O contexto de hoje é diferente. O tempo se incumbiu de deixar bem claro a correção da reorganização de 1962 e hoje não cabe dúvida sobre quem é o Partido Comunista do Brasil.

Nessa situação, a CPN viu a oportunidade de comemorar os 90 anos do Partido resgatando, de forma consistente, a sua história como um todo, a do “Partido fundado em 1922 e reorganizado em 1962”, que não tergiversa sobre os problemas internos ocorridos, mas que salienta a linha dorsal com que tem cumprido sua missão, desde a fundação, que levou a classe operária a fazer política, numa época em que isto não acontecia; que levantou a bandeira do socialismo – pouco depois da Revolução de 1917 na Rússia; que lançou o primeiro candidato operário, sindicalista e negro à presidência da República, em 1930, Minervino de Oliveira; que esteve na Aliança Nacional Libertadora, nas campanhas contra o nazifascismo, em defesa do desenvolvimento nacional, na Constituinte de 1946, nas jornadas de “o Petróleo é Nosso”, contra o envio de tropas à Coreia; que se reorganizou, em 1962, repelindo a ruptura com o socialismo comandada por Kruchev; que foi ao Araguaia, às Diretas Já; que respaldou a eleição de Tancredo para por fim à ditadura de 1964; que foi à Constituinte de 1987/88; que bradou “o socialismo vive”, quando uma muitos diziam que ele acabara; que esteve desde o início, em 1989, no esforço por levar o operário Lula à presidência e integra os governos deste novo ciclo da história do Brasil, com Lula e Dilma; e que pagou elevado preço por tudo isso, tendo seu candidato a presidente Minervino de Oliveira preso quando fazia campanha, seu dirigente Luiz Carlos Prestes nove anos em cadeia, a companheira Olga Prestes entregue grávida à Gestapo nazista que a assassinou, camaradas numerosos presos, seviciados e mortos na ditadura do Estado Novo, nas câmaras de tortura, nos “tiroteios” e “atropelamentos” dos vinte e um anos da ditadura de 1964-85, no feito heroico do Araguaia, nas chacinas como a da Lapa.

O Manifesto da Comissão Política Nacional, recém publicado, retrata essa vitória. Mostra como, na história do Partido, “em fases distintas, três personalidades vincaram seus nomes à saga dos comunistas no Brasil: Astrojildo Pereira, Luiz Carlos Prestes e João Amazonas.” E assume que uma quarta geração, liderada por Renato Rabelo, dirige hoje um partido grande e vibrante, que responde pela tradição do partido “fundado em 1922 e reorganizado em 1962”.

Será muito importante trabalharmos com a concepção que este Manifesto apresenta, divulgando-o e explicando seu significado. Somos os herdeiros de uma tradição gloriosa.

Honremo-la.

Haroldo Lima