Leia entrevista a seguir:

CEDEM – Qual o significado do Partido Comunista para a democracia brasileira?

Luciana – Por significar a expressão política e ideológica de um projeto de emancipação do trabalho, seu papel na dinâmica econômica e social é essencialmente de luta pela democracia. Nessa condição, representa a continuidade dos processos de combate ao escravismo e dos primeiros saltos progressistas – a Independência, a Abolição e a República -, agora com a teoria da transformação nas estruturas de poder, tendo como o horizonte a emancipação de toda a sociedade. Ao mesmo tempo, travar a luta para a constituição de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, caminho para a materialização das grandes potencialidades do país em benefício de nossa gente. O PCdoB é uma força indispensável para a democracia brasileira, assim como, a democracia, é imprescindível para o Brasil.

CEDEM – Qual a relevância dos comunistas para a história política nacional?

Luciana – Desde que surgiu, em 1922, o Partido Comunista do Brasil é partícipe de quase todos os principais acontecimentos do país. Já no final da década de 1920, representava importante força política, embora não tenha participado da Revolução de 1930. Mas se agigantou no Levante de 1935 para combater o nazifascismo, que mostrava as garras no Brasil, pagando o preço do enfrentamento à ditadura do Estado Novo. 

Coroando essa luta, liderou a campanha pela Constituinte, aliado a outras forças – principalmente o movimento do então presidente da República, Getúlio Vargas, conhecido como “queremismo” –, que resultou na redemocratização do país, com a Constituição de 1946. Perseguido pelo governo do general Eurico Gaspar Dutra, com a cassação do registro e dos parlamentares, em 1947 e 1948, respectivamente, uma vez mais se ergueu para combater o arbítrio. 

Na década de 1950, atuando na semilegalidade, teve papel relevante na eleição presidencial de Juscelino Kubitscheck, em 1955. Quando o país caiu mais uma vez nas mãos de ditadores, com o golpe militar de 1964, de novo se apresentou para defender a democracia e a pátria, num movimento que teve como ponto de maior destaque a Guerrilha do Araguaia (liderada pelo PCdoB). Na segunda redemocratização, suas bandeiras tremularam nas ruas e praças, mostrando sua força política nas campanhas por eleições diretas e pela candidatura de Tancredo Neves, que enterrou a ditadura. 

Teve participação ativa na Constituinte de 1987-1988 e na campanha da Frente Brasil Popular (PT, PCdoB e PSB), liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e no combate ao projeto neoliberal, na década de 1990. Integrou os governos Lula e Dilma Rousseff, atuando na linha de frente contra o golpe de 2016. Atualmente é uma das principais forças políticas que lutam para resgatar o país das garras da extrema direita, representada pelo presidente da República Jair Bolsonaro (2019 – 2022).

CEDEM – A criação do PCB contribuiu com avanços para a sociedade brasileira. A senhora poderia falar sobre a influência do partido em questões que hoje parecem normais, mas que foram postas em prática por causa do PCB, como por exemplo os benefícios trabalhistas?

Luciana – Com a criação do Partido, os trabalhadores tiveram pela primeira vez um instrumento para realizar a luta política no Brasil. As conquistas democráticas e sociais do povo têm a influência dos comunistas. Já na década de 1920, o Partido liderou greves e organizou os trabalhadores. Ao prosseguir no caminho dos seus antecedentes, os anarquistas – e mesmo os que combateram o escravismo –, os comunistas podem ser considerados protagonistas de avanços civilizatórios de grandes proporções. Em toda essa trajetória, ao lado do trabalhismo, os comunistas contribuíram para a formação de uma legislação social e trabalhista com muitos avanços – além de outras questões democráticas para o povo, como a liberdade religiosa, assegurada na Constituição de 1946 por iniciativa da bancada comunista, e defesa da soberania nacional –, síntese dos ideais e lutas de sua trajetória de combate ao autoritarismo. 

CEDEM – Qual a força política do partido (PCdoB) na contemporaneidade?

Luciana – A trajetória marcada pela convicção estratégica de luta por uma nova sociabilidade socialista, a coragem e o amor ao Brasil e ao povo, confere ao Partido autoridade e força para prosseguir em sua jornada e missão históricas. Presente em diferentes frentes de lutas – trabalhadores, estudantes, antirracismo, movimentos sociais, mulheres e cultura –, destaca-se também no parlamento e nas articulações políticas para defender a democracia, o país e os direitos do povo.  

O partido é uma força que se destaca e é respeitada entre todas as correntes políticas, por sua visão estratégica sobre o país e sua condução tática. Procura contribuir, construindo saídas, abrindo veredas para a grave crise em que o Brasil se encontra. Neste sentido é que defende uma Frente Ampla para derrotar as forças que extrema direita que conduzem o país na atualidade. 

CEDEM – Qual o significado da preservação da memória para os comunistas?

Luciana – Significa preservar a memória do povo brasileiro. Lembrar que os alicerces do que o país avançou em termos democrático, social, econômico e soberano tem a ação, o suor e o sangue dos comunistas. É uma história de heroísmo, abnegação e elevado compromisso humanista, civilizatório. A memória dos comunistas é uma mola propulsora de um projeto de desenvolvimento nacional, com democracia e ampla participação popular.