O Museu da Memória do Chile foi inaugurado em janeiro de 2010. Em seus corredores e dependências se encontram objetos, documentos e arquivos que lembram as sistemáticas violações aos direitos humanos que foram cometidas no Chile entre 1973 e 1990, durante a ditadura de Augusto Pinochet.

Passaram quase dois anos desde que esta casa de cultura abriu suas portas e somente na última sexta-feira, o presidente Sebastián Piñera visitou o museu. A atividade não estava na agenda e foi realizada sem presença de jornalistas.

Ali esteve o mandatário por mais de uma hora e meia, revisando e olhando os arquivos do horror, muitos dos quais foram avalizados ou silenciados por vários de seus atuais colaboradores no palácio de La Moneda.

Em sua visita foi acompanhado apenas pelos seguranças e alguns responsáveis pelo museu. Ao sair do lugar, Piñera assegurou estar “muito emocionado” pelo que o recinto evoca.

“Você não sabe há quanto tempo eu queria visitar o Museu da Memória, e decidi vir, e estou muito emocionado pelo que isto lembra, pelo que isto evoca, pelo que é – uma época de nosso país – e também muito impressionado, porque fizeram uma obra notável”, disse aos responsáveis da entidade.

Piñera aproveitou a ocasião para tentar responder às críticas que recebeu de organismos de direitos humanos pelo corte orçamentário que seu Governo impôs ao Museu da Memória. “Entendo suas reações, mas o fato de ter vindo aqui é algo que aponta justo na direção contrária.

É que eu também sou chileno, eu também sou parte da história do Chile; eu também vivi o período da ditadura militar, mas hoje em dia sou Presidente do Chile e tenho que procurar que estas feridas fechem e que nós, os chilenos, possamos olhar o futuro com mais unidade, com mais respeito e com mais tolerância”, expressou.

Nesse sentido, o ex-empresário disse que em matéria de direitos humanos existem cinco pilares: “a memória: há que lembrar porque, quando esquecemos, as vezes cometemos os mesmos erros.

A verdade, a justiça e também a reparação, na medida do possível, do dano causado, são aspectos a serem considerados”, declarou. Finalmente, disse que o quinto pilar é “olhar para frente e criar no corta Chile uma cultura de tolerância e de respeito a os direitos humanos.

A verdade é que, com a visita, o chefe de Estado Chileno também queria afastar-se da polêmica causada pela suposta carta do ex-CNI (polícia secreta de Pinochet) Álvaro Corbalán que, da prisão onde cumpre pena por violações aos direitos humanos, teria escrito um documento.

A Gendarmeria do Chile descobriu uma carta assinada pelo agente da ditadura, onde este pretendia assessorar a gestão de Piñera para enfrentar as mobilizações sociais principalmente e para neutralizar uma possível recandidatura de Michelle Bachelet à presidência do Chile.

O titular da Secretaria Geral de Governo Andrés Chadwick, não deu importância “aos comentários” e assegurou que “o Chefe de Estado não necessita de nenhum gesto para diferenciar-se de uma pessoa que está condenada pelos tribunais de justiça) em relação à Corbalán”.

Ainda que a pauta de Piñera no museu fosse privada, pessoal da Presidência da República captou imagens e fotografias da visita do mandatário pelas instalações, situação que levou a que setores políticos tomassem o fato como um sinal, que aponta para afastamento de auxiliares ligados aos assassinatos cometidos desde 1973.

Para coroar o mau dia, a historiadora Patricia Arancibia Clavel, muito próxima ao governo, disse que o Governo de Salvador Allende foi “uma ditadura constitucional, por isso, é injusto que sejam criticados com tanta dureza aqueles que apoiaram o golpe de Estado e o regime de fato posterior, quando -a seu juízo – o fizeram em favor do desenvolvimento do Chile”.

“Até quando continuaremos com esta autoridade moral de que só porque estivemos no Governo militar, apoiamos o desenvolvimento deste país, quando realmente nós enfrentávamos uma ditadura no ano de 73.

Lembrem-se do que vivemos no ano de 70, sob o Governo da Unidade Popular”, sentenciou Arancibia, que lembrou também que “todo o desenvolvimento econômico levado a cabo no Chile a partir do Governo militar foi seguido pela Concertação”.

Fonte: Carta Maior