Os senhores das armas: …’Que venham, por aqui não passarão’
Uma ameaça velada de intimidação ao povo brasileiro sobre a sua liberdade?
Ou talvez um velho cacoete sustentado pelos fantasmas da Constituição que vossas autoridades das armas romperam em 1964, derrubando Jango, um presidente constitucional, fechando o Congresso, prendendo, torturando, desaparecendo, sequestrando e arrasando famílias em nome do Estado brasileiro, surrupiado pela prepotência dos fuzis e dos atos inconstitucionais e ilegais que foram praticados em nome da intolerância e da censura?
Não passarão aonde, Srs. militares? Quem, o nosso povo? A nossa Constituição promulgada democraticamente? Um governo legitimado como o da presidenta Dilma com mais de 52 milhões de votos? Quem não passará?
Quem são esses fantasmas “subversivos” que não aparecem, pois seus corpos são reivindicados pelos seus entes? Desaparecidos sob a tutela do Estado, e por certo não em um Estado de Direito e sim em Estado de exceção, imposto pelas armas.
Quem são os subversivos? Aqueles que se rebelaram contra a supressão e quebra da constituição em vigor, ou aqueles que a subverteram?
Passarão sim senhores saudosistas da prepotência!
O nosso povo depois de 21 anos de opressão conquistou esse direito que as armas de nossas instituições lhe haviam suprimido.
Ele passará onde seja, dentro da legalidade e dentro da democracia conquistada com muito sangue, sacrifício e lutas contra a tirania.
Nossas Forças Armadas não deveriam temer a Comissão da Verdade, que nada mais é do que uma auditoria interna no coração de nossa Pátria para fazê-lo mais transparente e forte cicatrizando as feridas do passado, para que as novas gerações possam não cometer os erros que cometemos, de ambas as partes e poder assim caminhar com altivez rumo ao futuro que une todos os irmãos brasileiros.
Agora; “por aqui não passarão” é uma provocação á Liberdade e a Democracia.
A História de uma Nação pertence ao seu povo e o seu conhecimento é a sustentação de sua redenção.
Diz a música de Chico: “Vai passar nesta avenida um samba popular…”
“num tempo…, página infeliz de nossa história….
Passagem desbotada na memória…
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa Pátria mãe tão distraída… sem perceber que era subtraída…, em tenebrosas transações…”
Nós brasileiros, sabemos cantar. Nós brasileiros sabemos lutar. Nós brasileiros não perdemos as nossas referências.
Nós brasileiros nascemos neste solo e dele seremos adubo para as flores das novas gerações.
*João Vicente Goulart é filósofo, presidente do Instituto Presidente João Goulart.
Fonte: Jornal Correio do Brasil