Entrevista de Prestes a Ziraldo
Ziraldo entrevista Luiz Carlos Prestes em 1989, meses antes do falecimento do Cavaleiro da Esperança.
Em conversa muito descontraída, mais da metade do tempo, a entrevista tratou da Coluna Prestes que ora faz centenário. Ziraldo, impressionado com a figura histórica, pende por momentos aos temas pessoais, noutros aos temas da grande estatura política.
Prestes fala de sua vida com a família, com a mãe e as irmãs, no Rio de Janeiro. Narra condição de bom militar e sua ligação com a conspiração de 1922 — contra o presidente Artur Bernardes. E mostra que só não esteve na movimentação que levou à marcha do Forte de Copacabana, pois havia caído com uma febre tífica e ficou de cama.
Mas dois anos depois, já de volta ao Rio Grade do Sul, esteve à frente do levante que o colocou na direção da coluna que se juntou com as tropas de Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa. O entrevistado mostra grande generosidade com os companheiros de batalha citando nomes e contando seus feitos.
Conta detalhes de manobras e batalhas que evidenciam seu gosto e habilidade para a estratégia militar, como o próprio Ziraldo percebe.
Sua ida para a Bolívia proporcionou aprofundar seus conhecimentos sobre o marxismo, principalmente após a visita de Astrojildo Pereira que levou livros de Lênin, outros clássicos e o apoio do Partido Comunista do Brasil. Sua ida para Moscou após contato com a Internacional Comunista (IC) em Buenos Aires e Montevideo é citada junto com a amizade de Dimitri Manuilski (presidente da IC e responsável pela adesão de Prestes ao PC do Brasil).
Sua volta para o Brasil com Olga Benário é contada numa narrativa terna. Afirma, de forma autocrítica, que o levante de 1935 foi sua responsabilidade e não da IC; e desmente — mais uma vez — os assassinatos dos soldados legalistas enquanto dormiam: “Isso é mentira. Todo regimento em prontidão, como se ia matar alguém dormindo?”
No último bloco o tema gira para a situação da União Soviética em 1989. Já havia caído o muro de Berlim, mas a URSS ainda era uma realidade norteada pelos princípios da Perestroika. Prestes, com a sua convicção de defesa inconteste dos soviéticos, que já durava três décadas, faz a defesa daquele regime. Não haveria como ele saber que sua avaliação estava errada, já que faleceu antes do fim da URSS.
Mas há de se valorizar sua opinião de que o socialismo será uma realidade no século XXI.