Enquanto no Brasil o Supremo Tribunal Federal (STF) revisará a constitucionalidade da Lei da Anistia nos próximos dias e a Comissão da Verdade, criada para investigar os responsáveis por crimes durante a ditadura e estabelecer a versão oficial dos sem poder punitivo, ainda não tem nomes indicados, a Espanha avança na recuperação da memória de seu período repressivo.

Uma equipe de arqueólogos espanhóis localizou na sexta-feira 30 os restos mortais de algumas das 125 vítimas do regime do general Francisco Franco enterradas entre 1936 e 1949 em uma vala comum da cidade andaluz de Teba, uma das maiores exumações até agora na Espanha.

“Você não se acostuma nunca com a forma de encontrar os corpos, jogados”, reconhece Andrés Fernández, arqueólogo que trabalhou na maior fossa comum descoberta no país, em Málaga, onde já foram exumados quase 3 mil esqueletos.

Organizadas pela Associação para a Memória Histórica da cidade vizinha de Antequera, as escavações começaram a ser realizadas no final de fevereiro e devem durar três meses. A ação é financiada por uma subvenção do governo de quase 60 mil euros.

Segundo uma investigação realizada pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, pela qual foi julgado e absolvido, 114 mil desaparecidos da Guerra Civil (1936-1939) e da ditadura franquista (1939-1975) continuam enterrados em valas comuns da Espanha.

Em Teba, no interior de Andaluzia, a equipe de sete especialistas liderada por Fernández trabalha sob o olhar ansioso de cerca de 30 filhos de vítimas e dezenas de parentes. “É o testemunho dos familiares, que falam sem falar, que estão te observando, dizendo muitas coisas”, afirma o arqueólogo.

Durante a guerra civil espanhola, a cidade ficou na linha de frente. Defendida pelos republicanos, caiu no dia 20 de setembro de 1936, segundo Fernández.

A fossa cavada então pelos falangistas e pelas tropas vitoriosas mede 25 metros de comprimento por dois de largura. “Parece que abriram uma fossa grande prevendo que iam fuzilar muitas pessoas.”

Os corpos continuaram sendo lançados à fossa durante mais de dez anos, até 1949. O auge foi a noite de 23 de fevereiro de 1937, quando 84 pessoas foram fuziladas, segundo as investigações da equipe.

Fonte: Carta Capital