Os romances sobre a ditadura argentina (1976-1983) constituem um verdadeiro gênero na literatura do país vizinho. Só para mencionar os mais famosos, temos “Respiração Artificial”, de Ricardo Piglia, “Ciencias Morales”, de Martin Kohan, “Una Vez Argentina”, de Andrés Neuman, e “Cuarteles de invierno”, de Oswaldo Soriano.

O Prêmio Alfaguara de literatura, entregue ontem em Madri, homenageou essa vertente literária ao prêmiar o argentino Leopoldo Brizuela, autor de “Una Misma Noche”, um thriller existencial baseado numa experiência pessoal.

Numa noite de inverno de 1976, o autor, então com treze anos, estava tocando piano em sua casa, em La Plata, quando um grupo de repressores chegou. Educados e bem-vestidos, tocaram a campainha, entraram e revistaram a casa.

Num misto de medo, surpresa e nervosismo, Brizuela continuou tocando, durante os cerca de quinze minutos em que o grupo permaneceu ali. Depois, surpreendentemente, esqueceria o episódio por muitos anos. Até que um dia, teve a cena de volta em sua cabeça. “Se você se esquece de algo por muito tempo, e de repente se lembra, precisa dar um signficado para aquilo. Por isso, escrevi o romance”.

O livro se passa em dois momentos. Na ditadura e nos dias de hoje, quando a mesma casa é novamente invadida. A história se passa em La Plata, cidade signficativa para o país no que diz respeito a direitos humanos. Ali viveram Hebe de Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio, Estela de Carlotto, das Avós da Praça de Maio, e a própria presidente, Cristina Kirchner.

O prêmio Alfaguara é o mais importante entre os prêmios editoriais do mercado espanhol. Além dos 150 mil dólares, o autor será publicado em 19 países de língua hispânica em que a Alfaguara está presente

Fonte: Folha de São Paulo