Editorial de 25/08/1954: Assegurar a defesa das liberdades democráticas
No dia seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas (25 de agosto de 1954) o jornal comunista Imprensa Popular publicou um editorial que denunciava o golpe que foi implementado no dia anterior. Denuncia o imperialismo estadunidense e seus colaboradores brasileiros.
Assegurar a defesa das liberdades democráticas
O país está vivendo graves momentos e, ao povo, a única fonte da soberania nacional, cabe intervir de maneira mais ativa nos acontecimentos
Desde a recente entrevista do grande líder popular Luiz Carlos Prestes, começou a aparecer claro aos olhos de todos os patriotas de que [do] centro diretor partem as ordens para lançar brasileiros contra brasileiros e golpear as liberdades democráticas, visando impedir a realização de eleições a 3 de outubro. É o Departamento de Estado norte-americano, é a embaixada Ianque, são os Dulles e os Kemper, os planejadores da sinistra empreitada executada por Climério e Lacerda. Essa trama culminou na sua atual etapa, na madrugada de ontem, com o golpe de Estado que colocou no poder o Sr. Café Filho, o demagogo que já visitou em Belgrado o bandido Tito e há dias recebia convite para visitar oficialmente os Estados Unidos.
Na carta escrita pouco antes de sua morte, o Sr. Getúlio Vargas teve ocasião de confessar a tremenda pressão exercida contra a nossa Pátria pelos monopólios norte-americanos, que exigem ainda mia rápida entrega de nossas riquezas, arruínam nosso principal produto, o café, e tudo fazem para reduzir-nos em definitivo à condição de colônia dos Estados Unidos. Os abutres imperialistas norte-americanos querem escravizar nosso povo a fim de obter mão-de-obra mais barata para suas indústrias de guerra e soldados para suas aventuras guerreiras.
Nosso povo, entretanto, não tem vocação para escravo e luta pela democracia, a independência e a paz. As massas populares que despertam e saem às ruas para defender seus direitos sabem que se era difícil sua situação até o momento, mais difícil se tornaria se passassem a governar o país, como efetivamente o fazem agora, os generais, brigadeiros e almirantes que dão ordens a Café Filho e representam o que há de mais reacionário e antipopular no país.
O povo brasileiro, entretanto, tem meios para se libertar do terror dos regimes militaristas e da ditadura dos partidos das classes dominantes, rotuladas de coalizão, que já anuncia. A arma do povo é o protesto, é a conquista permanente da praça pública, são as ações de massas. As massas não se deixarão iludir com tais detentores do poder. O governo de Café Filho e dos generais fascistas inicia-se falando em democracia, mas mandando prender líderes sindicais e operários, porque estes lutam por seus direitos, pelo congelamento dos preços. O governo de Café Filho e dos generais fascistas manda atirar no povo nas ruas, enquanto protege do sagrado ódio popular os venais porta-vozes do imperialismo norte-americano, Assis Chateaubriand, Paulo Bittencourt, Roberto Marinho, Carlos Lacerda. O governo de Café Filho e dos generais fascistas, enfim, executa, a vontade dos patrões imperialistas ianques, porque estes se encontram por trás do golpe de Estado de ontem e tudo vinham fazendo há algum tempo no sentido de colocar no poder uma figura menos gasta.
Com isto não se conformará, entretanto, o nosso povo. Lutará o povo nas ruas em defesa da Constituição e contra a ditadura militar. Nosso povo, com a classe operária à frente, levantará suas reivindicações contra as quais se enfurecem os reacionários. Os trabalhadores exigirão a efetivação do salário mínimo, agora de novo ameaçado, e o congelamento dos preços, defenderão consequentemente as liberdades ameaçadas. A classe operária mostrará que não está disposta a ver suprimidas suas conquistas sociais e seus direitos políticos. Todos, enfim, patriotas, democratas, homens e mulheres, jovens e velhos, mostrarão que não se conformam com um novo governo de guerra e de mais fome, escorado nas espadas que o imperialismo ianque mobiliza para suprimir as liberdades.
O dever do nosso povo é o de protestar nas ruas, levantar suas reivindicações, defender a Constituição, redobrar sua luta por um governo realmente democrático e popular, capaz de realizar um programa de salvação nacional e dar paz, pão, terra e liberdade às grandes massas de todo o Brasil.