É apenas um relato. As conclusões sobre como foi possível que um episódio tão grotesco inflamasse as esperanças da direção nacional do PCB e, principalmente, de Luís Carlos Prestes dizem respeito a toda a história do PCB nesse período, e tratei do assunto em Revolucionários de 1935 – sonho e realidade. (2) Repetir aqui a análise, que implicaria tratar de muitos outros episódios, alongaria por demais o trabalho.

Como o assunto foi muito pouco tratado, até hoje, na literatura sobre o PCB, espero que, apesar de simples relato, seja de utilidade para os estudiosos dos movimentos de esquerda no Brasil.

Em anexo, estão três documentos de autoria de Luis Carlos Prestes que são documentos raros: o primeiro, “Instruções para o movimento guerrilheiro”, foi escrito no início de novembro de 1935, quando o “Cavaleiro da Esperança”, acreditando nas guerrilhas, inventadas pelos comunistas do Nordeste, julgou imprescindível instruí-las, a partir de sua experiência na Coluna. Os outros dois, são “As lutas dos guerrilheiros”, que contém um item sobre “A ação política dos guerrilheiros – Nossa posição em relação aos cangaceiros”, de dezembro de 1935, e “Diretivas para as lutas camponesas e sua transformação em guerrilhas”, de janeiro de 1936.

Estou certa da importância desses documentos e espero que sua divulgação venha a ser útil para muitos pesquisadores de nossa história política.

Uma introdução necessária

A luta armada nunca esteve ausente da perspectiva do PCB e, no final dos anos 20 e primeira metade dos anos 30, estava na ordem do dia.

Ao terminar o ano de 1927, a direção do Partido Comunista do Brasil (PCB) procurou Luís Carlos Prestes, líder da Coluna que levou seu nome, propondo bases para um acordo com os tenentes: estes seriam uma espécie de braço militar do partido, que teria a direção política de uma terceira insurreição que os comunistas consideravam iminente. (3) Os tenentes deram pouca atenção à proposta de uma aliança que só viria a ocorrer em 1935.

Ao lado da perspectiva geral de luta armada para a tomada do poder, começou a circular, no início de 1932, nos meios partidários – em especial no Nordeste – a idéia de criação de guerrilhas. Em abril daquele ano, chegava ao Rio de Janeiro o pernambucano José Caetano Machado, membro da direção do Partido em Pernambuco, que defendia ardorosamente a formação de guerrilhas no campo, no que era apoiado por outros membros do Comitê Central do PCB.

A prisão de quase toda a direção do partido, depois da participação dos comunistas nas greves de maio de 1932, em São Paulo, desorganizou o PCB Somente a partir de sua reestruturação, em meados de 1933, voltou-se a insistir na preparação da luta armada. Bangu, (4) membro da direção do partido na época, disse que

“Nunca surgiu em nossas fileiras, nessa época, qualquer i1usão ou veleidade no que concerne à conquista do poder por vias pacíficas ou eleitorais. Algum que preconizasse a tomada do poder pelas massas populares por outro caminho que não fosse pela luta armada cairia no ridículo.” (5)

“(…) Nós já estávamos com o espírito preparado, estávamos com o espírito já evoluindo com aquela idéia: um partido comunista, um partido revolucionário, ele tem que trabalhar é pra libertar o povo. E libertar como? Só quando o povo tem armas. Não víamos outro caminho.” (6)

Além da luta armada ser o caminho indicado pelos comunistas, Miranda, (7) que substituiu Bangu na secretaria-geral, em julho de 1934, interpretava como indício de disposição popular para pegarem armas qualquer manifestação camponesa. Também nessa época, o punido passou a considerar os cangaceiros de Lampião como guerrilheiros mal orientados. O próprio Prestes, que vivia em Moscou e ainda não era membro do Partido, avaliava o cangaço como um movimento de camponeses revolucionários, considerando o combate a Lampião prova do reacionarismo do governo de Vargas:

“Eu dizia, lembrando Engels em seu prefácio às “Guerras camponesa na Alemanha”, que num regime feudal os camponeses só tinham duas saídas: pegar em armas para lutar pela liberdade ou ir atrás de algum místico.” (8)

Prestes esquecia-se de uma terceira saída, aquela escolhida pela grande maioria dos trabalhadores do campo, que era a de adaptar-se, como fosse possível, à situação existente.

Em julho de 1934, a direção do Partido estava convencida de que o país vivia uma situação revolucionária e a partir daí foram constantes os apelos à luta armada.

Em agosto-setembro daquele ano, essa mesma direção seguiu para Moscou, a fim de participar do 7º Congresso da Internacional Comunista, marcado para o final do 1934 (adiado para julho de 1935, quando se realizou). Na ocasião, Miranda, que usou o pseudônimo de Queiróz, excedeu-se nas mentiras que contou. Destacou, por exemplo, o que chamou de “especificamente novo” no movimento camponês do país – “as massas camponesas que começavam as lutas armadas” através do movimento guerrilheiro:

“Os guerrilheiros cangaceiros fazem chamamentos à luta, unificam os camponeses pobres e lutam pelo pão e pela vida. O governo já não está em condições de vencer este movimento. Já não são pequenas as insurreições camponesas contra as quais bastava dirigir uma centena de soldados. Numa só província da Bahia os guerrilheiros constituem destacamentos de umas 1.500 pessoas armadas de metralhadoras, providas de caminhões, etc. (…) Lampião e seus guerrilheiros cujo nome e façanha correm de boca em boca, como atos arrojados de defensores da liberdade, defensores da vida do camponês (…) que busca o Partido cuja autoridade cresce também no campo.” (9)

Durante o período de atuação legal da Aliança Nacional Libertadora (maio/julho de 1935), os comunistas já haviam iniciado um trabalho para desencadear movimentos armados, especialmente no campo. Estavam convencidos do papel revolucionário do cangaço e de cenas “coronéis” que chamavam de “caudilhos de camponeses”, alguns dos quais realmente mantinham relações com elementos ligados ao Partido, o que mostra não o “esquerdismo” desses coronéis, mas as ligações dos comunistas com as disputas regionais. Caetano Machado, de Recife, informava à direção que estavam cuidando da fabricação de bombas e contava:

“Estamos esperando movimento camponês em Jatobá e Tacaratu. Por lá esteve um ‘caudilho camponês’ a chamado dos golpistas, mas entrou em ligação com o Partido (recebendo instruções de como organizar as lutas no campo). Esse tal homem disse que o Partido não desse autorização para ele precipitar a luta, ele iria iniciar por sua conta (…) Se ele não está cagando goma, afirmou que poderia iniciar a luta com três grupos de dez homens cada um.” (10)

A partir de Recife, a direção do Partido espalhava panfletos por todo o Nordeste conclamando os camponeses a pegar em armas. Em meados de junho, tentou desencadear uma rebelião armada na região do São Francisco, que só não foi deflagrada pela intervenção de Harry Berger, (11) que foi até o local e proibiu o levante.

Com o fechamento da ANL, em julho de 1935, a orientação geral do PCB continuou a mesma, (12) agora, entretanto, dando maior ênfase ao trabalho conspirativo e à organização das guerrilhas camponesas.

No mesmo mês de julho, vários movimentos camponeses e grevistas que agitaram o interior do Rio Grande do Norte vieram reforçar essa posição do Partido. Em Várzea do Açu, criou-se um sindicato camponês; os salineiros de Mossoró, Macau e Areia Branca entraram em greve e foram vitoriosos, e em Mossoró a greve contou com a adesão de vários outros setores. Em Piranji, vilarejo perto de Ilhéus, Bahia, houve sérios conflitos com os integralistas. Baseando-se nesses acontecimentos, Miranda concluía que “as massas” estavam dispostas a tomar o poder. Seguindo as orientações da reunião do CC, realizada em julho, A Classe Operária, jornal do PCB, iniciou uma série de artigos sobre o movimento camponês e o cangaço:

“Nesses últimos tempos, o movimento revolucionário no Nordeste toma um aspecto mais sério: os grupos de cangaceiros surgem em todos os estados do Nordeste, o descontentamento entre as massas camponesas aumenta dia a dia e tem sua expressão mais concreta nos protestos, demonstrações de massa, assalto aos armazéns dos fazendeiros em busca de gêneros alimentícios e mesmo com a ocupação violenta de terras.” (13)

Todas as formas de luta no campo, dizia, deveriam estar “estreitamente ligadas com as lutas de apoio aos cangaceiros (pois assim) conquistaremos os cangaceiros e elevaremos o nível político de suas lutas”.(14) Partindo de uma avaliação correta – o cangaço era uma decorrência do monopólio da terra –, os comunistas concluíam falsamente que ele deveria ser, portanto, um movimento potencialmente revolucionário. O raciocínio era mecânico, não passando por qualquer mediação sociopolítica ou mesmo psicológica. O entusiasmo do CC com a agitação no interior do Rio Grande do Norte, onde a revolta dos camponeses se misturava e se confundia com as lutas políticas do coronelismo local, com a capangagem e com o banditismo, levou-o a traçar tarefas mais ofensivas para o campo:

“Cada camponês da usina tem uma arma: um revolver, uma espingarda, um rifle, uma faca. Mas não sabiam “direitinho” como e contra quem deviam usar aquelas armas. Agora já sabem: é contra os fazendeiros e seus lacaios, na luta por suas reivindicações e pela terra. E já sabem também que com aquelas armas que possuem, podem arranjar outras melhores. Há uma coisa porém que eles precisam saber: É que não devem esperar por nada. Podem desde já começarem a usá-las. (15).”

A direção do partido explicava que as lutas armadas no campo deveriam começar imediatamente, o que não significava uma luta pelo poder, mas um apoio importante às lutas operárias:

“Devemos iniciar desde já as lutas armadas no campo, em forma de guerrilhas. O desenvolvimento dessas guerrilhas dará possibilidade a uma maior preparação e melhor segurança às lutas operárias e populares nos grandes centros urbanos. Essas guerrilhas, ligadas às lutas operárias e populares serão o ‘fechamento do cerco’, por assim dizer, em torno do governo de Getúlio, que enfraquece dia a dia e se torna um governo cada vez mais odiado pelo povo.” (16)

“A coluna precisa renascer, em todo o Brasil!”

Logo que chegou ao Brasil, em abril de 1935, aclamado como presidente de honra da ANL, Luís Carlos Prestes começou a estabelecer contatos com os tenentes, seus amigos correligionário. Dizia-se disposto a esquecer os erros daqueles que apoiaram Getúlio Vargas em 1930 (o que motivara o rompimento do “Cavaleiro da Esperança” com eles), pois considerava que agora, os que fossem honestos e sinceros tinham a oportunidade de mostrar sua boa fé. Prestes, apesar de seu ingresso no PC, continuava um tenente, e isso fica claro em seu manifesto de 5 de julho de 1935:

“Troam os canhões de Copacabana! Tombam os heróicos companheiros de Siqueira Campos! Levantam-se com Joaquim Távora os soldados de São Paulo e durante 20 dias é a cidade operária barbaramente bombardeada pelos generais a serviço de Bernardes! Depois … a retirada. A luta heróica nos sertões do Paraná! Os levantes do Rio Grande do Sul! A Marcha da Coluna pelo interior de todo o país! Quanta energia, quanta bravura! São 13 anos de lulas cruentas, de combates sucessivos, de vitórias seguidas, das mais negras traições, de ilusões que se desfazem como bolhas de sabão ao sopro da realidade! Mas as lutas continuam porque a vitória ainda não foi alcançada e o lutador heróico é incapaz de ficar no meio do caminho (…)” (17)

Era preciso continuar o movimento revolucionário que se iniciara em 1922 e, para isso, Prestes procurou reviver a Coluna que comandara. A intensa correspondência que manteve, especialmente depois do fechamento da ANL, é quase toda nesse sentido, Em junho de 1935, escrevendo a Agrícola (Rádio de Queiróz Maia), companheiro que seguira para Mato Grosso para organizar tanto núcleos da ANL quanto núcleos guerrilheiros, ele dizia:

“Cada revolucionário, principalmente cada membro da Coluna, precisa organizar um grupo e começar a luta pelos interesses da massa pobre do campo. A Coluna ressurgirá, multiplicada, e com um programa claro. Este é o apelo que formulo, por teu intermédio, aos revolucionários de Mato Grosso e muito especialmente aos ex-combatentes da Coluna que por lá encontrares.” (18)

Prestes, o general dos tenentes, procurava entre esses o apoio necessário à organização de uma nova Coluna, que ele imaginava agora fortalecida pelo apoio operário e pela teoria marxista, Em carta ao capitão Trifino Correa, expunha seu sonho de maneira insofismável:

“Como era inevitável, estamos novamente juntos e nas barricadas do povo levantamos novamente a bandeira de Siqueira Campos ( … ) Agora, meu caro Trifino, precisamos trabalhar e passar com toda a e energia, da propaganda e agitação para o período de organização fria e sistemática, de maneira de estarmos prontos momento decisivo. A ti cabe (…) a grande tarefa de mobilizar todos os companheiros da Coluna, bem como todos os outros lutadores honestos que contigo combateram em 30 e 32. Peço-te que te dirijas a lodos eles, empregando, sempre que for necessário, o meu nome, explicando-lhes o momento atual e o programa da ANL. É necessário que a Coluna se reorganize e que seja multiplicada e orientada. Multiplicada porque cada soldado da Coluna deve ser, nos dias de hoje, o comandante de um grupo ou destacamento a serviço da ANL. Orientada porque os últimos anos de lutas e desilusões esclareceram os nossos objetivos e tornaram claro o nosso programa. Numericamente, a maior força da revolução está no campo, entre os trabalhadores agrícolas, operários e camponeses (…) Aos antigos e bravos combatentes da Coluna, aos que não se desmoralizam com pequenos empregos e sinecuras, que lhes deram os dominadores atuais, cabe ir dirigi-los.

A revolução atual será realmente popular, muito diferente de um golpe dirigido exclusivamente do centro e com o qual sejam magicamente substituídos os dirigentes atuais. A luta precisa começar em todo o país e não há mais tempo a perder. Todos os combatentes da Coluna podem começar lutas armadas no interior, por Pão, Terra e Liberdade, empregando abertamente o meu nome.

A palavra de ordem que dou aos antigos combatentes da Coluna é ir ao povo, organizar os trabalhadores, organizar os trabalhadores do campo, dirigir suas lutas contra os grandes fazendeiros e os bandos policiais. A tática militar a empregar é muito nossa conhecida e já foi aprovada pela nossa marcha. Ela deu e dará bons resultados, Começar com lutas armadas no interior e não entregar mais as armas, só recebendo ordens do antigo comandante da Coluna. Tudo pelos pobres e tudo contra os ricos e reacionários (…)

É evidente que tu e teus companheiros que comandam tropas devem continuar a frente de teus soldados e guardar para a ação ordens superiores. Mobilizar desde já os que não estejam em tais condições e que vão produzir muito mais indo, com a experiência que adquiriram na marcha da Coluna, dirigir os movimentos armados no interior (…) Meu caro Trífino aproxima-se afinal da vitória real da revolução. Dentro em breve expulsaremos de fato os exploradores estrangeiros e veremos vitoriosa a causa pela qual morreu nosso grande Siqueira Campos” (19)

Na mesma época, escrevia ao capitão Aristides Leal:

“A revolução não será um golpe mágico no Rio de Janeiro (…) vai ser o coroamento de grandes lutas populares por todo o país (…) nas cidades, dirigidas e iniciadas pelo proletariado. Mas, no campo, podem e devem ser iniciadas pelos homens experimentados de nossa Coluna, (… ) levantar novamente no interior a bandeira da Coluna (…) A Coluna precisa renascer em todo o Brasil, mas multiplicada, porque cada ex-soldado deve, nas lutas de hoje, ser o comandante de um grupo numeroso (…)” (20)

Prestes acreditava que tais diretivas pudessem ser seguidas. O ter pertencido à coluna parecia-lhe um pacto sagrado, bastando um apelo seu para que lodos os ex-combatentes se mobilizassem e partissem para o interior a organizar guerrilhas, sob seu comando. Em todas essas cartas. Mostrou-se principalmente um general que procurava reorganizar seu exército: “Escrevo-lhe como velho amigo e chefe. Quem te escreve é o mesmo companheiro das marchas da Coluna”, lembrava sempre.

Em setembro, foram enviadas instruções aos comunistas do Rio Grande do Norte, insistindo-se que:

No campo, deve-se organizar a luta armada contra a polícia: Lutas armadas não querem dizer luta imediata pelo poder no estado ou município. São lutas parciais, relativamente fáceis de serem vitoriosas nas condições do interior do nosso país. Não se trata de preparar grupos armados para lutarem de armas nas mãos, isoladamente das massas. Trata-se de levar os camponeses às lutas pacíficas por seus interesses imediatos, mas tomando providências inteligentes e indispensáveis para que os lutadores não sejam rapidamente massacrados (caso da Várzea do Açu e o modo como essas lutas se transformaram em lutas armadas que podem manter grupos guerrilheiros invencíveis).” (21)

Tal entusiasmo não tinha nenhuma base na realidade. A situação do partido era incrivelmente precária, como mostram os balanços da região Nordeste: na Paraíba, o PC era muito débil. O Ceará não estava em melhor situação. Dizia o encarregado do balanço nesse Estado que, por lá, as tendências golpistas iam da base à direção. Tanto comunistas como aliancistas estavam dispostos a tentar um golpe, mesmo sem nenhuma perspectiva de vitória. Até as lutas contra os integralistas eram fracas, pois os camisas-verdes, dizia o informante, têm muita força, inclusive no movimento operário e “os companheiros dizem que a massa é toda integralista”. Contava ainda que a situação no Piauí e no Maranhão era tensa, “eles lá estão também aguardando um golpe”. (22)

Em Mato Grosso, a tentativa de organizar um levante camponês está descrita no relato kafkiano do militante que resolveu pôr em prática as orientações dadas por Prestes. (23) Conta ele que chegou ao Estado em agosto, rodando por Campo Grande, Ponta Porã e Bela Vista, em busca de contatos para a formação de grupos guerrilheiros, “baseando-me no programa e no nome de Prestes, que por si só é uma bandeira para os camponeses de Mato Grosso”. Em Bela Vista, encontrara-se com “um caudilho prestigioso, Godofredo Gonçalves, neto de Bento Gonçalves, de uma firmeza de caráter inabalável, com tendências comunistas, porém um pouco atrasado, lhe falta apenas um cimento nosso”. (24)

Andou por várias cidades e voltou a Campo Grande ainda em agosto, com o já mencionado Rádio de Queiróz Maia, o Agrícola, que recebera instruções de Prestes para iniciar guerrilhas naquele Estado. Acertaram então um levante camponês para o dia 24 de setembro. Como um dos implicados no levante, o Silvino, de Bela Vista, caísse, doente, a revolta foi adiada para o dia 30. A 23, porém, o missivista recebeu um comunicado do Rio de Janeiro, mandando que aguardasse carta antes de começar qualquer ação, mas a carta não chegou. A 29, soube que o Dr. Veloso, pessoa de sua confiança, estaria no dia 30 “em campo, com os camponeses em armas e que lhe esperava, conforme o compromisso”. Naquela madrugada, seguiu para encontrar-se com o grupo, munido de folhetos e proclamações aos soldados, todos pedindo um Governo Popular Nacional Revolucionário, com Prestes à frente. Quando chegou à localidade de Porteira, onde estava marcado o encontro, tomou conhecimento de uma ordem dada por Silvino, para que o grupo se “dissolvesse sem alarido”. Muito decepcionado, estava pensando no que fazer quando os camponeses que conseguira reunir ouviram o nome de Prestes, começando a dar vivas entusiasmados ao “Cavaleiro da Esperança” e a disparar suas armas, julgando ter começado a revolução. Quando perceberam que tinham “cometido um grande erro”, já haviam alarmado toda a região.

“Indignado, volto para a fazenda Santa Maria, onde se achava o Silvino e lá, naturalmente, combinamos a saída para tudo isso: a minha prisão”, Silvino e Argemiro, comprometidos com o levante, explicaram-lhe que o único modo de desfazer o mal-entendido era prender-lhe como traidor, lá mesmo, na fazenda:

“Aceitei tudo porque não havia outro jeito. Além do mais, o Silvino tinha tido grande prejuízo, pois distribuiu suas mercadorias com as famílias dos camponeses que iam lutar, chegando até a vender uma boiada. Sua denúncia contra mim foi me entregando ao destacamento como comunista e entregando ao comandante do destacamento os boletins de apelos aos soldados levei daí, referentes á organização dos camponeses e de guerrilha”. (25)

O frustrado guerrilheiro foi levado ao Batalhão de Caçadores em Aquidaúna. Lá, o capitão Antônio Rolemberg, membro do PCB, facilitou-lhe fuga. O prisioneiro estava sem sorte, pois um ferimento no pé impediu que aproveitasse a chance. Acabaram por soltá-lo em meados de novembro.

Foi no Rio Grande do Norte que durou mais tempo a aventura das “guerrilhas” Iniciada sua organização em julho, depois dos acontecimentos em Açu, Mossor6 e Areia Branca, a que já nos referimos, o grupo “guerrilheiro” manteve-se até fevereiro de 1936.

A 12 de novembro, um informe de Natal comunicava que o trabalho de organização das guerrilhas era intenso:

“Temos três grupos de guerrilheiros, com 12 homens cada um, atuando dois no município de Açu e outro no de Areia Branca e perspectivas de organizar outro já. Em Currais Novos deu-se evasão a um sentenciado de 30 anos, chamado Rouxinol, do grupo de Lampião, com um companheiro nosso. Gavião, do Partido, iam formar o núcleo inicial de mais uma guerrilha. Infelizmente, tais companheiros, quando se dirigiam a Carnaúbas, estrada de rodagem, foram presos pelo coronel Dinarte Mariz. Gavião conseguiu convencê-lo de que não conhecia Rouxinol, eram apenas companheiros de jornada e por isso foi solto. Foi mandada pelo Partido uma brigada para o campo, porém eles, da brigada, não compreenderam bem as instruções e entraram no banditismo, sendo que este banditismo existe algo aproveitável, como seja, exterminar todos os integralistas que lhes passavam pelas mãos e outros chefes reacionários. Deverá seguir outra brigada mais esclarecida, pra modificar a situação da primeira e por si mesma entrar em ação”. (26)

Contava que o partido tentava infiltrar companheiros na Polícia Militar, já havendo conseguido cinco sargentos “que irão receber instruções para organizar grupos guerrilheiros com as suas tropas, quando forem destacados para o interior (…) Esperamos organizar grupos em Mossoró, Areia Branca, Pau dos Ferros, Carnaúbas etc.” (27)

No mês anterior, outubro, houve eleições o governo do Estado no Rio Grande do Norte. A Aliança Social, partido do interventor Mário Câmara, perdeu as eleições. O vencedor foi Rafael Fernandes, do Partido Progressista, que mal tomou posse iniciou as perseguições aos derrotados.

A situação era muito tensa, A Aliança Social procurava por todas as formas garantir sua sobrevivência política (e física), tentando impedir a posse do governador eleito. Os boatos proliferavam: pessoas estariam sendo recrutadas no Ceará e o “coronel” camarista (adepto de Mário Câmara) Baltazar Meireles estaria organizando, com outros “coronéis”, milícias sertanejas para combater Rafael Fernandes.

A falta de articulação e organização dos opositores, porém, fez que as tentativas de impedir a posse do novo governador não passassem de ataques esporádicos, saques, depredações e assassinatos. Mas a oposição entre os dois partidos, como era de esperar, continuou muito acirrada, principalmente no interior, onde as lutas eram mais violentas. Tal ambiente favoreceu a sobrevivência dos “guerrilheiros” no Rio Grande do Norte. Vamos à sua história.

Os “bandoleiros vermelhos”

Os “guerrilheiros” do PCB, que ficaram conhecidos como “bandoleiros vermelhos”, “bandidos vermelhos” ou “bandoleiros extremistas”, eram uma estranha mistura de posições do Partido Comunista, da Aliança Nacional Libertadora, da Aliança Social e de puro banditismo. O PC dirigia-os “politicamente” e lhes fornecia apoio logístico, acreditando, como vimos, estar dando início a um importante movimento camponês armado, que impulsionaria a revolução nacional-libertadora.

O informe de Lemos falara em três grupos “guerrilheiros”‘ organizados, mas só um deles chegou a entrar em ação e ter uma existência mais duradoura. Compunham o grupo cerca de quarenta pessoas, embora nem todas tenham atuado ao mesmo tempo. Eram, na maioria, indivíduos sem profissão certa e quase todos analfabetos. Assaltavam, assassinavam e viviam acoitados em fazendas de simpatizantes da ANL geralmente políticos ligados à Aliança Social.

Apesar de repelirem confusamente as palavras de ordem do PCB, a maioria parecia ter encontrado nas “guerrilhas” um meio de sobrevivência. Tinham como principal orientação atacar fazendas e povoados para conseguir armas que seriam fornecidas aos camponeses, na tentativa de organizar a luta pelas reivindicações dos trabalhadores do campo. Atuavam principalmente na região compreendida entre Areia Branca, Mossoró, Augusto Severo e Açu, tendo ramificações em Baixa Verde (atual cidade de João Câmara).

Seguem-se os nomes e profissões de quase todos os membros do grupo:

• Miguel Moreira, seu chefe advogado;
• Manoel Torquato, ex-trabalhador nas salinas, conhecido por vários furtos de ovelhas, cumpria pena na cadeia de Mossoró, de onde fugiu, pelo assassinato de um sargento;
• Manoel Feliciano Pereira, sem profissão, e seu irmão;
• Marcelino Feliciano Pereira, também sem profissão. Os dois eram conhecidos como Manoel e Marcelino Alexandre ou Feliciano Alexandre:
• José Ciriaco, sem profissão:
• Manoel Nunes da Silva “seu Né”, sem profissão:
• José Batista da Costa, vulgo “Despertador”, sem profissão;
• Gonçalo Izidro, sem profissão:
• Sebastião Caldeira, vulgo “Sebastião Cangalha”, sem profissão:
• Júlio Parto, sem profissão, fugitivo da cadeia de Mossoró;
• José Pinto, vulgo “Jupi”, sem profissão, fugitivo da cadeia de Mossoró;
• João Freire de Araújo, ex-trabalhador nas salinas;
• Herculano Barbosa, vulgo ‘”Tupy”, jornaleiro;
• Jorge Estevão de Barros, “Jorge Chaveiro”,aprendiz de pedreiro;
• Sandoval de Oliveira Sales e Lira, ex-cabo da Força Pública, apanhador de algodão;
• Manoel Torquato, sobrinho do já mencionado do mesmo nome, jornaleiro, e seu irmão,
• Ricardo Torquato, também jornaleiro;
• José Mariano, sem profissão;
• Francisco Gato, sem profissão;
• José Beluga, sem profissão;
• João Abreu, sem profissão;
• Vicente Ferreira Gomes, sem profissão;
• Amônio Pereira, “Torpedo”, motorista;
• Honório Máximo, agricultor;
• José Domingos, sem profissão, sentenciado fugitivo da cadeia;
• Antônio Pereira de Melo, sem profissão, sentenciado fugitivo da cadeia;
• José Francisco Pereira, sem profissão, sentenciado fugitivo da cadeia;
• Gregório Serafim, sem profissão;
• João Paulino Vieira. “João Pimor”, pintor;
• José Tomás da Silva, “seu Neném” sem profissão;
• Wenceslau de Tal, sem profissão;
• Nezinho, sem profissão;
• “José Alemão”, ex-soldado, do Rio de Janeiro. de quem não foi possível obter o nome verdadeiro.

Os comunistas destacados para organizar as “guerrilhas” começavam seu trabalho fazendo reuniões no meio do mato, para falar da necessidade de aumentos salariais, orientar os sindicalizados a entrarem para o PCB e convocar os camponeses para atacarem as maiores propriedades da região e eliminarem os seus donos. (28) Francisco Alves de Queirós, morador de um sítio, contou que desde maio de 1935, Manoel Torquato, José Mariano e João Pereira faziam comícios no sítio onde trabalhava, “insuflando os trabalhadores contra as autoridades” Cândido Lúcio Bezerra, acusado de reunir pessoas para esses comícios, explicou por que o fazia:

“Em setembro-outubro de 1935, o senhor José Lins de Oliveira chegou à casa de Paulo Silvestre (irmão de Manoel Torquato – MV), vindo de Mossoró, e depois foi procurá-lo pedindo para reunir gente pra fazer uns comícios. José Lins solicitava a todos que comprassem armamentos para o dia da revolução mundial; e que qualquer deles que revelasse esse segredo tinha que passar pelas armas, antes de rebentar a revolução; José Lins aconselhava-o a não pagar o foro de suas terras e bem assim outras dívidas, que tudo isso ia pertencer ao Partido Comunista. Mesmo assim ele não observou nenhuma recomendação recebida e logo que fez a venda do algodão pagou todas as dívidas que se achava devendo.” (29)

José Lins foi chamado para depor e na ocasião forneceu informações que mostram os contatos do PC com os políticos da Aliança Social e a benevolência desses para com os comunistas, aliados certos contra perrepistas (do Partido Progressista). Diz o depoimento de Lins:

“Em 1934, quando formaram-se os sindicatos trabalhistas, depois de ouvir discursos de idéias avançadas (comunistas) feitos pelos senhores Manoel Aguiar, José Mariano e Otávio Amorim e de outras pessoas, como sejam os Reginaldo, tomou-se adepto do PC. Ainda ouviu discursos, no mesmo sentido, pronunciados pelos senhores Amâncio Leite e Café Filho, concitando os operários a se unirem ( … ) José Mariano aconselhou-o a afastar-se dos perrepistas porque ele era miserável pedreiro e não recebia nenhum auxílio dessa gente; procurasse sempre o senhor João Café Filho e seus amigos, porque esses eram os únicos que salvariam os operários.” (30)

No interior, o paterna

lismo continuava sendo muito forte, esperando sempre que os poderosos dessem alguma coisa aos despossuídos, e o PC não fugia à regra.

José Lins continuou contando que Jonas Reginaldo lhe havia falado de um telegrama, remetido ao chefe de polícia, capitão José Inácio, pelo então interventor Mário Câmara. O telegrama dizia haver em Mossoró meia dúzia de comunistas, mas que não se incomodasse com eles; apenas não consentisse em comícios públicos que reuniões secretas podiam fazer. Nessas reuniões eram aconselhados a se unirem e a comprar armamentos para o caso de Mário Câmara perder as eleições, pois o interventor deveria ser mantido no poder “por movimento amparado pelo proletariado”. (31)

Manoel Feliciano Pereira, que desempenhou um triste papel na última ação dos “bandoleiros vermelhos”, entrou para o grupo em setembro de 1935, a convite de Marcelino Pereira, seu irmão, de José Mariano e de Herculano José Barbosa. Contou que antes disso

“Luizinho Saraiva e Jonas Reginaldo falavam a ele do comunismo, em intensa propaganda. Entrou então em ligação com Manoelzinho da Chica e Cândido Benício e finalmente Miguel Moreira, que chefiava um grupo de cinco ou seis homens, ele entre estes. Começaram então as ações armadas. No início eram ele, José Mariano, Herculano, José Batista, seu irmão e João Freire. Depois entraram Gonçalo Izidoro, Manoel Torquato, Nezinho, Jospe Domingos, Julio Porto, José Pinto, Sandoval, Alemão e outros”. (32)

Contou também que, antes das ações armadas, reuniam-se em casa de Francisco Guilherme, em Mossoró.

A primeira grande ação projetada para o grupo foi o assalto à fazenda Lagoinha, no local do mesmo nome, subúrbio de Mossoró, de propriedade de Anísio Pereira, onde se dizia haver muito armamento. A ação seria a 27 de outubro, nas vésperas da posse de Rafael Fernandes e, por sua esperada amplitude, seria chefiada por Joel Martins Paulista, presidente do Sindicato dos Salineiros de Mossoró. Tomadas as armas da fazenda, atacariam o comércio local, confiscando armas que seriam distribuídas entre os operários; diziam contar com mais de cem trabalhadores nas salinas, que estariam mobilizados, e então seguiriam para atacar Areia Branca. (33)

Outro participante do grupo, Gregório Pio de Mendonça, fala também da projetada ação e dá outros detalhes. Ia ele para Areia Branca, em outubro, quando os sobrinhos de Manoel Torquato convidaram-no para um comício “dentro do matagal que fica à margem da linha férrea, perto da cidade; lá, encontrou muita gente e todos armados: Manoel Torquato, Jonas Reginaldo, Miguel Moreira e José Mariano. Iam atacar a delegacia pra conseguir armas e assassinar uns.” (34)

Só conseguiram uns poucos rifles e no dia 29 voltaram a Mossoró com José Mariano, que ia buscar ligações por lá. O plano era atacar a polícia e as autoridades de Areia Branca, Açu e Grossos e assassinar o prefeito Manoel Montenegro. Não puderam realizar a ação porque encontraram os pontos que queriam atacar fortemente policiados. O máximo que conseguiram foi, em Grossos, tomar três rifles de um comerciante e mais outro de um ambulante. Segundo Gregório Pio, o destacamento de Areia Branca estava a par da ação. (35)

O primeiro inquérito sobre a ação dos bandoleiros foi aberto a 11 de novembro de 1935, por denúncia de que o grupo comunista, chefiado por Joel Martins Paulista, preparava um ataque armado à cidade de Mossoró, com o objetivo principal de protestar contra a posse de Rafael Fernandes. Nessa ocasião foram efetuadas algumas prisões, logo depois relaxadas.

O grupo de bandoleiros, cujo primeiro centro de atividades foi Lagoinha, chegou a possuir algumas armas do Exército, como uma carabina encontrada em poder de Francisco Machado dos Santos. Este declarou à polícia que arma e munição lhe foram entregues por José Amaro dos Santos; afirmou que se viu obrigado a participar da conspiração “ou lhe tirariam a cabeça”.(36)

Gonçalo Izidro, outro dos “bandoleiros extremistas”, contou em detalhes como entrou para o grupo (37): Morava em Pedro Mendonça, onde, por volta de agosto-setembro, apareceram três indivíduos querendo matar seu cunhado, Antônio Avelino. “Como este não quisesse se armar para se defender, mudaram-se para a cidade (de Mossoró)”. Soube depois que os três eram comunistas e queriam matar Avelino porque este se negara a entrar para o Partido. Em outubro, estando já em Mossoró, foi preso na casa comercial de Vicente Agostinho, por três pessoas: Miguel Moreira, Feliciano Pereira e um outro, louro, do Rio, que não conhecia. (38) Prendiam-no a pretexto de ser ele “um bajulador de Avelino e de Anísio Pereira” Foi levado em seguida para uma lagoa, a mais ou menos três léguas da cidade, onde ficou até que, dois dias depois, chegaram cerca de vinte homens armados de fuzis, rifles e armas curtas. “Puseram-no então em liberdade, para que ficasse fazendo parte do grupo”.

Já Honório Máximo, quando preso, negou fazer parte dos bandoleiros, dizendo ter apenas participado de reuniões do Partido, dirigidas por Marcelino Pereira, na casa de Glicério Reginaldo, em Baixa Verde. E fez questão de declarar que s6 tomou parte nessas reuniões porque Marcelino Pereira lhe afirmara que “o comunismo era coisa muito boa”. (39)

Em setembro de 1935, o grupo planejou uma ação contra os integralistas. No dia 15, rebeldes serraram em dois pontos os trilhos externos de uma curva, no quilometro nove da estrada de ferro Areia Branca-Mossoró, para provocar o descarrilamento do trem que conduzia uma caravana dos galinhas-verdes em visita ao interior do estado. O trem, que deveria passar pelo local danificado às 18 horas, ficou retido na estação anterior, por qualquer desarranjo, o que deu tempo da sabotagem ser descoberta, evitando-se o desastre. (40) O fato teve muita repercussão, tendo o jornal A Ordem, de 17 de setembro, noticiado em sua primeira página.

“Ameaças e atentados contra os integralistas do Rio Grande do Norte: os comunistas pixaram as residências dos integralistas em Ceará Mirim e cortaram os trilhos da Central, no Km 9, para virar o trem em que viajavam os ‘camisas-verdes’”. (41)

Ao contrário do que se poderia imaginar, os “guerrilheiros” não tiveram nenhuma atuação especial nos acontecimentos de 23 a 27 de novembro de 1935 e, depois deles, continuaram a agir como de seu costume. As notícias que chegavam ao Rio sobre os movimentos guerrilheiros no Nordeste eram ecos esparsos das estrepulias dos “bandoleiros vermelhos” pelo interior do Rio Grande do Norte, mas a direção do partido e Prestes acreditavam esperançadamente nas “guerrilhas”. Depois da derrota dos levantes de novembro, convenceram-se também que boa parte dos soldados, cabos e sargentos do 21º BC (unidade que se levantara em Natal a 23 de novembro) estava no interior, continuando a luta e reforçando os grupos armados.

Em meio a empolgação, chegou à direção do PCB, no Rio, uma informação mais sensata:

”Estamos mandando um camarada para estabelecer ligações, organizar nossas forças e tirar diretivas concretas para desencadear as lutas, mas nada sabemos de concreto das lutas e dos grupos de libertadores que continuam a lutar no interior, à exceção de um oficial chefia trinta homens de um sargento que também chefia um número interior, uns dez, mais ou menos”. (42)

Seguro mesmo, insistia a carta, “é a existência de muita gente refugiada dos levantes e dispersa pelo interior”. A informação não foi levada em conta e Prestes tomou providências para conseguir pessoas e dinheiro para reforçarem o movimento “guerrilheiro”:

“Exclusivamente para o trabalho de organização de grupos guerrilheiros no NE, obtive, por intermédio do Eça a importância de trinta contos – um pouco mais, na realidade. Esta importância está comigo e deve servir de base na organização de todos os nossos planos, inclusive recrutamento de elementos aqui, seu preparo, viagem para lá, etc. Seria bom preparar, com tal base financeira, todo um plano de trabalho, visando o recrutamento de pelo menos cinqüenta bons lutadores, que possam ser encaminhados ao Nordeste”. (43)

Enquanto Prestes procurava meios para reforçar as “guerrilhas”, os “bandoleiros extremistas” sobreviviam com a ajuda de várias personalidades locais, que colaboravam com eles em busca de algum apoio político, fornecendo armas, munição, alimentos, esconderijos e dinheiro, como os deputados da Aliança Social Amâncio Leite e Benedito Saldanha. Outros, principalmente pequenos comerciantes, davam dinheiro e gêneros, na maioria das vezes cedendo às ameaças e chantagens dos “guerrilheiros”.

Os bandoleiros ficaram quase todo o mês de dezembro de 1935 acoitados no sítio Ema, de propriedade de Manoel Damião de Carvalho, comerciante. Deca Damião, como era conhecido, além de abrigo, contribuía financeiramente com trinta mil réis mensais. João Neiva, também comerciante, era mais generoso, contribuindo com cinqüenta mil réis. Os “bandoleiros vermelhos” montaram uma rede de apoio, com a qual colaboravam outros comerciantes, como Antônio Falcão Freire. Francisco Mariano da Silva (Chico Baixa Verde), vaqueiro da fazenda Jurema, e Cirilino Bezerra, que forneciam víveres, levados ao grupo por um de seus membros, Sebastião Caldeira. A este cabia ainda a tarefa de receber de Francisco Mariano notícias sobre a posição das forças policiais e transmiti-las ao bando. O sargento Amaro Potengy, instrutor de tiro em Mossoró, cedera um fuzil aos comunistas, enquanto Tertuliano Ayres Primo, chamado de Terto Ayres, consertava-lhes as armas que precisassem de reparo.

Instado do Rio de Janeiro para intensificar suas atividades, o grupo não se fez de rogado. Entre final de 1935 e meados de fevereiro de 1936, executou várias ações. Uma delas foi o assalto, em São Sebastião, à casa de Pedro José da Silveira. Seguiram depois para a cidade, na tentativa fracassada de tomá-la,.ferindo gravemente algumas pessoas.

No bairro de Três Vinténs, os “guerrilheiros” enfrentaram a Força Pública – que sempre levava a pior – e partiram para o assalto à casa de Zezinho do Coqueiro, em Passagem das Pedras. Depois atacaram Ipanema, no município de Augusto Severo, e foram refugiar-se na fazenda de Teotônio de Tal, em Campo Comprido. Eram os primeiros dias de janeiro de 1936.

A Força Pública passou a recrutar voluntários civis que lhe ajudassem a combater os “bandidos vermelhos” e, quando conseguiu um grupo relativamente grande, partiu para o local onde o bando se escondia. O sargento comandante da força legal dividiu seus homens em três flancos e foi para o ataque. Os “guerrilheiros”, bem localizados, enfrentaram a polícia, ferindo vários “macacos”, como eram chamados os policiais, matando o soldado Arthur Felipe. Mais uma vez a Força Pública foi desbaratada.

Os que participaram do combate do lado da polícia contaram que os “cangaceiros comunistas” lutavam aos gritos de “Viva a ANL e Viva Luís Carlos Prestes” Disseram também que depois que a polícia fugiu, foram até o cadáver de Arthur Felipe, “degolaram-no, cortaram-lhe os braços e deram furadas de faca e de pau, com coices de fuzil ou rifle, e foram embora”. (44)

Depois desse entrevero com a polícia, os bandoleiros continuaram pela região, incendiando várias fazendas, como a do Sítio da Barra, em São Sebastião.

Quando chegou do Rio o já mencionado “José Alemão”, carioca e ex-integrante, segundo alguns, do 3º RI, mandado ao Nordeste para fortalecer a luta “guerrilheira”, ele foi logo incorporado à direção do movimento. Sua “contribuição política”, entretanto, em nada modificou a ação do grupo, que continuou a perambular pelo interior assaltando, incendiando, roubando e matando quem se lhe opunha. A diferença entre os “guerrilheiros vermelhos” e um bando de cangaceiros ara apenas o palavreado “político”:

“O objetivo da luta armada era demonstrar a necessidade da revolução comunista, mostrando à população que ela seria inevitável e vitoriosa, razão por que deveria ser apoiada por lodos os operários e camponeses”.(45)

Mas o tipo de ação que realizavam e os meios utilizados para sobreviverem levaram rapidamente à deterioração do bando: as fugas começaram. Manoel Pereira saiu um dia dizendo que ia atrás de uma rês e nunca mais voltou. Gonçalo Izidoro, poucos dias antes da dissolução total do grupo, abandonou as armas e fugiu para o Canindé, “a fim de pagar uma promessa” Logo depois, Honório Máximo teve, também ele, de “pagar uma promessa” e sumiu. (46) Os dois devotos acabaram presos pela polícia do Ceará.

Segundo Manoel Feliciano Pereira, as discussões e as fugas foram devidas ao descontentamento do grupo pelo fato de Miguel Moreira, um de seus chefes, ficar sempre com o dinheiro roubado, “nada fornecendo a seus companheiros, sendo que até para lavar suas roupas precisavam de ordem do chefe, que nem sempre consentia nisso”.

No dia 13 de fevereiro, os chefes do grupo escreveram uma carta a Antônio Rodrigues, comerciante, cuja principal finalidade em pedir dinheiro. A reprodução de seus principais trechos mostra bem o que era o movimento:

“Como é sabido, nós nos achamos em armas, dando início à Revolução Nacional Libertadora que, como V. S. não ignora é uma fatalidade histórica e tem por fim libertar o Brasil da influência nefasta do imperialismo estrangeiro que tão miseravelmente explora e oprime dentro de nossa casa; – acabar com o latifúndio que é propriedade territorial; – proteger e desenvolver a pequena propriedade e o pequeno comércio; – assegurar a independência do Brasil, a liberdade e o bem-estar de todos os brasileiros.” (47)

Depois de falar da situação política do país e afirmar que somente a revolução poderia salvar o povo da miséria, continuavam:

“Sabemos que o senhor não é nosso inimigo, nem tampouco da Revolução. Pelo que lhe dirigimos a presente para pedir-lhe, em nome da Revolução, um conto de réis (1:000$000) emprestado.

Sabemos que o senhor não é um grande rico, mas a importância pedida não vai além das suas possibilidades. Apesar das calúnias dos nossos inimigos, nós, até hoje, não praticamos o saque e pedimos aos que simpatizam com a Revolução que há de libertar o Brasil de todos os males que nos afligem.

O sigilo da presente e a segurança pessoal do portador são da máxima conveniência para V.S.

Sem mais

Saudações revolucionárias

Pela Comissão Executiva das Forças Libertadoras

as) Miguel Moreira
Marcelino Pereira
Manoel Torquato.” (48)

O portador da carta foi Chico Baixa Verde, sendo organizado um pequeno comando para acompanhá-lo de longe, à espera do dinheiro. Mas Chico Baixa Verde foi direto à polícia e denunciou o grupo que. atacado, fugiu, perdendo um de seus homens, Sebastião Caldeira, morto no tiroteio.

Conta Feliciano Pereira, que comandava os homens, que “não permitiu a menor resistência, o que muito irritou os outros, que queriam matar Baixa Verde, considerado traidor”.(49)

No dia seguinte, 14 de fevereiro, os “guerrilheiros” reuniram-se em assembléia, num ponto afastado do Taboleiro Alto, para deliberar sobre a traição à revolução de Chico Baixa Verde e seu patrão, Antônio Rodrigues, que julgavam também responsável. Antônio Rodrigues era conhecido na região como “Prego Dourado”, e Chico Baixa Verde era seu vaqueiro. Ficou decidido que dois dos “guerri1heiros” iriam até a cidade atirar uma bomba de dinamite em casa de Prego Dourado e “depois destruir tudo dele que estivesse ao alcance”. (50)

Manoel Torquato ofereceu-se para a missão e escolheu Manoel Feliciano Pereira para acompanhá-lo. Este disse, em seu depoimento, que não se opôs “com medo de fuzilamento sumário”.

Manoel Feliciano Pereira, que vinha há tempos querendo desligar-se do grupo “e passar-se para a Justiça, resolveu secretamente desembaraçar-se de Torquato e entregar-se”.(51)

Os dois “guerrilheiros” saíram juntos e, quando chegaram nas Barrocas, Manoel Feliciano esperou um momento em que Manoel Torquato ficasse de costas e o matou. Largou ao lado do cadáver as armas e munições que levavam e “foi procurar um compadre’ que o acompanhou à polícia para se entregar.

Depois de confessar na delegacia toda a sua atuação, inclusive o assassinato de Manoel Torquato, delatando também as atividades de seu grupo, Manoel Francisco levou o capitão Joaquim de Moura com seus homens até o esconderijo dos “guerrilheiros” que, apanhados de surpresa, mal conseguiram fugir. O bandoleiro arrependido acompanhou então a polícia até o esconderijo das armas, sendo apreendidas dezessete, entre rifles e fuzis.

Em pouco tempo todos os “bandidos vermelhos” foram presos, revelando com minúcias as ações do grupo.

Encerraram-se assim, com um assassinato à traição e delações, as atividades dos “guerrilheiros vermelhos”, em quem a direção nacional do PCB e Luís Carlos Prestes depositaram – e continuaram a depositar ainda por algum tempo – as esperanças do prosseguimento da Revolução Nacional Libertadora.

Uma breve conclusão

O absurdo episódio das “guerrilhas” do PCB não está em desacordo com outras situações criadas pelo partido, também elas desconcertantes. Como explicá-las? Certamente, não pelo caminho de identificar incapacidades pessoais. Se a incapacidade é coletiva, sua explicação terá que passar pelo social.

Por que um grupo de pessoas, empenhadas em construir uma sociedade justa e fraterna, capazes de atos de coragem, desprendimento e dedicação, teve sua prática política eivada de erros, por vezes grosseiros, como os episódios que acabamos de relatar?

As respostas a essas questões envolvem uma análise de toda a sociedade brasileira em seus múltiplos aspectos, em suas relativas autonomias e em seu entrelaçamento. Não cabe aqui fazer essa análise que, de resto, demandaria um tempo de pesquisa muito maior do que aquele que temos hoje. Queremos apenas avançar algumas conclusões que nos orientam para o aprofundamento da questão, das quais já falamos em outro trabalho. (52)

Acreditamos que um dos dados relevantes para explicar certas atitudes dos comunistas foi a fraca representatividade e precária identidade do PCB no cenário político e social do país. Essa debilidade não chegou a ser compensada pelo peso histórico e moral de Luís Carlos Prestes, com seu ingresso no PCB. Não só Prestes continuou preso ao pensamento tenentista, como os setores mais avançados da sociedade, que se conectavam ao PC através de sua liderança, estavam, em especial na época de que tratamos, também fortemente influenciados pela mentalidade e pela ação tenentista, convencidos do papel democrático, indispensável e hegemônico das Forças Armadas na política nacional, em detrimento das instituições políticas da sociedade.

O voluntarismo inerente à mentalidade tenentista foi extremamente acentuado entre os comunistas. Ao lado desse voluntarismo, a inadequação PCB/classe operária e a inserção extremamente frágil dos comunistas na sociedade levaram o Partido a produzir representações distantes da realidade. Em tais condições, princípios doutrinários abstratos passaram a ser os principais pilares da justificativa de sua existência – e da resistência de seus militantes à ordem estabelecida.

Apesar do idealismo revolucionário de seus membros, o PCB viveu imerso no subjetivismo político. Tal posição foi menos um “defeito” do Partido do que resultado de seu objetivo enraizamento na atrasada cultura política da sociedade da qual era fruto. Creio que podemos colocar na afirmativa uma indagação de Eric Hobsbawm:

“Um partido não pode ser funcionalmente revolucionário num país em que a revolução simplesmente não está na ordem do dia e que nem sequer possui uma tradição viva de revoluções passadas”. (53)

Anexos

Instruções para o movimento guerrilheiro

As lutas dos guerrilheiros

Diretivas para as lutas camponesas e sua transformação em guerrilhas
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Referências bibliográficas

BRANDÃO, O. O proletariado frente à revolução democrática burguesa. In: CARONE. O PCB-1922-943. São Paulo: Difel, 1975. v.1. p.47-9.

HOBSBAWM, E. Revolucionários. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

ROCHA, L. R. Minha vida: memórias. Rio de Janeiro: 1987 (datilog.).

VIANNA, M. de A. G. Revolucionários de 1935 – sonho e realidade. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.

Notas

(1) Professora de pós-graduação da Universidade Salgado de Oliveira, no Mestrado em História, com concentração nas áreas de História do Brasil República.

(2) Vianna, 1992. Em novembro deste ano a EDUFSCar e o Arquivo Nacional lançarão uma coletânea de documentos, a maior parte inéditos sobre os episódios de 1935, da qual ao apresentados em anexo não fazem parte. Acreditamos que estes documentos são agora levados a público pela primeira vez.

(3) Brandão, “O proletariado frente à revolução democrático-burguesa“, 1975, v.1. p.47-9. As duas primeiras insurreições eram os dois 5 de julho de 1922 e de 1924.

(4) Bangu era o codinome de Lauro Reginaldo da Rocha, secretário-geral do PCB na ocasião.

(5) Rocha, Minha vida: Memórias, 1987, p.69.

(6)Idem, entrevista à autora, Rio de Janeiro, agosto de 1987.

(7) Miranda era o codinome de Antonio Maciel Bonfim, que a partir de 1934 até os levantes de novembro de 1935 foi o secretário-geral do PCB.

(8) Luís Carlos Prestes entrevista à autora, Rio de Janeiro, 1988.

(9) Queiroz, “Em vésperas da revolução no Brasil”. Informe apresentado à 3ª Conferência dos PCs da América Latina. Tradução do PCB da separata de La Internacional Comunista, n.5, p.426-44, abril de 1935.

(10) Informe de Caetano Machado sobre a região de Pernambuco, 14.04.1935.

(11) Harry Berger era Arthur Ewert, comunista alemão que veio para o Brasil pela Internacional Comunista, a pedido de Miranda, como assessor da direção do PCB, no início de 1935.

(12) 1) luta em frente única pela ampliação da frente; 2) organização do trabalho militar em torno da luta antiintegralista e contra a redução dos efetivos militares; 3) organização e desencadeamento de greves operárias nas cidades; e 4) desenvolvimento de lutas parciais armadas e de guerrilhas no campo.

(13) José, A nova ofensiva contra os cangaceiros e as massas camponesas do Nordeste. A Classe Operária, nº 186, Rio de Janeiro, 17.07.1935.

(14) A Classe Operária, nº 187, Rio de Janeiro, 31.07.1935.

(15) Bangu, “Como preparar e desencadear as lutas no campo”, A Classe Operária, nº 188, Rio de Janeiro, 12.08.1935. Os grifos são meus.

(16) Idem, A Classe Operária, nº 189, Rio de Janeiro, agosto de 1935.

(17) Luís Carlos Prestes, Manifesto de 5 de julho de 1935

(18) Carta de Luis Carlos Prestes a Agrícola, junho de 1935, Os grifos são meus.

(19) Carta de Luis Carlos Prestes a Trifino Correa 17.07.1935

(20) Carta de Luis Carlos Prestes a Aristides Leal, da mesma época.

(21) A ANL e a política do Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, 13.09.1935.

(22) Wilson, Informe do Ceará, dirigido a Severino e Mendes, em novembro de 1935.

(23) Informe de Mato Grosso, 11.8.1935.

(24) Ibidem.

(25) Ibidem.

(26) Informe de Lemos, de Natal, 12.11.1935

(27) Ibidem.

(28) O relato é feito com base em dezenas de depoimentos constantes dos processos 2,5,7,22 que se encontram todos no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

(29) Do depoimento de Cândido Lucio Bezerra, agricultor e analfabeto. TSN, Proc. nº 07. O depoimento é corroborado pelo de Antônio Silvestre de Araújo, ibidem.

(30) Manoel de Aguiar, Otávio Amorim, Amâncio Leite e Café Filho eram políticos da A.S. os dois últimos, deputados; José Mariano e os Reginaldo eram membros do PCB. TSN, Proc. nº 07.

(31) Ibidem.

(32) Depoimento do Manoel Feliciano Pereira. Proc. nº 05.

(33) Depoimento de Antonio Reginaldo da Rocha que, como Jonas Reginaldo, era irmão de Bangu. TSN, Proc. nº 05. Antonio negou depois o seu depoimento, que disse ter sido arrancado sob tortura pelo tenente Trindade.

(34) Depoimento de Gregório Pio de Mendonça, TSN, Proc. nº, v.3.

(35) Ibidem.

(36) Depoimento de Francisco Machado dos Santos, TSN, Proc. nº 5.

(37) Depoimento de Gonçalo Izidoro, TSN, Proc. nº 5.

(38) Trata-se do mencionado “Alemão”.

(39) Depoimento de Honório Máximo, TSN, Proc. nº 5.
(40) TSN, Proc. nº 2, v. 3.

(41) A Ordem, ano I, nº 53, Natal, 17.9.1935.

(42) Carta de A. Serrano, de recife, aos camaradas do Comitê Central, 16.1.1936.

(43) Carta de G (prestes) à direção do PCB. Eça era León-Julles Vallée, o responsável pelo fornecimento de dinheiro a Prestes e ao grupo da internacional.

(44) Depoimento de João Cosme Vieira, um dos voluntários civis para combater os “guerrilheiros”. O relato foi confirmado por outras testemunhas e, principalmente, por todos os acusados do fato, TSN. Proc.nº 5.

(45) Depoimento de Manoel Feliciano Pereira, TSN, Proc nº.5.

(46) Depoimentos das pessoas referidas. TSN, Proc.nº 5.

(47) Carta a Antonio Rodrigues da Comissão Executiva das Forças Libertadoras. Mossoró, fevereiro de 1936. TSN, Proc. nº 5.

(48) Ibidem

(49) Depoimento de Manoel Feliciano Pereira. TSN, Proc. nº 5.

(50) Ibidem

(51) Ibidem

(52) Vianna, Revolucionários de 1935 – sonho e realidade, 1992, p. 307.

(53) Hobsbawm, Revolucionários, 1985, p. 25.

Artigo publicado na revista Idéias, Campinas 4(1/2): 247-302, jan/dez, 1997