predomínio das ideias das classes dominantes, ele impõe o monopólio das emoções.
Este mecanismo é tão poderoso que inibe a esquerda e a faz aderir ao lado mais forte da contenda, como pode ser observado no caso das últimas guerras travadas pelo “Ocidente” em nome dos “direitos humanos”.
Enquanto isso, a “plutocracia” – domínio das grandes fortunas – vai se impondo nos países capitalistas. A democracia, mesmo burguesa, perde substância e a riqueza hereditária não precisa acobertar-se sob o manto roto da ideologia meritocrática. Esses regimes poderiam mesmo ser definidos como “cleptocracias”, pois neles o domínio da riqueza se tornou o campo privilegiado da “criminalidade financeira”.
Ao lado dos super-ricos vai se formando “uma casta hereditária de pobres”. O muro de desigualdade – a “grande divergência” – foi trazido para o centro do capitalismo com o desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social.
A Esquerda Ausente é uma obra corajosa e segue na contramão do que certa esquerda ocidental – submetida à ideologia do império – vem produzindo nestas últimas décadas.
22. Estratégia e tática, de Marta Harnecker (Expressão Popular) 127 p.
Partindo de um estudo minucioso dos escritos de Lenin – elaborados na conformação de sua condução política durante a revolução russa – a autora oferece aos leitores os fundamentos teóricos dos conceitos de estratégia e tática. Estes conceitos estão estreitamente vinculados aos de correlação de classes e de correlação de forças que definem, em cada conjuntura, o elo decisivo da cadeia de acontecimentos e a flexibilidade necessária para buscar a melhor solução sem o abandono dos princípios fundamentais.
Por toda parte, na Europa, na Ásia, nas Américas, surgem autores criativos que conseguem olhar para o passado sem ficar presos à nostalgia ou à decepção, e que produzem uma crítica do pensamento revolucionário que é ao mesmo tempo renovadora e atenta às formas novas de contestação ao capitalismo que os movimentos sociais vão produzindo, com insuspeitada energia, mundo afora.
Este livro de Domenico Losurdo é obra fundamental nesse processo de retomada do pensamento de esquerda. Historiador e pesquisador eminente, o autor vai longe na pesquisa dos movimentos sociais que no passado tiveram auge e depois sofreram derrotas – desde a revolta dos judeus contra o Império Romano, mas detendo-se naturalmente com mais atenção na Revolução Francesa e na Comuna de Paris, a fim de situar e analisar no tempo a Revolução Russa -, com suas grandezas, suas fragilidades e sua herança.
A Revolução Chinesa, outro grande movimento que marcou o século XX, mas que permanece em constante evolução e desafia o entendimento do mundo político e intelectual, é o segundo grande tema do livro, que se enlaça com o primeiro e lhe dá sequência.
24. O golpe de 2016: a força do passado, de Historiadores pela democracia (Alameda Casa Editorial)
O livro Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado é um exercício de história imediata em função de uma denúncia grave: o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff põe democracia brasileira em risco.
Reunindo textos e depoimentos de historiadores com carreira consolidada e jovens profissionais de história, a obra apresenta um diagnóstico historiográfico sobre o conturbado momento político do Brasil.
Dentre os autores de Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado estão Sidney Chaloub, Luiz Felipe de Alencastro, James Green, Luiz Carlos Villalta, Kátia Gerab Baggio, Martha Abreu, Silvia Hunold Lara e Suzette Bloch, organizados pelas historiadoras Hebe Mattos, Tânia Bessone e Beatriz G. Mamigonian.
Avaliar o ciclo dos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff é tarefa complexa e essencial ao mesmo tempo. Abrange aspectos históricos, conjunturais e conceituais, e se insere no contexto internacional. Este livro tem esse espectro, uma contribuição de diferentes opiniões — quadros partidários, professores universitários, especialistas em vários temas constantes desta coletânea — que buscam compreender o significado daquela experiência, procurando situar os acontecimentos em seus devidos contextos. A síntese dessa abordagem é um painel que mostra o ciclo Lula-Dilma como acontecimento de grande amplitude, de notável legado ao país e ao povo, resultado do protagonismo da esquerda à frente de governo nacional constituído de construções políticas amplas, embora com limitações ditadas pelas circunstâncias da época — além de erros e insuficiências. O livro segue os esforços do campo político democrático de situar os diagnósticos das causas do golpe que interrompeu esse ciclo, alicerçados em uma ampla constatação de dados sobre os diferentes temas abordados.
Obra escrita pelo historiador soviético V. S. Riabov e pelo Marechal da URSS, V. I. Chuikov, conta a história da Grande Guerra Patriótica quando o povo da União Soviética se levantou na luta contra a invasão do agressor hitlerista e travou a luta ao fascismo de forma consequente até o final, quando içou a gloriosa bandeira vermelha no Reichstag em Berlim. Um registro importante dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial que garantiram a vitória dos aliados sobre a Alemanha e salvaram a humanidade da ameaça da besta nazifascista. Este volume ainda conta com um importante registro do Marechal Vorochilov, que explica o papel fundamental do camarada J. V. Stalin, importante condutor para a vitória dos soviéticos nesta guerra que marcou a história da humanidade para sempre.
Uma nova perspectiva do século XX, a partir de um denso balanço das revoltas modernas. Este livro é uma vigorosa resposta àqueles que pretendem desacreditar a história da luta emancipatória. Neste denso e original balanço das revoltas modernas, Domenico Losurdo identifica e recrimina uma tendência reacionária que tem crescido entre historiadores contemporâneos: o revisionismo. Articulando com maestria categorias filosóficas e políticas como guerra civil internacional, revolução e genocídio, o autor demonstra como as reais motivações dos revisionistas pouco têm a ver com o esforço para um melhor entendimento do passado; em vez disso, baseiam-se nas circunstâncias do presente e nas necessidades ideológicas das classes políticas. O revisionismo histórico quer erradicar a tradição revolucionária e reabilitar a tradição colonial. Em contrapartida, Losurdo oferece ao leitor uma nova perspectiva do século XX.
28. A hipocondria da antipolítica, Domenico Losurdo (Editora Revan) 400 p.
O panorama filosófico e político no mundo atual, incluindo o Brasil, é marcado pela síndrome chamada por Hegel de hipocondria da antipolítica, que tende a ocorrer após derrota no processo revolucionário. O filósofo alemão focalizou a Alemanha e a Europa após a derrota da tentativa revolucionária que lá se desenvolveu nos anos 1840. Nesta sua nova obra, Domenico Losurdo expõe e discute a abordagem histórica e filosófica de Hegel, que se revela atual e fecunda para situar os acontecimentos em nossos dias, após a capitulação e dissolução da União Soviética e os surtos de maior agressividade imperialista e avanço do fascismo que se seguiram, num quadro mundial de busca de novo projeto revolucionário para o proletariado.
29. Uma história da música popular brasileira, de Jairo Severiano (Editora 34) 504 p.
Neste livro, um dos maiores conhecedores de nossa música, Jairo Severiano, assumiu uma tarefa verdadeiramente enciclopédica: contar, em um único volume, os mais de duzentos anos de história da música popular brasileira. Para isso, estruturou a obra em quatro “tempos”: formação (1770-1928), consolidação (1929-1945), transição (1946-1957) e modernização (de 1958 até os dias de hoje). Em cada uma dessas fases, o autor contextualiza historicamente todos os gêneros e movimentos, bem como os compositores, músicos e intérpretes que melhor souberam representá-los.
30. Ideologia Nacional e Nacionalismo, de Lucio Flávio de Almeida (Educ) 268 p.
Rigorosa pesquisa teórica e histórica sobre o nacionalismo e a ideologia nacional – quando a hegemonia neoliberal forçava uma espécie de cegueira sobre o tema – faz de Ideologia nacional e nacionalismo uma referência para todos aqueles que queiram estudar e se aprofundar nessa problemática que se reatualiza e volta a despertar polêmicas apaixonadas no campo das Ciências Sociais.
A insurreição armada de militares integrantes da Aliança Nacional Libertadora (coalizão apartidária, formada pelas mais diversas lideranças, a favor da democracia e pela emancipação do povo brasileiro de forças fascistas e do jugo estrangeiro), em novembro de 1935, passou à história do Brasil como um dos principais fatos políticos do século XX.
Em 27 de novembro de 1935, militares rebelados no Rio de Janeiro tomaram o 3º Regimento de Infantaria na Praia Vermelha e a Escola de Aviação Militar no Campo dos Afonsos. Foram derrotados após uma luta sangrenta e muitos rebeldes foram presos.
Iniciou-se, então, o longo processo de que dá conta o Relatório Bellens Porto, que é a peça inicial da ação criminal e a prova da repressão odiosa que marcou época na história das lutas brasileiras. A versão da polícia, de que o principal objetivo da ANL era realizar um golpe comunista, predominou até recentemente.
O Relatório Bellens Porto reflete, naturalmente, a ideologia e os interesses da polícia política, mas contém fartura de informações valiosas, registradas com relativa objetividade. Documento raro, o Relatório Bellens Porto interessa tanto a pesquisadores das áreas das Ciências Humanas, em especial à História, à Política e à Sociologia, como também a todos os que se interessam pela história política nacional.
“Clássicos, rebeldes e renegados” é o subtítulo de Intérpretes do Brasil, livro que os professores de História da USP Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco organizaram para traçar um amplo panorama do pensamento crítico político-social brasileiro dos séculos XX e XXI. São ao todo 27 estudos e ensaios escritos por reconhecidos especialistas acadêmicos que se debruçaram sobre a vida e a obra de alguns dos principais intérpretes da história e da cultura no Brasil. “Acreditamos que este livro é um aporte importante sobre vários intelectuais emblemáticos e suas teorias. Para isso, pudemos contar com a generosa colaboração de diversos estudiosos que se dispuseram a escrever sobre esses pensadores do Brasil.”, enfatizam os organizadores.
Octávio Brandão, João Quartim de Moraes | Heitor Ferreira Lima, Marcos Del Roio | Astrojildo Pereira, Antonio Carlos Mazzeo | Leôncio Basbaum, Angélica Lovatto | Nelson Werneck Sodré, Paulo Ribeiro da Cunha | Ignácio Rangel, Ricardo Bielschowsky | Rui Facó, Milton Pinheiro | Everardo Dias, Marcelo Ridenti | Sérgio Buarque de Holanda, Thiago Lima Nicodemo | Gilberto Freyre, Mario Helio Gomes de Lima | Câmara Cascudo, Marcos Silva | José Honório Rodrigues, Paulo Alves Junior | Caio Prado Júnior, Luiz Bernardo Pericás e Maria Célia Wider | Edgard Carone, Marisa Midori Deaecto e Lincoln Secco | Florestan Fernandes, Haroldo Ceravolo Sereza | Ruy Mauro Marini, Guillermo Almeyra | Jacob Gorender, Mário Maestri | Antonio Candido, Flávio Aguiar | Celso Furtado, Carlos Mallorquín | Rômulo Almeida, Alexandre de Freitas Barbosa | Darcy Ribeiro, Agnaldo dos Santos e Isa Grinspum Ferraz | Mário Pedrosa, Everaldo de Oliveira Andrade | Maurício Tragtenberg, Paulo Douglas Barsotti | Paulo Freire, Ângela Antunes | Milton Santos, Fabio Betioli Contel
33. Introdução ao fascismo, de Leandro Konder (Expressão Popular) 184 p.
Leandro Konder nos alerta, logo no início de seu livro sobre o tema, que a compreensão do fascismo é um dos “temas quentes” da ciência social e aquele que se aventura na “selva de papel” – composta pelas inúmeras produções que tentaram compreender suas origens e determinações, para defendê-lo, combatê-lo ou utilizá-lo para seus fins próprios, – corre o risco de sofrer graves queimaduras, ou, ainda, de perder-se na selva de palavras que desorientam a percepção e impedem que se veja o horizonte.
34. O jovem Mandela, de Jeosafá (Nova Alexandria) 127 p.
De líder rebelde e combatente do regime segregacionista a presidente da África do Sul, a trajetória de Nelson Mandela é em tudo fascinante. Condenado à prisão perpétua por sua luta em prol da igualdade racial, foi libertado em 1990 para, quatro anos depois, se tornar o primeiro presidente negro da história de seu país. O jovem Nelson Mandela revela passagens da infância e da juventude de um dos maiores líderes de nosso tempo.
35. Karl Marx – a história da sua vida, Franz Mehring (Editora Sundermann) 573 p.
30 anos depois de sua morte, todo operário consciente deve saber que existiu tal homem e que sua vida foi dedicada total e absolutamente à luta pelo fim da exploração e da opressão; que suas ideias seguem válidas até hoje e ainda inspiram e seguirão inspirando muitas gerações de socialistas revolucionários. A vida de Marx nos ensina que, separadas da prática, as ideias não contêm, por si só, nenhuma verdade e que nenhum sacrifício é demais quando se tem ao seu lado a razão histórica; quando a causa a que se serve é a causa do verdadeiro progresso humano; quando a luta que se trava está para além de seu lugar e seu tempo. Aos 130 anos de sua morte, a Editora Sundermann lança Karl Marx – A história de sua vida, a clássica biografia escrita por Franz Mehring, revolucionário alemão e companheiro em armas de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
36. Lenin e a revolução, Jean Salém (Expressão Popular) 112 p.
Nesse livro, dois livros se complementam, se fundem e se interpenetram. Com um prólogo comovente, o autor ilumina a falsificação da história com aquela transparência rara que, no dizer de Camus, dá força de evidência ao óbvio. Depois, a partir da seleção de seis teses de Lenin, extraídas das suas Obras Completas, desenvolve uma lição de política que demonstra com clareza meridiana a atualidade tão ignorada do seu pensamento revolucionário. As seis teses são inseparáveis da ideia de revolução e, de todas, podemos extrair ensinamentos importantes e atuais, numa época em que o capitalismo está atolado numa crise estrutural da qual procura sair, desencadeando guerras ditas “preventivas” e saqueando os recursos naturais de dezenas de países.
Lênin leitor de Marx, fruto da tese de doutorado de Gianni Fresu, originalmente publicada na Itália, não apenas resgata o pensamento de Lênin dos porões da propaganda reacionária, mas, a partir da imersão numa complexa teia de conexões teóricas e políticas, lança luz sobre a intrincada história do movimento socialista e sobre a recepção do pensamento de Marx e Engels no final do século XIX e início do século XX. Este quadro histórico e político possui o mérito de mostrar ao leitor, sobretudo, que a tradição marxista e o movimento socialista, longe serem de homogêneos e unívocos como frequentemente leituras vulgarizadas os apresentam, estiveram sempre permeados por grandes disputas teóricas e desafiadores problemas políticos para os quais buscou-se dar respostas a altura de sua importância histórica. Contudo, o fio vermelho que percorre toda a obra diz respeito à dialética hegeliana como divisor de águas, isto é, a contribuição de Hegel e de sua lógica da contradição como elemento fundamental – que aqui encontra em Lênin seu vigoroso intérprete – para distinguir e criticar as leituras mecanicistas, dogmáticas, que vicejaram, nomeadamente, durante os anos da II Internacional. A tese central da obra sustenta, portanto, que Lênin teria chegado a Hegel por meio da leitura do pensamento de K. Marx e de F. Engels e que este percurso teve como consequência a “completa superação do determinismo positivista da II Internacional”.
38. Lenin, de Maiakovski (Editora Anita Garibaldi e Fundação Maurício Grabois) 233 p.
Vladimir Maiakovski é considerado um dos maiores poetas da língua russa e um dos fundadores da poesia moderna. Foi também dramaturgo, ator, artista plástico e um dos expoentes da vanguarda estética soviética.
Este livro-poema foi escrito em 1924, sob o impacto da morte de Lenin, falecido em 21 de janeiro daquele ano. Em vez de um réquiem, o poeta escreveu um canto forte e flamejante, uma ode à Revolução Socialista de Outubro, ao legado de Lenin e ao partido comunista russo. A escolha se deveu ao fato de que a biografia do homenageado não se coadunava com versos enlutados que pretendessem encaminhá-lo ao repouso eterno. O poema proclama que, mesmo depois da morte, Lenin ainda está mais vivo do que os vivos.
Linhas Vermelhas: Marxismo e os dilemas da Revolução é uma retomada da produção teórica vinculada ao pensamento marxista e ao seu esforço de interpretação de temas históricos e dos problemas candentes de nossa época. Os textos dessa obra são uma demonstração clara de que é impossível compreender a história presente e passada sem recorrer a Marx, Engels e seus principais discípulos no século XX. São, também, demonstrações inequívocas de que, em que pese à propalada falência, o marxismo continua mais vivo do que nunca.
Nesse livro, Domenico Losurdo analisa o presente e o passado da luta de classes e se fixa numa expressão intrigante usada no Manifesto Comunista, de Marx e Engels, ou seja, “lutas de classes”. Para o filósofo, esse plural é pleno de significado e consequências, que nem sempre foram percebidos, no desenvolvimento da luta política ao longo da história.
Losurdo entende que o tema de sua obra não se restringe apenas ao conflito entre as classes proprietárias e os trabalhadores. É também “a exploração de uma nação por outra”, como denunciou Karl Marx, e a opressão “do sexo feminino pelo masculino”, como Friedrich Engels escreveu.
A proclamação do ocaso da teoria marxista por intelectuais e políticos na década de 1950 no Velho Continente, aliás, é criticada pelo autor. Ele afirma que se tratou de um erro duplo, tanto por disfarçar a realidade do capitalismo, sugerindo um nivelamento das diferenças sociais que nunca existiu, como por ignorar as ásperas lutas de classes que se desenvolviam, como a revolução anticolonial no Vietnã, em Cuba e no “Terceiro Mundo” – e também a luta dos negros nos Estados Unidos para pôr fim ao sistema de segregação, discriminação e opressão.
Losurdo defende que, diante das diferentes formas de luta de classes, urge a mudança da divisão do trabalho e das relações de exploração e opressão que existem tanto no espectro global, entre Estados, como no interior de um país e até mesmo na instituição familiar.
As colossais mudanças que marcaram a transição entre os séculos XX e XXI fazem da luta de classes fundamental para nosso tempo. “É claro para muitos que hoje a sociedade brasileira está imersa em uma intensificação ‘das lutas de classes’ que nem sempre é de fácil leitura. Para os ativistas sociais, o conhecimento do método de análise e das informações fornecidas por Domenico Losurdo pode ser de grande utilidade para a construção de programas de lutas eficazes”, conclui José Luiz Del Roio no texto de orelha.
Obra importante do revolucionário vietnamita Vo Nguyen Giap, que transpassa a tradição de luta do heroico povo do Vietnã contra o agressor estrangeiro durante séculos. O autor, considerado por muitos o maior general que já existiu, demonstra, passando pelas teses marxista-leninistas de organização militar das massas desenvolvidas por Marx, Engels e Lenin, até a tradição vietnamita de guerra de todo o povo contra os invasores travadas ao longo das centenas de anos de sua heroica história, os fundamentos que devem guiar o armamento das massas revolucionárias e a edificação do exército do povo, na luta pela construção da nova sociedade socialista.
42. Marx & Engels, D. Riazanov (Edições Nova Cultura) 236 p.
Fruto de uma série de conferências proferidas pelo historiador russo sobre a vida e obra de Karl Marx e Friedrich Engels no curso de marxismo da Academia de Moscou em 1927, este livro é uma contribuição para o estudo da totalidade da atividade dos dois grandes mestres do marxismo. A partir da premissa de aplicar o método do materialismo histórico à vida dos seus criadores, Riazanov oferece uma contribuição importante para o estudo da produção científica desta dupla de filósofos alemães. Do contexto histórico no qual se desenvolveram os dois jovens ao processo de formação política e intelectual, da luta teórica e prática travada contra todas as concepções alheias a causa do proletariado e da revolução socialista à fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores, este livro editado pelo selo Edições Nova Cultura apresenta um panorama completo da trajetória revolucionária de Marx e Engels.
43. Marx – Vida e obra, de Leandro Konder (Expressão Popular) 164 p.
Marx viveu no século XIX, mas sua obra ainda está viva e nos ensina coisas importantes. O modo de produção capitalista, que Marx analisou, sofreu algumas mudanças importantes, porém ainda continua funcionando – e continua a provocar resultados cruéis para os trabalhadores. Por ter mergulhado fundo no exame das desigualdades sociais e na crítica das injustiças inerentes ao capitalismo, Marx contribuiu para o esclarecimento de questões que ainda hoje nos desafiam, mais de um século depois da morte do pensador.
Espero que este livro, publicado pela primeira vez em 1968, ajude os bravos companheiros a aproveitar as ideias de Marx, seus conceitos, sua concepção da história, sua concepção do homem e sua teoria da luta de classes, na luta política que estão travando. Afinal, foi esse filósofo do século XIX que nos mostrou uma coisa que está se tornando cada vez mais decisiva nesse final do século XX: são as duras batalhas vencidas pelos explorados e pelos oprimidos que podem criar um mundo melhor e mais justo, que corresponde às necessidades e aos anseios da humanidade como um todo. Leandro Konder, março de 1998.
Neste livro que é resultado de uma visita de mulheres comunistas francesas à China em 1971 durante a Grande Revolução Cultural Proletária, Claudie Broyelle faz um importante registro de como as mulheres chinesas se dedicaram à construção do socialismo e à luta contra os resquícios do patriarcado que ainda subsistiam. A autora destaca como a luta contra o jugo patriarcal é parte integrante da luta das massas chinesas pela construção do socialismo. A obra registra como se deu a mobilização das mulheres para cumprir as tarefas da revolução proletária e como foi tratado questões específicas como o trabalho doméstico, a divisão do trabalho manual e intelectual, a maternidade, a educação dos filhos, a concepção de família, a sexualidade, entre outras.
É realmente bom para a democracia que os militares fiquem longe da política? Ou seria melhor reconhecer que as forças políticas estão tão presentes nos meios militares quanto nos demais setores da sociedade? Nesta obra, Paulo Ribeiro da Cunha assume uma posição polêmica ao defender que se reconheça e legitime a presença histórica da esquerda nas Forças Armadas Brasileiras. Ele analisa o longo período de militância dos militares de esquerda no país, dividindo-o entre a fase da “insurreição” – do fim do século XIX, com os “republicanos radicais”, até 1945 – e a fase de intervenção dos militares nas grandes causas nacionais, que se estende até 1964.
46. Modos de ver a produção no Brasil, de José Ricardo Figueiredo (EDUC) 648 p.
O livro apresenta esboços de algumas das mais importantes contribuições para uma reconstrução teórica do modo de produção histórica do Brasil. São apreciadas obras de historiadoras, cientistas sociais, economistas, jornalistas, juristas, clérigos e militantes políticos. A fundamentação teórica, que unifica a obra, é encontrada em Karl Marx e Friedrich Engels.
47. Mulheres, raça e classe, de Ângela Davis (Boitempo Editorial) 244 p.
Mais importante obra de Angela Davis, Mulheres, raça e classe traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe. Um clássico, para o pensador Norberto Bobbio, é um intérprete único de seu tempo, com tamanha reserva de atualidade que cada época e cada geração têm a necessidade de relê-lo e, ao relê-lo, de reinterpretá-lo. Dessa forma, um clássico cria teorias-modelo com vistas à compreensão da realidade, de tal sorte que consegue até mesmo explicar contextos diferentes daquele em que foi gestado.
O livro Mulheres, raça e classe, da intelectual e feminista estadunidense Angela Davis, amolda-se, com precisão cirúrgica, a essa definição. Publicado em 1981, logo se converteu em referência obrigatória para se pensar a dinâmica da exclusão capitalista, tomando como nexo prioritário o racismo e o sexismo. Ordena-se sobre um arco de temas inescapável para compreendermos o modo de funcionamento das sociedades marcadas pela tragédia da escravidão moderna (o papel da mulher negra no trabalho escravo; classe e raça na campanha pelos direitos civis das mulheres; racismo no movimento sufragista; educação e libertação na perspectiva das mulheres negras; sufrágio feminino na virada do século; estupro e racismo; controle de natalidade e direitos reprodutivos; obsolescência das tarefas domésticas). A perspectiva adotada por Davis realça o mérito do livro: desloca olhares viciados sobre o tema em tela e atribui centralidade ao papel das mulheres negras na luta contra as explorações que se perpetuam no presente, reelaborando-se. O reexame operado pela escrita dessa ativista mundialmente conhecida é indispensável para a compreensão da realidade do nosso país, pois reforça a práxis do feminismo negro brasileiro, segundo o qual a inobservância do lugar das mulheres negras nas ideias e projetos que pensaram e pensam o Brasil vem adiando diagnósticos mais precisos sobre desigualdade, discriminação, pobreza, entre outras variáveis. Grande parte da nossa tradição teórica e política (Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, para ficarmos em poucos exemplos) insiste em confinar as questões aqui tratadas por Davis na esfera privada, como se apenas desta proviesse sua solução.
Nesta obra estão reunidos textos de uma variedade de autores que tratam da produção intelectual e da trajetória de Nelson Werneck Sodré, relevante pensador brasileiro que só teve suas contribuições reconhecidas mais recentemente. Tal fato se deve pela posição singular que representava: militar adepto dos ideais marxistas. Sempre se encontrou em uma situação conflituosa em relação à instituição que representava, embora compartilhasse dos objetivos dos segmentos nacionalistas democráticos das Forças Armadas, onde chegou à posição de coronel.
Pelo mesmo motivo, seus escritos tampouco eram reconhecidos por segmentos mais conservadores das universidades brasileiras, uma vez que, aos seus olhos, Nelson Werneck possuía um caráter ambíguo. Só a partir da década de 1990 é que foi de fato “descoberto”. Autor de uma obra com 56 livros e 3 mil artigos, representa uma importante contribuição para a historiografia do país, graças às suas reflexões ousadas da realidade brasileira.
A obra monumental de Domenico Losurdo, Nietzche, o rebelde aristocrata, certamente se tornará referência importante entre os estudiosos de Filosofia, Lingüística, História e Política no Brasil. Está publicada em vários idiomas além do seu italiano original e é especialmente celebrada pela intelectualidade local na tradução impressa na Alemanha.
50. Nós que amávamos tanto o Capital – leituras de Marx no Brasil (Boitempo Editorial) 80 p.
Alguém em sã consciência ignora que a leitura tem uma história e toma formas sociais diversas? Não. E, no entanto, o trabalho de organização social dos leitores tem sido subestimado pelos interessados no destino da obra de Karl Marx. O livro Nós que amávamos tanto ‘O capital’ é um documento inestimável para se constatar a relevância da forma e da vida social de uma leitura. Ele reúne depoimentos dos “corações veteranos” de uma das primeiras experiências de auto-organização para ler Karl Marx em grupo.
A crônica é conhecida: José Arthur Giannotti voltou da França em 1958 e chamou seus amigos para ler O capital, segundo as rédeas da leitura estrutural do texto; colocando suas competências disciplinares e linguísticas a serviço de causa digna – havia historiador, sociólogo, filósofo, crítico literário, economista; alguns iam apenas com a vontade de ler, outros levavam também seu alemão, seu francês, seu inglês, seu espanhol e seu humor. Alguns foram e não voltaram – “duro demais”. E poderia ser diferente?
O feito ficou conhecido como Seminários Marx. A troca de ideias, sentimentos e favores configurou um grupo – no sentido pleno do termo. O intercâmbio contínuo de ideias entre os seminaristas e o exercício constante da prática de leitura deram frutos: foram importados para os doutorados e, gradativamente, para as disciplinas acadêmicas em que atuavam. Tal difusão variou segundo a lógica interna de cada uma – permeabilidade lógica ao marxismo (o grupo leu outros livros, além d’O capital, basta conferir o repertório de conceitos compartilhado por eles); temáticas de investigação; ritmo de profissionalização; dominação dos catedráticos; negociações léxicas, bibliográficas.
Os efeitos de médio prazo desse trabalho de organização da leitura são evidentes para qualquer observador da cultura acadêmica brasileira. Ao longo das seis décadas que nos distanciam do início de tal atividade, as reviravoltas da vida política (ditadura militar, tortura, exílios e presidências) e as reconfigurações dos espaços sociais implicados (universidade, luta armada, revistas, partidos) foram embaralhando filiações e tomadas de posição. Além disso, a rotinização da prática obnubilou o cerne da inovação dos Seminários Marx, isto é, a forma social da leitura coletiva. Os depoimentos reunidos nesse livro podem restituir essa dimensão aos que os lerem com inteligência e delicadeza. Lidiane S. Rodrigues
51. Nova Gazeta Renana, de Karl Marx (EDUC) 612 p.
Este livro nos apresenta o momento da obra marxiana em que o autor participa diretamente da ação política revolucionária e reflete sobre ela. As páginas da Nova Gazeta Renana apresentam o desenrolar da revolução e da contrarrevolução de 1848-1849. As particularidades da Alemanha e da França, as relações entre luta política e luta social, revolução burguesa e revolução proletária são temas que ligam a atividade do jornalista com a do historiador. A importância desses textos, realçada pelo trabalho pioneiro de Fernando Claudin, reaparece agora, para o público brasileiro, graças ao trabalho meticuloso de Lívia Cotrim, que, além da tradução, escreveu uma primorosa apresentação. Obra de referência destinada a ter boa acolhida entre os historiadores e o público interessado em conhecer o pensamento de Marx.
Em A Origem do Estado Islâmico, o veterano jornalista Patrick Cockburn descreve o dramático conflito por detrás dos acontecimentos desencadeados pela política externa dos Estado Unidos. Cockburn demonstra como o Ocidente criou as condições ideais para o explosivo sucesso do ISIS, ao fracassar na “Guerra ao Terror” no Iraque e fomentar a guerra civil na Síria. O Ocidente – EUA e OTAN em particular – subestimou o potencial das milícias até as últimas evidências e falhou em impedir que os principais patrocinadores do 11 de Setembro continuassem amparando grupos jihads através da Arabia Saudita, Turquia e Paquistão. A volta da ameaça dos jihadistas está apenas recomeçando.
Este livro compila escritos sobre a conjuntura política do país publicados no Blog Projetos para o Brasil (http://waltersorrentino.com.br/). O recorte é de 2015-2016 – do início do segundo mandato popular de Dilma Rousseff, até o fatídico golpe de Estado de modalidade parlamentar. Neles desvela-se a crise política brasileira mais sua dimensão institucional, econômica e social. Foram anos duros para a democracia e para todos os patriotas, progressistas e democratas – a maioria da nação brasileira. Foram anos que vivemos em perigo e que permanecerão como testemunho da história de mais um golpe na democracia brasileira, de uma crise política ainda em busca de saídas até o presente momento.
54. Pequena história da ditadura brasileira, de José Paulo Netto (Editora Cortez) 342 p.
José Paulo Netto reconstrói o cenário dos anos que precederam o Golpe de 64, edificando uma análise que desvela as forças políticas em disputa sob um dado contexto econômico. À época, sob o pretexto da ameaça comunista, mais da metade dos países do continente foram tomados por ditaduras – e todas foram apoiadas, diretamente, pelos Estados Unidos.
Porém, se os comunistas estavam prestes a tomar o poder no Brasil, por que não houve resistência? Por que o presidente João Goulart fugiu para o Uruguai? Onde estava a força da esquerda? Ou ainda, qual era a base de apoio de Jango e por que falhou? O autor busca responder essas e outras perguntas, em um texto escrito com clareza e densidade.
O livro de Bernardo Joffily se enquadra perfeitamente dentro dessa perspectiva defendida, que poderia ser resumida na fórmula “defender o legado da Revolução Russa e seu papel progressista na história moderna”. O autor apresenta a trajetória da revolução desde os seus primórdios e trata do papel central nela desempenhado pelos bolcheviques. Apresenta as conquistas alcançadas pelo povo soviético, e também as consequências daquele movimento para os povos de todo o mundo. O balanço geral apresentado é fundamentalmente positivo, mas não tergiversa sobre os erros cometidos e as dificuldades encontradas. Apesar de ser panorâmica e didática, a obra não perde a qualidade nem reduz a complexidade daquele processo. Assim, torna-se algo útil às jovens gerações de combatentes sociais que desejam conhecer mais e melhor sobre os acontecimentos ocorridos cem anos atrás na Rússia e as suas consequências para o século XX.
56. Poemas 1913-1956, de Bertold Brecht (Editora 34) 360 p.
Nova edição revista da mais importante antologia da poesia de Brecht no Brasil. A obra poética de Brecht, tão contundente quanto o seu teatro, é ao mesmo tempo “lírica e política”, como dizia Walter Benjamin. Este volume contém 260 poemas, entre baladas, sátiras, canções e exortações à luta, além de uma cronologia da vida e das obras de Brecht: “Fôssemos infinitos/ Tudo mudaria/ Como somos finitos/ Muito permanece”.
Somando-se ao debate público sobre a crise política no Brasil, a obra proporciona ao leitor diversas análises sobre a dinâmica do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, dentro de uma perspectiva multidisciplinar e de esquerda. Os textos que compõem a coletânea são inéditos e buscam desenhar uma genealogia da crise política, entender as ameaças que se colocam à democracia e aos direitos conquistados pela Constituição de 1988 e apontar caminhos de superação de nossos impasses políticos. São trinta autores, entre pesquisadores, professores, ativistas, representantes de movimentos sociais, jornalistas e figuras políticas.
58. O quarto poder – uma outra história, de Paulo Henrique Amorim (Editora Hedra) 560 p.
Paulo Henrique Amorim, um dos mais influentes jornalistas brasileiros contemporâneos, ao completar 50 anos de carreira nos mais importantes órgãos de imprensa e TV do país (Globo, Veja, Jornal do Brasil), reúne em livro meio século de atividade profissional com tudo aquilo que as notícias nunca deram: o lado de dentro do jornalismo e do poder.
O quarto poder – uma outra história é um livro de memórias e um livro de história: a história pouco conhecida dos meios de comunicação no Brasil desde os primórdios, no período Vargas, passando pela criação e pelo apogeu da Rede Globo, a partir do governo militar, e incluindo os bastidores de grandes momentos da história contemporânea (ditadura, período de transição, governos Sarney, Collor, FHC e PT) – além de encontros reveladores com os principais nomes da mídia e do poder que fizeram e desfizeram a história recente do país e os bastidores dos episódios mais marcantes (Plano Cruzado, Plano Collor, negociação da dívida externa, Plano Real, debate eleitoral Collor x Lula…), até os dias de hoje.
Em 8 de março de 1917, uma manifestação reuniu, na Rússia, mais de 90 mil mulheres contra o tsar Nicolau II e a participação do país na Primeira Guerra Mundial. O evento, que também exigia melhores condições de trabalho e o fim imediato da fome que se alastrava pelo país, tomou proporções inimagináveis e culminou na chamada Revolução de Fevereiro, um prenúncio da Revolução de Outubro, que derrubou o tsarismo, deu o poder aos sovietes e levou à construção da URSS. Para comemorar o centenário dessa data incendiária, a Boitempo publica A revolução das mulheres, antologia com dezenas de artigos, atas, panfletos e ensaios de autoras russo-soviéticas produzidos nesse contexto de convulsão social e política.
Nesses textos de intervenção e reflexão sobre a condição e a emancipação da mulher, destaca-se sobretudo a importância da igualdade entre os gêneros na defesa da classe trabalhadora: a separação entre mulheres e homens interessava apenas ao capital, para a Revolução a luta deveria ser conjunta. A leitura, que percorre temas como feminismo, emancipação, trabalho, luta de classes, família, leis e religião, permite distinguir que houve, de fato, a conquista de direitos desde então, mas também demonstra que diversos critérios desiguais continuam em vigor, o que torna os textos, apesar de clássicos, mais atuais do que nunca. A coletânea vem acrescida de fotografias das autoras e de cenas da Revolução. Este é um livro feito integralmente por mulheres, da capa à edição, passando pela preparação, revisão e diagramação. A organização é da pesquisadora Graziela Schneider, e os textos foram traduzidos diretamente do russo pela primeira vez no Brasil.
Com textos inéditos de: Aleksandra M. Kollontai • Anna A. Kalmánovitch • Ariadna V. Tirkóva-Williams • Ekaterina D. Kuskova • Elena A. Kuvchínskaia • Inessa F. Armand • Konkórdia N. Samóilova • Liubov I. Guriévitch • Maria I. Pokróvskaia • Nadiéjda K. Krúpskaia • Olga A. Chapír
60. Reivindicações dos direitos da mulher, de Mary Wollstonecraft (Boitempo Editorial) 256 p.
Considerado um dos documentos fundadores do feminismo, o livro denuncia a exclusão das mulheres do acesso a direitos básicos no século XVIII, especialmente o acesso à educação formal. Escrito em um período histórico marcado pelas transformações que o capitalismo industrial traria para o mundo, o texto discute a condição da mulher na sociedade inglesa de então, respondendo a filósofos como John Gregory, James Fordyce e Jean-Jacques Rousseau.
Libertária, Mary Wollstonecraft fez de sua própria vida uma defesa da emancipação feminina: envolveu-se na Revolução Francesa e foi uma precursora do amor livre. Tendo falecido logo após o parto de sua segunda filha, não pôde vê-la tornar-se, também, uma famosa escritora: Mary Shelley, a autora de Frankenstein. Extremamente revolucionário para a época, Reivindicação dos direitos da mulher foi traduzido para vários idiomas, se tornou uma referência teórica para as precursoras do feminismo contemporâneo, como Simone de Beauvoir, e uma leitura essencial para as discussões de gênero.
“Reivindicação dos direitos da mulher resulta tanto de uma trajetória de lutas militantes de Mary como de seus enfrentamentos contra a moral sexista e conservadora da época”, diz Maria Lygia Quartim de Moraes, que assina o prefácio. Citando a feminista britânica Sheila Rowbotham, ela argumenta que Mary, “como mulher de razão e mulher de natureza”, personifica a tensão e as fissuras do Iluminismo, e que a leitura deste livro – escrito em linguagem direta e marcante – “desperta um sentimento de admiração por essa jovem mulher, capaz de superar tantos obstáculos, que lutou obstinadamente para ser feliz e foi muito além dos limites que seu tempo permitia”.
“O pequeno país heroico que derrotou a maior das potências militares” – este título transformou-se em lugar comum e, embora honroso, tende a reduzir o Vietnã a mero coadjuvante em uma peça em que os verdadeiros protagonistas são os titãs da Guerra Fria. A trajetória vietnamita, entretanto, é muito mais ampla, seja em sua extensão temporal, seja em seus significados político e histórico. A revolução vivida no Sudeste asiático espelha as tensões e anseios de uma nação que desde sua origem milenar adquiriu com sangue o direito de existir e ainda busca um futuro justo para seus filhos.
62. Revolucionários de 1935, de Marly Vianna (Expressão Popular) 480 p.
“Os acontecimentos narrados neste livro – as insurreições de novembro de 1935 – são parte importante de minha vida de militante comunista, não importa que tenha nascido depois deles”. A autora, cuja militância iniciada em 1961 no PCB duraria 18 anos, justifica-se pela necessidade de compreender a derrocada do partido através dos erros das lideranças políticas pertencentes à geração anterior, e ao mesmo tempo resgatar algo de sua experiência ainda coroada de heroísmo. Assim, diz ela: “Tentei, com o estudo dos episódios de novembro de 1935, levantar algumas pistas. Foram acontecimentos exemplares para o estudo de uma situação em que a dedicação e o espírito de luta conviveram com a incapacidade política. Ao mesmo tempo que as diretivas políticas continham erros crassos, foram momentos de luta generosa, de dedicação a um ideal. (…) Espero que o livro contribua, por pouco que seja, para nossa luta por uma sociedade em que o homem seja um irmão para seus semelhantes”.
63. O século das revoluções (1603-1714), de Christopher Hill (Edunesp) 400 p.
Este O século das revoluções consegue penetrar alguns dos eventos mais dramáticos e empolgantes da História britânica, para explicar o que eles significaram para o povo que os viveu. Uma história revolucionária de um período revolucionário.
1889 foi o ano, da proclamação da República no Brasil e dos primeiros congressos da Segunda Internacional em Paris – após o qual o movimento socialista conheceria, na França, um desenvolvimento considerável. 1918 foi o ano que marcou o fim da Primeira Guerra Mundial, durante a qual eclodiu a Revolução Russa, virando uma importante página da história do socialismo. Embora a Segunda Internacional Socialista tenha sido praticamente inoperante durante a guerra, organizou assembleias durante esse período e a esperança de reconstruí-la, tal como havia sido antes do conflito, permaneceu acesa até a fundação da Terceira Internacional, em março de 1919. Foi então recriada sob um novo paradigma, imposto pela experiência soviética, que dividiria os socialistas em dois campos: aqueles que se haviam mantido fiéis às concepções da Segunda Internacional e aqueles que haviam adotado o comunismo.
Neste livro, a historiadora Mariana Joffily conta a história conturbada dos anos em que a Segunda Internacional estava ativa em dois países distantes, mas com mútuas influências, o Brasil e a França. Estudar as relações entre os socialistas franceses e os socialistas brasileiros na época da Segunda Internacional Socialista significou procurar pistas de uma ligação frágil, quase inexistente entre os militantes desses dois países.
Discutir o socialismo na França e no Brasil não foi tarefa simples, pois significava levar em conta duas realidades completamente distintas. A França havia feito uma revolução – ainda que burguesa – atingido um nível de industrialização bastante desenvolvido e constituía, de certo modo, o berço do socialismo utópico. O Brasil tinha acabado de pôr termo à escravidão, era um país essencialmente agrícola e sua tradição política caracterizava-se preferencialmente pelas continuidades do que pelas rupturas. A despeito dessas dificuldades, Mariana procurou traçar uma ponte entre os dois movimentos, analisando os informes brasileiros enviados à Internacional e as cartas brasileiras – bastante raras – publicadas na amostragem selecionada das publicações francesas.
A editora Anita Garibaldi e a Fundação Maurício Grabois lançaram a obra O surgimento da Seção Brasileira da Internacional Comunista, escrita por Dário Canale. Tendo por base sua tese de doutorado, defendida em 1984 na Universidade Karl Marx na antiga República Democrática Alemã, o livro é de fundamental importância para compreensão do papel desempenhado pela Terceira Internacional nos primeiros anos de vida do PC do Brasil (1922-1928).