O “comunista romântico”
“Nasci em 1902 E nunca voltei ao lugar do meu nascimento Não gosto de me voltar”
E “o gigante de olhos azuis” nunca mais voltou a Salônica…
Em Istambul, vive num ambiente discreto: Nazim, quando criança, foi embalado pela poesia de seu avô paxá, um alto funcionário do governo otomano, e por sua mãe, Djélilé, artista apaixonada pela cultura francesa.
Revoltado com a ocupação de Istambul pelas potências aliadas depois da I Guerra Mundial, exaltado pela luta dos camponeses turcos pela independência e entusiasmado pela revolução de Outubro, tinha apenas vinte anos quando partiu para Moscou, em 1922.
Voltaria à Turquia em 1924, depois da guerra da independência, mas foi perseguido porque, agora, era um “vermelho”. Voltaria a Moscou em 1926 e suas idas e vindas se multiplicariam.
Moscou, nessa época, fervilhava. Ali, encontraria Maiakovski e os futuristas russos, que exerceram forte influência sobre sua poesia, e trabalhou com Meyerhold.
Comunista – porque ama apaixonadamente tudo, a liberdade, seu país, seu povo e suas mulheres – torna-se, no exílio, o gênio da vanguarda turca.
De volta à Turquia, foi condenado, em 1938, a 28 anos de prisão por ter publicado, em 1936, um elogio à revolta, “A Epopéia do Xeque Bedrettin”, ou a luta de um camponês contra as forças do Império Otomano. Foi libertado em 1949, graças à ação de um Comitê Internacional de Apoio, formado em Paris por seus companheiros Jean-Paul Sartre, Pablo Picasso e Paul Robeson.
Foi com esse último e Pablo Neruda que dividiu, em 1950, o Prêmio Mundial da Paz. In absentia, pois Hikmet, enfraquecido por uma longa greve de fome e com problemas cardíacos, não pôde se deslocar até Varsóvia onde ocorreu a cerimônia.
“Uma liberdade bem triste”
Hikmet era constantemente vigiado. Escapou milagrosamente a dois atentados, mas não consegue escapar do serviço militar, que exigem que cumpra, aos 50 anos de idade. Era a época da guerra fria e ele militava contra a proliferação de armas nucleares. O que fazer senão fugir e refugiar-se na União Soviética, deixando mulheres e filhos?
O “comunista romântico” celebrava a luta, sinônimo de vida, uma liberdade que corrói, segundo ele, a autoridade.
Cidadão polonês depois da dolorosa perda da nacionalidade turca, viajaria por toda parte para esquecer o exílio. Pela Europa, pela África e pela América do Sul apenas, porque os Estados Unidos lhe recusaram visto de entrada.
“Apesar do peso em meu peito, Meu coração ainda bate com as estrelas, ao longe”
Nazim Hikmet morreu em Moscou, em 1963. Seu coração parou de bater na cadência necessária, mas o vento ainda sopra entre as doces árvores da Anatólia, nos rostos de suas mulheres, que amou tão intensamente quanto amou o mundo.
Fonte: Le Monde Diplomatique